Por Melillo Dinis analista político do site Inteligência Política
Jair Bolsonaro e o seu núcleo próximo não aguentam mais a política. O resultado é que já foi tomada uma decisão. Ele vai enfrentar a política com “política”. Depois dos últimos episódios internos e externos, o limite do Presidente já deu. Não que seja uma ideia nova. Desde o começo houve dificuldades do bolsonarismo para ter uma expressão política. O PSL não lhe cabia bem. Nem outro. Isto aumentou a instabilidade. Basta analisar o conjunto de embates e conflitos entre projetos, processos e as instituições políticas neste período de 2019 para se certificar deste quadro.
Nada mudou no presidencialismo de colisão à Bolsonaro. Todavia, o populismo de combate necessita de uma expressão e a decisão foi criar “o” partido bolsonarista! O presidente, a família e o time sairão do PSL ainda em dezembro. Os procedimentos para a nova agremiação partidária já estão sendo adotados por quem entende dos procedimentos burocráticos e eleitorais. Pode-se reacender um partido já existente. Ou fazer algo totalmente novo (que leva entre 6 a 12 meses), mas que exige tempo, recursos humanos e dinheiro. Será um modelo original, mesmo que reciclado.
Há uma questão na imagem. Como todos que assistiram o vídeo do leão e das hienas já sabiam, virá aí um partido chamado de “Conservadores” ou “Conservadores Patriotas”. Quem está com a tarefa é Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente.
No centro do programa estará a moralidade cristã, a defesa da vida a partir da concepção, a liberdade e a propriedade privada e atuará na defesa do direito à legítima defesa individual, o combate à sexualização precoce e à apologia da ideologia de gênero, dentre outros temas caros a este grupo. Mas é o Presidente Bolsonaro quem está pilotando as decisões finais. Há um cardápio de caminhos possíveis, exceto o PSL que já teve encerrada a sua relação. Outra questão que move Jair Bolsonaro e seu grupo político é o sentimento de ingratidão ante tudo e a todos.
Tanto o crescimento do PSL (que realmente foi excepcional) em 2018, quanto os deputados e senadores eleitos são considerados devedores infiéis, em sua maioria, exceto um pequeno grupo disposto a se atirar na frente da faca de Adélio ainda hoje, com o sacrifício de sua vida e da lógica temporal. Mas no fundo, é do futuro que estamos falando aqui e será o centro das ações e soluções que darão reação política por meio da política.
O que muda? Haverá mais um no caldeirão de sopa de letrinhas que é a partidocracia à brasileira. Mas este agrupamento estará robustecido pelo movimento de apoio ao presidente e a sua própria liderança política. Pensa-se nas eleições municipais de 2020 mas o piloto tem sua mira em 2022. E além. O clã Bolsonaro é mais que o pai. Os filhos, além de formar uma família do barulho, desejam construir-se como uma opção tão permanente quanto puder alcançar sua ideologia e houver eleições. Não se espantem se, como decorrência deste movimento partidário, haja o sacrifício dos filhos de Bolsonaro de se submeterem as urnas e disputarem os principais colégios eleitorais do país, onde já detêm domicílio eleitoral (São Paulo e Rio de Janeiro) com o discurso de enfrentamento do “mal” pelo “bem”.
Mas a política terá o crescimento do movimento populista autoritário com emoção. Como sabem, o Inteligência Política trabalha com o duplo emoção-razão para analisar os fenômenos políticos. Desde Aristóteles até Hannah Arendt, passando por Cicero, Maquiavel ou Spinoza, vários pensadores já demonstraram o papel onipresente das emoções na política, cada um com suas diferentes teorias que relacionam o poder aos processos emocionais dos seres humanos.
Nessa toada, nos últimos anos, diversas lideranças, em um continente ou noutro, de perfil populistas, outsiders e/ou anti- establishment emergiram como reação a diferentes crises de representação política e de governabilidade nas democracias liberais, com a erosão da hegemonia das forças tradicionais, assim como seus modos de entender a política e o político. No centro, um conjunto de propostas defensivas e reacionárias, quando não atrasadas, assentado em um modelo de exclusão e construção de inimigos, aplicando uma política mais ou menos liberal.
Tais lideranças, como Jair Bolsonaro, comportam-se como movimentos que rompem com os modelos tradicionais, além de romperem com as tramas clássicas das disputas eleitorais, para passar a representar estados de ânimo e clamores gerais em lugar de interesses mais específicos. Não são necessários programas partidários ou eleitorais. Estes não tem muita relevância a não ser algo escrito no papel para registro. Os nomes nem fazem muito sentido destes movimentos. Se forem denominados de extremistas moderados serão aceitos pelos cidadãos, que se transformaram mais em rejeitores do que em eleitores.
A conjuntura que agrada estas lideranças é o da polarização e da desconfiança, enfim, da colisão, em que as lealdades decorrem muito mais das emoções (medo, indignação e escândalo) que de uma adesão racional a um projeto nacional.
Nessa quadra, o que for proposto e da forma como for proposto, com o nome que possuir, o novo partido de Bolsonaro será ao mesmo tempo política e antipolítica. Apostamos que a imprevisibilidade e as incertezas vão continuar como a marca e a essência dos próximos anos.







