EXCLUSIVO, Por Ricardo Antunes — “Você é ladrão, e eu quero meu dinheiro de volta.” A frase do ex-prefeito de Água Preta, Noé Magalhães (PSB), ecoou em todo o sexto andar do luxuoso escritório de advocacia, localizado no Empresarial Cícero Dias, em Boa Viagem.
Do outro lado, à sua frente e completamente atônito, estava o advogado criminalista Ademar Rigueira, que tinha sido avisado da visita, mas não da surpresa que lhe fora preparada.
Conhecido pelo seu temperamento forte e pela fama de pouca conversa, o ex-prefeito levou como testemunha sua esposa para cobrar do advogado a devolução de cerca de R$ 2 milhões que havia pago em honorários.

“Se eu não estivesse com ela, o final teria sido diferente”, afirmaria ele, ao relatar a confusão a um interlocutor pouco depois pelo telefone.
A revolta do ex-prefeito é que um compromisso do advogado não tinha sido honrado: livrá-lo de uma condenação pelo Superior Tribunal de Justiça que o tornaria inelegível. Além disso, o político também não ficou satisfeito com a atuação do Ademar em Brasília e terminou contratando o advogado Nabor Bulhões.
Foi ele quem devolveu o mandato ao ex-prefeito, que, depois, acabou sendo cassado definitivamente em 23 de maio de 2024.

Advogado respeitado no eixo Recife/Brasília, onde tem amigos poderosos, Rigueira é réu por lavagem de dinheiro e exploração de prestígio, na Justiça Federal do Rio Grande do Norte.
Neste ano, na primeira sessão do ministro Flávio Dino, o STF manteve a tramitação da ação penal contra o advogado.
Ele é réu por suspeita de participar de um esquema que envolveria um magistrado aposentado, dois ex-assessores e um outro advogado. Ademar sempre negou todas as acusações.
O advogado também chegou a ser investigado por corrupção, mas essa acusação foi retirada do processo pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5).
Noé, por sua vez, foi preso em setembro do ano passado, por determinação do mesmo TRF-5. Ele acabou detido em flagrante por portar um fuzil e também é investigado por fraude em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro. Influente no PSB, o foi preso em sua residência, num prédio de luxo na orla do Recife.
Depois disso, foram idas e vindas na defesa do advogado. Além de Rigueira, ele contratou o defensor Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, um dos principais nomes da advocacia criminal brasileira.

O ex-prefeito chegou a conseguir um Habeas Corpus no STJ para deixar a prisão, em decisão monocrática do ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Ele, no entanto, não conseguiu voltar ao comando da Prefeitura naquele momento. Somente meses depois, em abril deste ano, o mesmo ministro devolveu o cargo ao ex-prefeito.
A vitória de Noé, todavia, se deu pela atuação de outro criminalista renomado: o advogado Nabor Bulhões, contratado em março deste ano. Isso teria motivado a discussão entre o ex-prefeito e Ademar Rigueira, que, segundo Noé, não cumpriu com o prometido.
Poucos meses após a decisão do STJ, que concedeu o HC, o Tribunal Superior Eleitoral reverteu uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco e decidiu cassar o mandato de Noé Magalhães e de seu vice eleito, Teodorino Alves Cavalcanti Neto.
A corte eleitoral declarou os dois inelegíveis por oito anos por abuso de poder econômico e compra de votos durante o pleito de 2020. Estima se que ele tenha gasto quase R$ 10 milhões de advogados.
Os que, supostamente não trabalharam, no entanto, terão que devolver o que foi pago ao ex prefeito. Ou por bem ou por mal, teria dito o ex gestor em várias rodas de gente grande da cidade.
O Outro Lado
Nós tentamos ouvir todos os citados, mas não conseguimos retorno. O espaço continua aberto, para que eles possam colocarem suas versões do ocorrido. E a matéria será atualizada.









