Do G1 Pernambuco – O Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco (Satenpe) solicitou ao governo, ao Ministério Público (MPPE) e ao Ministério Público do Trabalho (MPT), a interdição urgente de duas salas da Unidade de Trauma da emergência do Hospital da Restauração (HR), no Recife. A entidade apontou, nesta segunda (17), que “há risco de contaminação por superfungo e superbactéria”.
No dia 12 de janeiro, foi anunciada a descoberta da presença do “superfungo” Candida auris em um paciente do HR, no bairro do Derby, na área central da cidade.
A microbiologista Camylla Carvalho de Melo disse que a identificação foi feita em um exame de rotina. No dia da descoberta, havia outros dois casos suspeitos em investigação laboratorial.

Nesta segunda, Satenpe divulgou imagens do teto da Sala Laranja I, que está no protocolo de pedido de interdição. A outra unidade que a entidade pretende interditar é a sala Amarela I.
Nesses dois lugares, segundo o secretário-geral do sindicato, Madiel Matias, os profissionais de saúde recebem pacientes para aplicação de medicamentos na veia, diagnósticos e curativos.
De acordo com o sindicato, “o teto está com presença de colônias de fungos entre outros microrganismos que podem ser nocivos à saúde”.
“Fizemos as imagens na tarde desta segunda. Estão colocando em risco os trabalhadores, pacientes e acompanhantes. Dias atrás, tivemos a confirmação de superfungo lá no HR. As autoridades precisam fazer alguma coisa”, declarou Madiel Matias.
No pedido de interdição, a entidade também solicitou a realização de serviços de limpeza terminal nos mobiliários e equipamentos utilizados no setor.
Outra exigência é a higienização dos dutos de ar-condicionado e teto. Além disso, houve o pedido para que os trabalhadores expostos aos riscos biológicos sejam testados para evitar possíveis casos de adoecimento.
“Até o início da noite desta segunda, não tínhamos recebido nenhum retorno sobre os pedidos de interdição. Tem que ser urgente”, afirmou o sindicalista.

O g1 entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, MPPE e MPT, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Também nesta segunda, o sindicato registrou imagens de corredores da Unidade de Trauma do Hospital da Restauração.
Os vídeos mostram infiltrações que ficaram ainda mais evidentes após as fortes chuvas que caíram na madrugada de sexta-feira (14), na capital pernambucana.
Nos vídeos, é possível observar teto sem forro em vários pontos. Há buracos e fios expostos. Outro risco mostrado foi o vazamento de água passando pela lâmpada.
“Na sala laranja 1, os pacientes permaneceram na sala alagada sem as devidas condições de higiene”, informou o sindicato.
Por meio de nota (confira íntegra do texto mais abaixo), o Hospital da Restauração afirmou que infiltrações causadas pelas chuvas provocaram a umidade nas placas de gesso.
Em outro vídeo, os sindicalistas apontam lixo acumulado em corredores que dão acesso aos setores de raio-X e tomografia. “Nesses locais, também existe o risco de exposição aos micro-organismos”, afirmou Madiel Matias.
No chão
Em 7 de janeiro, o sindicato denunciou que pacientes enfrentavam superlotação no HR. Vídeos gravados pela entidade mostraram doentes embaixo de uma pia, em um corredor nas proximidades do refeitório de funcionários.
Em um dos vídeos, apareciam duas pessoas sob a pia, à espera de atendimento médico. Nas imagens, também era possível observar doentes espalhados pelo corredor, deitados com papelão forrados no chão, sem os cuidados adequados e vulneráveis a contaminações.

Por causa do calor, acompanhantes são obrigados a abanar as pessoas que estão à espera do médico. Em nota, a unidade de saúde negou que pacientes são colocados no chão do local.
Resposta do hospital
O Hospital da Restauração se pronunciou, por meio de nota, sobre a denúncia do sindicato. Confira a íntegra do texto:
A umidade instalada em quatro placas de gesso na Sala Laranja da Unidade de Trauma foi em consequência de infiltrações causadas pelas últimas chuvas que ocorreram em nossa cidade. A equipe de Engenharia e Manutenção irá realizar o serviço de restauração das placas até o final da tarde de amanhã, tempo necessário para que as placas absorvam toda a umidade restante.
Como diz a própria nota do Santenp “o teto está (?) com presença de colônias de fungos, entre outros microrganismos, que podem ser nocivos à saúde”. Ou seja, é uma ‘suposição’ sem base técnica, já que a contaminação por super fungo (Candida auris) se dá por contato físico e os casos detectados no Hospital da Restauração ficaram restritos a enfermarias distantes do local e o único paciente infectado se encontra em isolamento com todos os cuidados sanitários que o caso requer.
As imagens dos tetos sem forro ocorrem por vários motivos. O prédio do HR tem mais de 50 anos de construído. Na época, não foram previstas várias intervenções, tais como: a ampliação de ramais telefônicos, cabeação para câmeras de segurança, internet, computadores, ar-condicionado, entre outros; além de tubulações de equipamentos adequados e atualizados em enfermarias, unidade de trauma, bloco cirúrgico, sala de recuperação, UTIs, entre outros.
Sobre ‘pacientes embaixo de pias’ nos corredores não correspondem à realidade. Nenhum paciente é colocado no chão, conforme já esclarecemos em nota anterior. São acompanhantes que ‘aceitaram’ posar para dar mais impacto às denúncias.
O HR lamenta e tem lutado para reaver leitos retaguarda que nos foram tirados por causa da evolução da pandemia. Mesmo em situação precária, todos os pacientes da Emergência Clínica são evoluídos e recebem o tratamento necessário para cada caso (O HR não fecha plantão e é a única referência SUS para esses pacientes). As Emergências Adulto e Pediátrica funcionam normalmente.
Perfil
O Hospital da Restauração foi fundado na década de 1960. É referência para atender casos de queimaduras graves, intoxicação exógena e por animais peçonhentos, vítimas de violência e do trânsito.
Por mês, a unidade realiza uma média de 180 atendimentos por dia na emergência e cerca de 130 atendimentos por mês de pessoas com queimaduras.







