Por Ricardo Antunes – De origem humilde, negro, deficiente físico o ex-deputado Vicente André Gomes encontrou no pai, o também médico Moacyr André Gomes, um exemplo. O texto é do colega José Adalberto Ribeiro e vai com o áudio exclusivo que recebi agora de Daniel André Gomes.
Não deixa de ser a expressão da dor de um filho para aqueles que, como Bolsonaro, fazem pouco caso do que estamos vivendo.
*Por José Adalberto Ribeiro:
“Pai do céu, salvai a vida do meu filho!” Esta foi a oração paternal de Moacir André Gomes, abraçado com uma árvore, no quintal da casa da mãe dele, dona Anunciada Figueiredo André Gomes, na Estrada Arraial, durante o doloroso parto da mulher Genny Leite André Gomes. As árvores têm alma, já dizia o poeta Augusto dos Anjos, dos arcanjos e dos pecadores. Assim a gameleira frondosa ouviu a prece do pai Moacir e a encaminhou ao Criador. O parto era de alto risco. A criança estava enlaçada pelo cordão umbilical e nasceu a fórceps.
O bebê Vicente Manoel Leite André Gomes foi salvo pela Providência Divina, os fluidos da abençoada gameleira e as mãos prestimosas da parteira, no dia 16 de janeiro de 1956, na casa número 3734 da Estrada do Arraial. Na vida intrauterina, o cordão umbilical deu um nó no braço esquerdo do feto, na altura do cotovelo, o que impediu a circulação de sangue e atrofiou o crescimento dessa parte do corpo. Por um acidente de formação congênita, o bebê nasceu sem o antebraço e sem a mão, apenas com a primeira parte do braço esquerdo.
A luta pela superação começou logo na vida intrauterina. Eis o primogênito do casal Moacir e Genny Leite André Gomes, neto de Dona Anunciada Figueiredo André Gomes e do doutor Vicente André. Para celebrar a dádiva da vida, o pai Moacir, acadêmico do quinto ano de Medicina aos 29 anos de idade, fez uma promessa: jurou que depois de formado iria exercer a profissão sem nunca cobrar uma consulta de ninguém. Fez a opção pela Medicina Social como sacerdócio.
Este foi o “Juramento de Moacir André Gomes”, mais solene que o Juramento de Hipócrates que faria um ano depois na tradicional Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. O pai Moacir morava nos fundos da casa da mãe, a viúva Dona Anunciada, em Casa Amarela. Ao se formar em Medicina, feito o “Juramento de Hipócrates” e para cumprir o “Juramento de Moacir”, montou o CEMOP – Centro Médico Odontológico do Povo.
Atendia a população de Casa Amarela e adjacências, na base do “Deus lhe pague!”. Depois de Vicente, a família cresceu e houve quatro filhos, dois meninos e duas meninas. E mais, o casal adotou dois filhos: o menino “Fusquinha”, que vivia nas ruas da Casa Amarela, de nome Wilson Souza, hoje funcionário do Estado, e José Luís da Silva, já falecido. De consciência tranquila ao ouvir o “Deus lhe pague!” e cumprir a promessa de exercer o sacerdócio da Medicina, precisava garantir o pão e leite das crianças. E assim foi trabalhar no INSS e na Polícia Federal.
Ser negro e médico na década de 1950 já era uma vitória social. Vicente revela que Moacir sempre foi seu ídolo e seu guru. Por isso resolveu cursar Medicina e ingressar na política. Formou-se em Medicina em 1978, pela Faculdade de Ciências Médicas. Ingressou na política em 1982 e atualmente exerce o 6º. mandato de vereador, tendo sido deputado federal de 1995 a 1998.
A fidalguia em pessoa com um coração de ouro, Moacir exerceu cinco mandatos de deputado estadual e faleceu aos 87 anos, em 2013. Dona Geny faleceu há 2 anos. Camarada rochedo, este menino o filho do doutor Moacir André Gomes e de Dona Geny é um vitorioso na vida e na política.
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*José Adalberto Ribeiro é jornalista







