Do Boatos.org — Em meio a diversas questões como inflação recorde e mais uma triste marca alcançada pela Covid-19 no Brasil, um assunto ganhou espaço na pauta política: a distribuição de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Depois que o presidente Jair Bolsonaro vetou a distribuição gratuita de absorventes para estudantes carentes, mulheres em situação de pobreza e presidiárias, um debate sobre a questão foi acendida no meio político e nas redes sociais. Entre acusações de parte a parte, uma “tese surgiu na internet”: de que tudo seria um plano para beneficiar um bilionário.
Uma mensagem aponta que o PL 4968/19 é de autoria da deputada federal Tabata Amaral e que a motivação para o projeto seria o fato de seu “financiador” Jorge Paulo Lemann ser dono da Procter & Gamble (P&G), uma “fábrica de absorventes”.

Leia algumas das versões da mensagem que circula online:
- Versão 1: ENTENDA! TABATA AMARAL FINANCIADA PELO BILIONÁRIO PAULO LEMANN APRESENTOU PL DOS ABSORVENTES PARA FORÇAR O GOVERNO ADISTRIBUIRESSE PRODUTO coincidentemente o bilionário tem participação NAEMPRESAP&G QUE FABRICAABSORVENTES Brasil
- Versão 2: Tabata Amaral criadora da PL dos absorventes teve sua campanha financiada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, que por coincidência pertence á empresa P&G que fabrica absorventes
- Versão 3: Você Sabia??? Tábata Amaral Lemann O empresário Lemann apoiador da deputada Tabata Amaral que criou o projeto dos Absorventes é um dos donos das 2 fábricas de absorventes no Brasil??? Pois é… ela está preocupada mesmo com as mulheres pobres, né não???
Não demorou muito para a tese ganhar força entre grupos de pessoas que querem, por assim dizer, “limpar a barra de Bolsonaro” na história. Porém, a teoria da conspiração de que “tudo é um plano” para enriquecer quem é muito rico não se sustenta por “alguns detalhezinhos”.
Antes de falar do caso em si, vamos a detalhes que começam a entregar a farsa. O texto em questão tem características de fake news como o caráter alarmista, os erros de português e a falta de citação de fontes confiáveis que comprovem a informação. Além disso, ao buscar por fontes confiáveis (ou, pelo menos, isentas) sobre a tal “ligação”, nada encontramos. Resolvemos buscar pelas afirmações da mensagem. Logo vimos que a teoria da conspiração tinha, por assim dizer, alguns elos quebrados.

Para começar, a PL que institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual não é de autoria de Tabata Amaral. Como aponta a própria página do projeto na Câmara dos Deputados, a autoria do projeto é da deputada federal Marília Arraes. Há, ainda, o nome de outros co-autores. Tabata Amaral não está entre eles.
Além disso, Jorge Paulo Lemann, considerado o segundo brasileiro mais rico do mundo, não é dono da Procter & Gamble. A empresa multinacional é responsável por diversos produtos de higiene pessoal (não apenas absorventes) e tem como CEO o norte-americano Davis Scott Taylor. Na página da empresa, há o nome de membros do Conselho de Administração. O nome de Jorge Paulo Lemann não está entre eles.
Ao buscar pelas “empresas de Jorge Paulo Lemann”, não encontramos a P&G entre eles. Entre as empresas geridas pelo fundo 3G Capital (no qual ele é um dos sócios) estão a AB InBev (do ramo de bebidas), Kraft e a Restaurant Brands Internacional (indústria de alimentos).
Vale apontar que, mesmo que Tabata fosse autora do projeto e Lemann fosse o dono da P&G, não há garantia que o projeto traria mais lucro ao bilionário. Afinal, a implementação do programa de distribuição de absorventes passaria por licitação pública do governo federal. Neste sentido, a deputada não teria muita influência (para não dizer influência alguma).
Resumindo: as mensagens que apontam para uma “grande trama” por trás do projeto que prevê distribuição de absorventes para a população não se sustentam. Nem Tabata Amaral é autora, nem Jorge Paulo Lemann é dono da P&G e nem o projeto “visa olhar para os ricos”.