Por Lailson de Holanda
Depois de toda essa celeuma que foi criada nos últimos dias em torno de quem é responsável pelos incêndios na Amazônia, fiquei lembrando dessa charge que fiz em 1979, quarenta anos atrás, portanto.
Nos tempos da ditadura do Estado Novo, Monteiro Lobato foi considerado subversivo e preso por pregar que o Brasil tinha petróleo, coisa que incomodava aos donos do Poder mundial. O regime de Vargas estava atrelado a eles e por isso o Ministério das Minas e Energia não permitia que se perfurasse ou explorasse o produto em todo o território nacional.
Depois da guerra, constatou-se que de fato havia petróleo e um pouco antes do início do segundo governo de Getúlio, (que depois de deposto como ditador, voltaria como presidente eleito),surgiu a campanha “O Petróleo é Nosso”, sendo a PETROBRAS criada em 1953.
Durante aquela campanha, o Brasil ficou dividido entre os “nacionalistas”, que queriam a estatização da exploração do petróleo e os “entreguistas”, que queriam a participação de empresas estrangeiras no processo. Ganharam os nacionalistas e o monopólio estatal da exploração do petróleo só foi quebrado em 1995 , sendo viabilizado a partir de 1997.
As grandes empresas internacionais, no entanto, controlaram a maior parte do refino e da venda do combustível em todo o país, durante todo esse tempo.
A Amazônia sempre foi objeto de cobiça do capital internacional e nos anos 70 tivemos o Projeto Jari, do bilionário norte-americano Daniel Ludwig, que tornou-se o maior proprietário de terras do Ocidente, sendo dono de uma fatia do território do estado do Pará maior do que o estado de Sergipe.
Novamente a opinião pública iniciou uma campanha nacionalista contra ele e seu projeto, alegando que a “Amazônia é Nossa” e que os estrangeiros deveriam ficar fora dela.
Ludwig desistiu da sua ideia em 1982 e vendeu suas terras para o Grupo ORSA, que atualmente produz papel e celulose.
Mas as riquezas que existem no subsolo amazônico são o verdadeiro motivo de interesse dos estrangeiros. Metais raros, madeira, biodiversidade, fazem com que grupos estrangeiros sonhem com a possibilidade de uma “Nação Yanomami”, que, como bem avisou Orlando Vilas Boas, serviria para colocar toda uma enorme parte da floresta sob o controle de um futuro protetorado das nações ricas, que alegariam que o Brasil não reuniria condições de preservar os seus recurso naturais e, portanto, a Amazônia deveria ser internacionalizada e considerada patrimônio da humanidade.
Ao longo dos anos, mineradoras europeias, entidades norte-americanas e organizações internacionais que se propõem a ajudar e preservar o meio ambiente, foram se instalando em todo o território amazônico.
Além, é claro, de grandes latifundiários brasileiros, plantadores de soja, grileiros e criadores de gado.
Em 1970, de acordo com o INPE, 96% da floresta amazônica estava preservada. Agora são 85%, tendo sido a pior fase de exploração nos anos dos governos de FHC e de Dilma Rousseff.
Considerando que a população brasileira pulou de 90 milhões em 1970 para os atuais 215 milhões de habitantes, entre vegetarianos que comem derivados de soja e carnívoros que comem carne de boi, percebe-se que todos comeram um pouco dessa floresta ao longo dos anos.
Então, se queremos que a Amazônia seja de fato nossa, é hora de compreender que os governos e grupos estrangeiros não estão interessados em nosso bem estar e sim, nos lucros que podem obter com a divisão do nosso povo, que só beneficia a eles.
Se não compreendermos isso, vamos apenas ficar roucos gritando que “A Amazônia É Nossa” como gritávamos quando pensávamos que também fosse nosso o petróleo do Brasil.
Lailson de Holanda Cavalcanti é Jornalista, Cartunista e Músico