Do Estadão — A Polícia Federal prendeu nesta sexta, 26, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, investigado no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos no País. Ele foi detido em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Segundo apurou o Estadão, a PF viu chances de que ele se dirigia à fronteira e pudesse deixar o País em direção ao Paraguai.
Eustáquio mantém um blog em que defende medidas e propostas caras ao Planalto, suas publicações são replicadas pelos filhos do presidente nas redes sociais. Em uma de suas lives, um ativista insinuou que o deputado federal Jean Wyllys teria tido contato com o esfaqueador do presidente, Adélio Bispo. Perante a Polícia Federal, o homem não sustentou a versão.

O blogueiro foi detido no inquérito que levou à prisão a extremista Sara Giromini, solta nesta semana após dez dias de prisão provisória. Ambos são investigados por integrar núcleo de suposta organização criminosa que visa obter ganhos econômicos e políticos com a divulgação e coordenação de atos antidemocráticos no País. O inquérito sigiloso está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Além dele, outras seis pessoas já foram presas durante a investigação a pedido da Procuradoria-Geral da República, incluindo Sara.
Pelas redes sociais, Oswaldo afirmou que o seu ‘núcleo de jornalismo investigativo’ estava na fronteira com o Paraguai para desvendar o ‘segredo do sucesso’ do País no combate ao novo coronavírus, afirmando que seria a abertura do comércio.
Oswaldo foi condenado em fevereiro a indenizar o jornalista Glenn Greenwald por ter ofendido a mãe dele, Arlene Greenwald, que morreu em dezembro vítima de um tumor no cérebro. Meses antes, o militante postou nas redes que a doença da mãe de Glenn era mentira. A mulher dele, Sandra Terena, é secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Associação criminosa.

O inquérito que apura atos antidemocráticos foi aberto em abril a pedido da Procuradoria-Geral da República. Foi no âmbito desta investigação que Sara Giromini foi presa provisoriamente desde o dia 15 de junho. No dia 14, Moraes autorizou a soltura da apoiadora bolsorista, mas determinou o uso da tornozeleira. Sara só pode sair de casa para trabalhar ou estudar, mantendo distância mínima de 1,5 do Congresso e do STF. Com a medida cautelar, a extremista está proibida de participar de atos ou manifestações que tem sido conduzidas pelo grupo que liderava, o ‘300 do Brasil’.
As medidas cautelares se estendem a outros cinco investigados do inquérito, que também foram detidos. Em decisão tornada pública na segunda, 22, Moraes mencionou trechos de manifestação sigilosa da PGR que apontam a ‘real possibilidade’ de atuação de uma associação criminosa voltada para a ‘desestabilização do regime democrático’ com o objetivo de obter ganhos econômicos e políticos.

“Os indícios apresentados na manifestação apresentada pela Procuradoria-Geral da República confirmam a real possibilidade de existência de uma associação criminosa”, escreveu Moraes, em decisão que autorizou buscas e apreensões contra apoiadores do governo.
O sigilo bancário de dez deputados e um senador, todos bolsonaristas, foi quebrado. A PGR identificou vários núcleos ligados à associação criminosa, sendo eles ‘organizadores e movimentos’, ‘influenciadores digitais e hashtags’, ‘monetização’ e ‘conexão com parlamentares’.
Na avaliação da Procuradoria, os parlamentares ajudariam na expressão e formulação de mensagens, além de contribuir com sua propagação, visibilidade e financiamento. “Os frequentes entrelaçamentos dos membros de cada um dos núcleos descritos acima indiciam a potencial existência de uma rede integralmente estruturada de comunicação virtual voltada tanto à sectarização da política quanto à desestabilização do regime democrático para auferir ganhos econômicos diretos e políticos indiretos”, apontou trecho da manifestação da PGR reproduzida por Moraes. A Procuradoria destacou a existência de ‘abusos e crimes que precisam ser apurados’ no caso.