Por João Valadares, do Valor — Em reunião de cúpula em Brasília, as principais lideranças do PSB sinalizaram, na noite de quarta-feira, que o partido está de portas abertas para receber o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano, prestes a sair do PSDB, passou a ser citado como possível candidato a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
O ingresso de Alckmin no PSB seria parte da estratégia para o início da construção de uma união considerada ainda pouco provável no meio político. Uma ala mais orgânica da legenda avalia que a entrada do tucano traria um custo ao partido e que, por isso, o PT poderia ceder como contrapartida mais espaço nos Estados diante do arranjo eleitoral.
Há uma semana, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), que se coloca na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, conversou por telefone com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, sobre a possível entrada de Alckmin na sigla. Setores do PT, após sinais emitidos por Lula, passaram a estimular a ideia e já consideram que Haddad pode disputar o Senado na chapa com França.

No encontro de quarta-feira, que debateu cenários de alianças regionais a partir da suposta filiação de Alckmin, estavam presentes os três governadores do PSB: Paulo Câmara (PE), Flávio Dino (MA) e Renato Casagrande (ES). Além de Carlos Siqueira, também participaram da reunião, na sede do partido em Brasília, o ex-governador de São Paulo Márcio França, o prefeito do Recife, João Campos, e o ex-deputado Beto Albuquerque, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul.
Um dos principais entusiastas da filiação de Alckmin ao PSB para integrar a chapa presidencial de Lula é Márcio França. Ele é pré-candidato ao governo de São Paulo. Sem Alckmin na disputa e com o apoio do PT, acredita que teria forças para derrotar o candidato do governador João Doria (PSDB), o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Fontes do PSB ouvidas pelo Valor lembraram que, em 2015, Alckmin teve uma conversa com Paulo Câmara em Brasília na tentativa de começar a construir uma aliança.Em 2016, o PSB apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Dois anos depois, o PSB de Pernambuco, com peso histórico nas decisões do partido, resolveu caminhar ao lado de Fernando Haddad na disputa presidencial. Nacionalmente, a legenda adotou a neutralidade e isolou o então candidato Ciro Gomes (PDT), que pretendia ter o apoio da sigla.
No início de outubro, em reunião com Lula em Brasília, integrantes do PSB apresentaram uma lista de seis Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Acre – considerados prioritários para a sigla nas eleições do próximo ano. A expectativa é de que, até o início do próximo mês, os focos de maior resistência regional estejam dissipados e a união entre as duas agremiações, já dada como certa nos bastidores, selada.

No PSB, há setores que ainda não descartam a possibilidade de o partido lançar candidatura própria, embora admitam ser pouco provável. “O importante é que o partido está conversando e analisando todos os cenários. Não é descartada ainda candidatura própria, quem sabe com o próprio Alckmin”, diz, em reserva, um interlocutor da legenda.
Algumas lideranças petistas passaram a estimular internamente a ideia de ter o tucano na chapa. O entendimento é de que, além de fazer um aceno ao mercado, a união representaria o fortalecimento dos laços democráticos do país na tentativa de derrotar o bolsonarismo. Algumas lideranças do PT olham com desconfiança o movimento em volta de Alckmin. Há também a possibilidade de o tucano migrar para o PSD, de Gilberto Kassab.
Em viagem pela Europa, Lula postou nas redes sociais, no início da semana, quatro mensagens em que confirma sua aproximação com o político do PSDB. O ex-presidente, que o derrotou no segundo turno da corrida presidencial de 2006, disse ter uma “extraordinária relação de respeito com o Alckmin”. “Fui presidente enquanto ele era governador. Não há nada que aconteceu entre nós que não possa ser reconciliado”, escreveu.