O jornalista nicaraguense Carlos Fernando Chamorro, crítico do governo de Daniel Ortega, voltou para Manágua nesta segunda-feira (25). Filho da ex-presidente Violeta Chamorro, ele estava com a família na Costa Rica, para onde fugiu depois de receber ameaças.
Chamorro, de 62 anos, disse que voltou consciente dos riscos, dado que o país “não dá nenhuma garantia para que as dezenas de milhares de exilados que se encontram na Costa Rica possam regressar”.
— Estou retornando à minha pátria depois de quase 11 meses de exílio na Costa Rica, como cidadão e jornalista, para exercer meus direitos constitucionais — afirmou Chamorro, dono e diretor do jornal digital El Confidencial, após chegar ao aeroporto de Manágua.
Chamorro emigrou com a família para a Costa Rica em 20 de janeiro, segundo ele, por “ameaças extremas” contra sua integridade física, depois que o governo invadiu e fechou as instalações da redação do jornal El Confidencial.
O jornalista disse que exigirá que o governo devolva a posse do prédio do jornal digital e que suspenda a censura contra seus programas de televisão, cancelados em dezembro por denunciar e documentar a repressão em protestos antigovernamentais. Chamorro continuou a fazer transmissões com denúncias por meio de um canal virtual no YouTube.
As manifestações contra o governo de Ortega eclodiram em abril de 2018, sendo a princípio contra uma reforma da Previdência Social, mas logo se tornando um grande movimento pela renúncia de Ortega. A repressão do governo deixou 328 mortos e 88 mil exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e ainda há denúncias de opositores detidos arbitrariamente. Na semana passada, mães de alguns deles iniciaram uma greve de fome.
Chamorro é um dos filhos da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997), que governou durante o chamado período de transição democrática, após a revolução sandinista (1979-1990). Ele fundou El Confidencial em julho de 1996, quando o país preparava-se para as primeiras eleições de sua transição, quando sua mãe entregaria o poder democraticamente a um novo presidente.
— Sinto-me muito empolgado [por voltar], principalmente porque poderei abraçar e beijar minha mãe, que está em péssimas condições de saúde há vários meses. São momentos que quero viver intensamente — afirmou.
O jornalista também enfatizou que o exemplo de sua mãe e de seu pai, o também jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado em 1978 pela última ditadura de Somoza, “foi a força moral” que o sustentou “em tempos difíceis”.
Chamorro e um grupo de sete jornalistas e opositores que o acompanharam entraram em Manágua sem serem perturbados pelas autoridades de imigração.
Com informações de O Globo







