Da Redação do Blog – Ardoroso defensor da torcida única em clássicos do futebol, implantada desde 2016 em São Paulo, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, defendeu a adoção da medida nacionalmente.
“É hora de avançarmos, inclusive ao nível nacional. As federações em todo o país precisam considerar seriamente a adoção dessa diretriz, com base em dados e evidências concretas. Uma postura unificada permitirá que o Brasil, sem abdicar de sua paixão, construa um futebol mais seguro, justo e digno de sua grandeza”, escreveu ele em texto divulgado pela FPF.
Sem mencionar os confrontos violentos das torcidas organizadas de Santa Cruz e Sport no dia 1º de fevereiro último, que resultaram em 13 prisões e 12 internações no Hospital da Restauração e em 42 mandados de prisão cumpridos pela Polícia Civil na quinta-feira (27), Evandro Carvalho ressalta que a torcida única contribui para a redução de conflitos nos estádios e nas suas cercanias.

O presidente da FPF reconhece que a torcida única é um remédio amargo, que sofre resistências das torcidas e da mídia, por implicar no fim da rivalidade sadia, das provocações criativas e do espetáculo das cores nas arquibancadas, mas ressalta ter um objetivo que considera inegociável; “preservar vidas e garantir que o futebol volte a ser, acima de tudo, uma festa”.
Junto com seu texto, Evandro Carvalho divulgou ofício que recebeu da Secretaria de Defesa Social no qual a secretária executiva Dominique de Castro Oliveira ressalta que a determinação da FPF pela torcida única “tem se revelado uma estratégia eficiente na redução da violência nos estádios e em suas adjacências”.
Veja a íntegra do texto do presidente da FPF.
Torcida Única: Remédio Amargo, Mas Transformador
O futebol brasileiro é uma paixão que ultrapassa gerações e pulsa no coração de milhões de torcedores. É festa, tradição, identidade e pertencimento. No entanto, a violência que, infelizmente, tem contaminado os dias de jogos vem ameaçando essa celebração coletiva e afastando das arquibancadas aqueles que mais simbolizam o espírito do futebol: as famílias, as crianças e os torcedores comuns.
A adoção da torcida única surgiu como uma medida dura, mas necessária. Não se trata de extinguir a festa, mas de resgatar a sua essência. Desde que foi implementada em estados como São Paulo e, mais recentemente, em Pernambuco, a medida tem apresentado resultados concretos e significativos.
Em São Paulo, quando a torcida única passou a vigorar nos clássicos, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) registrou uma redução significativa nas ocorrências de confrontos nos dias de grandes jogos. Em Pernambuco, dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) já indicam que, após a adoção da medida em clássicos e partidas de maior apelo da Copa do Nordeste, houve uma diminuição nas ocorrências de violência associada aos estádios e nas imediações nos dias de jogos.
A Federação Pernambucana de Futebol (FPF), ao lado do Ministério Público de Pernambuco e da Secretaria de Defesa Social, assumiu a responsabilidade de liderar essa transformação. A decisão, ainda que não seja unânime entre torcedores e imprensa, tem um objetivo inegociável: preservar vidas e garantir que o futebol volte a ser, acima de tudo, uma festa.
É importante reconhecer que o futebol perde, sim, algo simbólico sem as duas torcidas. A rivalidade sadia, as provocações criativas e o espetáculo das cores nas arquibancadas sempre foram parte da cultura do nosso esporte. Nenhum dirigente desconhece esse valor. Todos somos torcedores e sabemos o peso emocional de ver os dois lados representados nas arquibancadas. Mas, diante dos dados e da realidade, a proteção à vida deve sempre prevalecer.
Os resultados não estão apenas nas estatísticas, mas também nas imagens que voltaram a ser frequentes nos estádios pernambucanos. Crianças retornaram às arquibancadas, famílias inteiras ocupam os assentos sem medo, idosos e pessoas com deficiência têm se sentido mais seguras. A atmosfera nos estádios tem sido mais leve e familiar, onde o que realmente importa é o espetáculo em campo — e não os confrontos fora dele.
Outro efeito positivo está na segurança pública. A torcida única permite uma atuação mais estratégica das forças policiais, que já não precisam mais mobilizar centenas de homens para escoltas, caravanas ou barreiras urbanas em diversos pontos da cidade. Esse modelo já mostrou que, além de proteger, também otimiza recursos, permitindo que a Polícia Militar concentre seu efetivo diretamente na proteção dos torcedores e na manutenção da ordem nos estádios.
É essencial reafirmar: a torcida única não é uma punição ao torcedor de bem. Pelo contrário, ela existe justamente para proteger a imensa maioria que ama o futebol, contra uma minoria que insiste em usá-lo como pretexto para a violência.
A FPF segue comprometida com a paz nos estádios e com a valorização da experiência do torcedor. Continuaremos apoiando todas as iniciativas que fortaleçam a segurança e a convivência saudável, como a ampliação do uso de reconhecimento facial, o cadastramento de torcedores e a modernização da gestão dos eventos esportivos.
A presença das duas torcidas é um ideal a ser buscado, mas não podemos permitir que o futebol siga refém do medo e da violência. Quando as condições permitirem, todos desejamos que ambas as torcidas possam voltar juntas às arquibancadas. Até lá, é preciso garantir que o futebol continue sendo acessível, seguro e alegre para todos.
É hora de avançarmos, inclusive em nível nacional. As federações em todo o país precisam considerar seriamente a adoção dessa diretriz, com base em dados e evidências concretas. Uma postura unificada permitirá que o Brasil, sem abdicar da sua paixão, construa um futebol mais seguro, justo e digno da sua grandeza.
A torcida única não é o fim da festa. É o início de um novo momento — mais consciente, mais humano e mais comprometido com a vida.
Recife/PE, 28 de março de 2025.
Evandro Carvalho – Presidente da Federação Pernambucana de Futebol









