*Por Eduardo Cunha — Estou de volta ao Poder360. Depois de me afastar de escrever por aqui durante o processo eleitoral por questão ética e por política editorial, constato que as eleições realizadas em 2 de outubro trouxeram muitas lições, em parte corroborando o que já escrevi em artigos anteriores.
Um dos pontos mais contestados do resultado das eleições foi o fiasco das pesquisas eleitorais. As divulgações dos resultados visavam a derrotar Bolsonaro em 1º turno, com o aval da grande mídia do país. Esse quadro já era visível no artigo “Pesquisas ‘fakes’ são um risco para a integridade das eleições”, publicado em 18 de julho de 2022 neste jornal digital, quando escrevi sobre a necessidade de mudanças nas regras dos levantamentos.
Sempre achei que Bolsonaro deveria pedir a seus apoiadores que não respondessem às empresas que fazem pesquisas. Na prática isso já vinha ocorrendo, principalmente com o Datafolha, prejudicando os resultados mesmo que não houvesse manipulação.
A irritação é tão grande que os erros não foram registrados só nas eleições presidenciais. Na eleição de governador do Rio, o Datafolha deu 44% dos votos válidos para Cláudio Castro (PL) na véspera. No dia, ele ganhou com quase 59% dos votos válidos. E as eleições de governador e senador em São Paulo? Pelas pesquisas, Fernando Haddad (PT) teria sido o 1º lugar e Márcio França (PSB) eleito senador. O resultado foi que Tarcísio de Freitas (PL) ficou 1,5 milhão de votos na frente de Haddad e Márcio foi derrotado por 3,2 milhões de votos.
Ou seja: o Congresso acerta, sim, ao querer instalar uma CPI para investigar essas manipulações ou colocar regras rigorosas.
Acho que deveríamos até mesmo ter uma agência reguladora para controlar essas empresas, com o poder de dar autorização para a sua existência ou de cassar o seu registro.
Empresas têm de ter metodologias aprovadas e estatísticos responsáveis, que possam ser responsáveis civilmente e criminalmente por alguma manipulação. Não podem ser um monte de sopa de letras que ninguém nunca ouviu falar, divulgando levantamentos a serviço não sabemos de quem. Há empresas que talvez não vendam pesquisas, mas apenas resultados.
Faço aqui uma ressalva em relação ao PoderData, empresa de pesquisas ligada a este jornal digital Poder360. No seu último levantamento sobre o 1º turno da disputa presidencial, iniciado 7 dias antes do pleito, o PoderData deu 48% de intenções de voto para Lula. Estava certo. Bolsonaro, na mesma pesquisa a uma semana do pleito estava com 38%. Com a margem de erro de 1,5 ponto poderia ter até 39,5%. Acabou recebendo 43,2%, uma diferença de 3,7 pontos (aceitável para um estudo realizado com 7 dias de antecedência e considerando que o presidente estava em trajetória de alta).
BOLSONARO MOSTROU SUA FORÇA
Hoje, algumas pesquisas chegam a colocar Bolsonaro com menos votos no 2º turno do que teve no 1º, nas eleições de fato. É muita cara de pau. Fingem esquecimento.
Se darão mal de novo: o eleitor está decidido e as diferenças entre os candidatos são grandes demais. Não haverá um só eleitor que mudará seu voto de Bolsonaro para Lula por querer estar do lado que a mídia prefere.
Bolsonaro mostrou sua força na eleição. Além de ter mais votos 1º turno do que na eleição de 2018, elegeu candidatos que antes não tinham qualquer votação.
Ele já é o vencedor da eleição, independentemente do resultado final. Conseguiu implementar uma base de apoio, com ideologia bem definida, muito maior do que o próprio PT o fez nos seus 4 mandatos presidenciais, vencidos por Lula e Dilma Rousseff, que foi seu poste depois.
Essa força de Bolsonaro, somada à força do próprio Lula, é o que impediu qualquer possibilidade de uma 3ª via na eleição. Quem vem acompanhado meus artigos já conhecia esse quadro: a eleição estava tão polarizada que poderia até mesmo acabar em 1º turno, pela desidratação dos demais candidatos.
Sempre disse que Ciro Gomes, em sentido de figuração, acabaria atrás do Cabo Daciolo. Como Daciolo não disputou a sucessão ao Planalto, Ciro acabou atrás de Simone Tebet, que agora está atrás de um emprego com Lula. Sem votos para se reeleger no seu Estado, ela disputou a Presidência para perder e sair por cima.
PROBLEMAS NO SISTEMA
A campanha de 2º turno é mais longa que as anteriores. Serão 4 semanas em vez de 3. O início dos debates em 16 de outubro, na Band, dará o tom da disputa. Ninguém ganha eleição em debate, mas pode perdê-la, caso cometa um deslize ou se saia mal em uma provocação.
Nas ruas, a campanha estará fria, como esteve em todo o 1º turno. Isso vale para todas as disputas, não só a presidencial.
A falta de dinheiro para financiar as atividades de rua nos leva a outro debate sobre o financiamento eleitoral.
Eu já havia dito aqui que essas eleições seriam as mais caras da história, principalmente depois da criminalização da política promovida pelo ex-juiz fake Sergio Moro. As causas disso são o fim das doações privadas e um fundo público altíssimo, mas insuficiente para financiar as eleições. O fim das coligações proporcionais aumentou o número de candidatos.
Abro parênteses aqui: parece-me um absurdo que Sergio Moro teve a sua irregular transferência de domicílio para São Paulo impedida pela Justiça –e não recorreu, mudando a candidatura ao Paraná– mas sua mulher tenha conseguido ficar em São Paulo.
Se o domicílio do Moro era irregular, o de Rosangela Moro também não era? Se houve fraude, ela foi feita para os 2. Como ela não foi questionada judicialmente por ninguém, a candidatura foi adiante. Moro conseguiu 2 empregos públicos para seu benefício. É um acinte para quem quer pregar o combate a corrupção.
Voltando às eleições: o fim das coligações proporcionais sem a adoção do chamado voto distritão, em que os mais votados seriam os eleitos, trouxe muitos absurdos. Detalharei isso em artigos posteriores –hoje, o espaço limitado não me permite. Mas é certo que candidatos bem votados perderam as eleições para outros menos votados. Há Estados onde só 3 partidos atingiram o quociente eleitoral. As vagas foram distribuídas entre eles e candidatos mais bem votados ficaram de fora.
Vamos também constatar que a maior parte do Fundo Eleitoral foi gasta com candidatos que não se elegeram. O distritão poderia ter evitado esse desperdício de dinheiro público, pois teríamos muito menos candidatos na eleição.
Teremos de novo um Congresso em que grande parte dos integrantes teve menos votos do que candidatos não eleitos. Não adianta pregar que isso é bom para o país porque reduz o número de partidos. Na verdade, o que diminui o número de partidos é a cláusula de desempenho, que deve ser mantida e ampliada na próxima eleição, acabando com os partidos de aluguel e sem votos.
Mas a realidade, já constatada em pesquisas, é que de 70% a 90% dos eleitores, dependendo do Estado, não lembrarão em 2026 de quem votaram para deputado em 2022. Simplesmente porque a maior parte dos votos foram dados a candidatos que não se elegeram.
A história de que se vota em um candidato e acaba-se elegendo alguém quem você jamais escolheria continuou. Esse sistema é um verdadeiro estelionato eleitoral –agora, pior, financiado com dinheiro público.
Torço para que possamos mudar o sistema eleitoral, além de, claro, colocar um freio nos erros em pesquisas e na manipulação da informação daqueles que são concessionários públicos, mas agem como se fossem “capitalistas da política”. Deformam o processo eleitoral tentando impor a derrota dos seus adversários na marra, não importando os meios.
Não se trata da regulação da mídia defendida por Lula – aliás, não contestada por eles até hoje, pois, como querem derrotar Bolsonaro, escondem todas as baboseiras pregadas pelo PT. Até porque sabem que Lula não conseguirá fazer isso. Não terá poder e nem autonomia, pois deverá a sua eleição a quem prega regular.
Falo simplesmente da Lei Eleitoral ser mais rígida para evitar essa manipulação, obrigando a equanimidade da divulgação. E assegurando o pleno direto de resposta para cada campanha eleitoral disfarçada, feita principalmente pela Globo.
E vamos às eleições no dia 30. Veremos as pesquisas errarem mais uma vez, com a vitória de Bolsonaro e o enterro do PT.
_______________________________________________________
Eduardo Cosentino da Cunha, 64 anos, é economista e ex-deputado federal. Foi presidente da Câmara em 2015-16. Ficou preso preventivamente pela Lava Jato de 2016 a 2021. Em 2021, sua prisão foi revogada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.








