Por José Júnior
Há 25 anos, um dia após as celebrações de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, nascia o AfroReggae. O que, a princípio, era apenas uma festa de lançamento de um jornal, em pouco tempo, passou a ocupar também as vielas de Vigário Geral — favela que ficou marcada internacionalmente por uma bárbara chacina.
Poucos imaginavam que aquele seria o pontapé inicial de uma usina de transformação social. Utilizando como ferramentas principais a cultura, a arte e também a mediação de conflitos. Do Centro Cultural Waly Salomão saíram artistas e grupos culturais que levaram uma outra mensagem — que não a da violência — da favela para o mundo.
Durante esses 25 anos, desenvolvemos tecnologias sociais capazes de auxiliar o poder público no desafio de modificar a perversa realidade que aflige não apenas a Cidade “ainda” Maravilhosa, mas também o Brasil e diversos países espalhados pelos quatro cantos do planeta.
Através do “Projeto 2ª Chance”, realizamos uma das mais bem-sucedidas ações de ressocialização de apenados do país, garantindo não apenas emprego, mas também oferecendo condições para a reintegração efetiva e um novo direcionamento na vida dessas pessoas.
Oficinas culturais, outra marca registrada desses 25 anos de trabalho incansável, proporcionaram a complementação da educação escolar e o estímulo para que crianças e jovens prosseguissem no caminho certo. Campanhas de saúde contribuíram para a redução de doenças sexualmente transmissíveis, cooperaram com as ações das políticas públicas e permitiram a melhoria das condições de vida de muita gente.
O combate a todas as formas de discriminação e preconceito sempre nortearam o trabalho do AfroReggae.
Mediamos inúmeros conflitos em inúmeras favelas, impactando diretamente em melhores condições possíveis para os seus moradores, frente a uma realidade brutal, mostrando que utilizar como arma a cultura e a arte dá muito mais resultado do que um fuzil.
É preciso citar a boa relação que foi construída ao longo dos anos com os órgãos de segurança pública do Rio e do Brasil. Levou tempo, foi difícil; mas, enfim, houve a compreensão de que se não trabalhássemos juntos em prol de um único objetivo — a paz —, todos sairiam perdendo.
Muito foi feito, mas a estrada é longa, a batalha não tem fim, e muitos desafios ainda virão.
No momento em que a palavra intervenção está sendo muito utilizada e debatida em todo país e até no mundo, cabe ressaltar que esta sempre foi a tônica do AfroReggae. Intervir não com “tiro, porrada e bomba”, mas sim com cultura, arte, mediação e educação.
Se, em 25 anos de trabalho ininterrupto, não conseguimos evitar a chegada dos tanques de guerra, imagina se não tivéssemos começado?
Mas nada deve ser impossível de mudar. Afinal de contas, somos AfroReggae!
Salve a arte que nos salva.
Jose Junior é fundador do Grupo Cultural AfroReggae.







