*Por André Beltrão — A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa, já dizia um conhecido e consagrado pensador alemão. Acrescento que a história também pode ser repetir como comédia.
Trazendo esse pensamento para a realidade da micro política da eleição do Recife, a candidatura a prefeito do Dep. João Campos tem como alicerce a teoria do andor, onde o que importa não é o santo, mas quem carrega o andor.
Segundo a tese do andor, ninguém coloca muita fé no santo, já que não existem milagres conhecido do mesmo. No entanto, quem carrega o andor tem força, garante que o santo é bom e se ainda não exibiu seus dons milagreiros, pode vir a fazê-lo, segundo assegura os carregadores do andor.

A tese do andor foi adotada por Jarbas Vasconcelos na eleição para prefeito do Recife de 1988, aconselhado por conhecido marqueteiro. Naquela eleição, confiando na sua popularidade e nos altos índices de aprovação do seu governo, sem consultar seu grupo político e a base aliada, monocraticamente Jarbas Vasconcelos escolheu o Dep. Estadual Marcus Cunha como candidato a seu sucessor. Todos lembramos do resultado da eleição que projetou Joaquim Francisco na política pernambucana.
Na eleição de 2020, o Dep. Federal João Campos, eleito em 2018, com um currículo, que vamos chamar de modesto, uma vez que só ocupou cargos de confiança no governo do Estado do seu grupo político, teve sua escolha como candidato a prefeito no princípio dinástico. Assim, João Campos foi ungido candidato por sua mãe Renata Campos de Andrade Lima, que entende que na linha sucessória ele é o herdeiro político do governador Eduardo Campos.
As forças políticas, principalmente da base do governo em Pernambuco, afirmam que João Campos está no 2º turno e deve ser eleito prefeito. Essa tese parece plausível pelo apoio que vem recebendo dos conhecidos adesistas de todos os governos, que com o faro de cachorro policial, sempre se colocam do lado do poder e principalmente do provável ganhador. A explicação é a mesma do pragmatismo de resultados imediatos pelo poder que indica os rumos da política nos dias de hoje. É o histórico e conhecido adesismo da política brasileira. João Campos tem o apoio do governo do Estado e da Prefeitura do Recife e de suas respectivas máquinas administrativas de realizar ações e oferecer empregos. É inquestionável que o PSB, com as máquinas do Estado e da prefeitura do Recife tem demonstrado organização, profissionalismo e competência ao sair vitorioso em Pernambuco nas eleições desde 2004.

Acontece que a chegada do PSB à prefeitura do Recife na primeira eleição de Geraldo Júlio, teve como causa circunstâncias políticas conjunturais, mais do que propriamente méritos do candidato, já que o mesmo era um técnico secretário, desconhecido do mundo da política.
A eleição de 2020 tem circunstâncias políticas especiais diante da chegada ao poder pela Direita, representada por Jair Bolsonaro, com uma pauta conservadora radical dos costumes. A eleição de Bolsonaro contribuiu, vamos dizer que falando diplomaticamente, para a militância política envergonhada da Direita sair do armário. O PSB de Pernambuco, por outro lado, tem alianças políticas à esquerda, com a vice- governadora Luciana Santos sendo dos quadros do PC do B e secretários do mesmo partido na prefeitura do Recife. Além das dezenas de cargos ocupados pelo PT do senador Humberto Costa. Acrescento que os escândalos de corrupção com o dinheiro destinado para combater o coronavírus chega no gabinete do prefeito Geraldo Júlio. Quase semanalmente a Polícia Federal tem realizado operações policiais ou “visitas” na prefeitura do Recife. Acho difícil, por exemplo, explicar uma possível compra superfaturada de respiradores para seres humanos testados apenas em porcos.
Também um outro fato novo nessa eleição é a quantidade de jovens mulheres como candidatas a prefeita e a vice prefeita. De repente o eleitor pode concluir que é preciso testar uma mulher como prefeita do Recife. Por que não? Vai depender de como as mulheres candidatas defendam seu programa de governo para ganhar a confiança e o voto do eleitor.
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*Por André Beltrão, jornalista e analista político.