Por Heitor Mazzoco e Marcelo Godoy, do Estadão – Antigos aliados do presidente nacional do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) e articuladores informais da legenda de Pablo Marçal são acusados de trocar carros de luxo por cocaína para o Primeiro Comando da Capital (PCC), financiando o tráfico de drogas e dividindo os seus lucros. É o que revela uma investigação da Polícia Civil que envolve Tarcísio Escobar de Almeida, ex-presidente estadual do PRTB, partido pelo qual o influenciador digital disputa a Prefeitura de São Paulo, e Júlio César Pereira, o Gordão, sócio de Escobar que também participou de eventos do PRTB.
Escobar e Gordão eram homens de confiança de Leonardo Alves Araújo, o Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB e fiador da candidatura de Marçal. No dia 18 de março, Avalanche nomeou Escobar para ocupar a presidência estadual da legenda em São Paulo, mas ele ficou apenas três dias no cargo, sendo afastado, oficialmente, porque “não tinha título de eleitor”. Mesmo assim, Escobar continuou a se apresentar como presidente estadual do partido em reuniões políticas até o caso ser revelado pelo Estadão em maio. Escobar chegou a participar de eventos com a presença de Marçal, que se filiou ao PRTB em 5 de abril e teve sua pré-candidatura confirmada pela legenda em 24 de maio.
Apesar da atuação nos bastidores, Escobar e Gordão não foram vistos em agendas públicas do candidato do PRTB na campanha eleitoral, como debates, sabatinas e caminhadas pela cidade.
Procurados pela reportagem, os acusados negaram qualquer ligação com a facção criminosa. Avalanche disse ter rompido com Escobar após as primeiras reportagens do Estadão. Depois da publicação da reportagem, Marçal comentou pelas redes sociais não pedir “certidão negativa de ninguém. Já tirei 20 mil fotos nessa campanha”. Em entrevista recente, antes do debate na TV Band, ele disse que Avalanche é quem devia explicações.
Escobar e Gordão foram indiciados pela polícia em 2023. As investigações continuam. Tudo começou em 6 de agosto de 2020, quando os policiais apreenderam com Francisco Chagas de Sousa, o Coringa, dono de uma adega na zona leste de São Paulo, uma arma, drogas, um telefone celular e um pendrive. Segundo a polícia, no pendrive havia “material relacionado ao controle de integrantes do PCC”.
A 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital autorizou a continuidade das investigações, que acabaram revelando que Coringa atuava “diretamente” no tráfico interestadual. Ele usava automóveis como forma de pagamento de drogas que adquiria no Paraná e para transportar entorpecentes aos seus “clientes”, traficantes “em larga escala” na Paraíba e em São Paulo. Nas conversas telefônicas de Coringa os policiais acharam ligações para Gordão.