Por Fabio Leite e Fabio Serapião, da Crusoé — No rol de provas apresentadas na denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (foto) pelo suposto esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o Ministério Público fluminense anexou comprovantes de depósitos em dinheiro feitos na conta de Fabrício Queiroz que foram encontrados na casa de uma ex-funcionária do antigo gabinete do filho 01 do presidente Jair Bolsonaro.
Uma das 17 pessoas denunciadas pelo MP por envolvimento no suposto esquema que teria desviado 6,1 milhões de reais da Alerj, Flávia Regina Thompson da Silva, de 41 anos, é filha de um bombeiro amigo de Queiroz e esteve lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia por pouco mais de dez anos, entre julho de 2008 e dezembro de 2018.
Os promotores afirmam que Flávia Regina era uma das funcionárias fantasmas do gabinete que devolvia parte significativa do seu salário para o ex-deputado, compondo o chamado “núcleo executivo” da suposta organização criminosa. Os investigadores estimam que a ex-assessora tenha repassado 86% dos vencimentos que recebeu da Assembleia, cerca 690,6 mil reais.

O cálculo foi feito com base em um padrão de saques e depósitos realizados por Flávia Regina neste período. Segundo a denúncia, ela sacou aproximadamente 99% do salário. Em várias ocasiões, apontam os promotores, as datas e os valores coincidem, exatamente como Crusoé revelou em agosto, com os saques feitos por Queiroz e os depósitos efetuados por Flávio.
No dia 15 de fevereiro de 2016, por exemplo, Flávia Regina sacou 3.690 reais de sua conta. No mesmo dia, a conta de Queiroz recebeu um depósito com o mesmo valor. Segundo os investigadores, a ex-assessora costumava ficar com apenas 1,1 mil reais e retirava o restante em saques, quase sempre em menos de três dias após a data do pagamento feito pela Alerj.
Mas a maior prova dos repasses feitos a Queiroz foi encontrada pelo MP na casa de Flávia Regina, no bairro da Ilha do Governador, durante a busca e apreensão feita em dezembro de 2019. Trata-se de uma série de comprovantes bancários de depósitos em espécie realizados na conta de Fabrício Queiroz, cuja soma chega a 32,7 mil reais.
Há, por exemplo, um comprovante de depósito no valor de 6.218 reais no dia 6 de janeiro de 2014, que foi precedido por saques realizados nos dias 3 e 6 daquele mês. Outro de 5.800 reais lastreado em saques em espécie realizados na conta da assessora na mesma data. O último registro encontrado foi do dia 22 de agosto de 2018, no valor de 2.960 reais.

O MP também apreendeu na casa de Flávia Regina uma anotação manuscrita com o número da conta bancária de Queiroz no banco Itaú, na qual os depósitos em série foram feitos. Ela foi exonerada do cargo em dezembro de 2018, após a eleição de Flávio Bolsonaro ao Senado e a revelação das movimentações financeiras atípicas identificadas pelo Coaf na conta de Queiroz.
Durante o período em que esteve lotada no antigo gabinete de Flávio na Alerj, Flávia Regina foi funcionária fantasma, segundo o MP. Dados obtidos pelos investigadores com base nas localizações do telefone da assessora pelas antenas de celular mostram que ela passou a maior parte do tempo na Ilha do Governador, onde residia, a cerca de 20 quilômetros da Alerj.
De acordo com os dados, o aparelho celular de Flávia Regina foi utilizado por apenas 37 dias no raio de 750 metros de distância da Alerj ao longo de mais de quatro anos. Isso significa que a ex-funcionária de Flávio Bolsonaro compareceu, em média, apenas nove dias por ano na Alerj. O senador Flávio Bolsonaro nega as acusações feitas na denúncia do Ministério Público e disse que provará sua inocência. A reportagem não conseguiu contato com Flávia Regina.