Por Josias de Souza – Jair Bolsonaro é o tipo de pessoa que reclama do barulho quando a oportunidade bate à sua porta. A crise do coronavírus representou um convite para que Bolsonaro decidisse, finalmente, se queria ser o presidente ou estorvo do seu governo. Bolsonaro comporta-se como se tivesse optado pela segunda alternativa. Politicamente isolado, o presidente faz uma aliança preferencial com o desastre.
A coisa poderia estar bem melhor para Bolsonaro, pois o Datafolha informa que subiu para 76% a taxa de aprovação do modo como o seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, conduz a crise do coronavírus. Mas o presidente decidiu acentuar o processo de autodestruição em que se meteu. Critica a tática do isolamento social, avalizada pela pasta da Saúde. Ele humilha seu ministro com ataques em público. O resultado é devastador: 51% dos brasileiros avaliam que Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda na guerra contra o vírus.
Trancado em seus rancores, Bolsonaro finge que faz e acontece. Mas um presidente que mantém a caneta no bolso depois de desqualificar seu ministro e de ameaçar abrir com um decreto o comércio fechado por governadores… um presidente assim apenas simula uma força que já não possui. Bolsonaro começa a ter dificuldades para projetar a simbologia do poder.
A verdade é que a margem de manobra de Bolsonaro é cada vez mais estreita. Agarrado a ideias próprias, o presidente isolou-se no seu bunker. E conspira para a sua própria deterioração. Ao abdicar do dever funcional de governar a crise, Bolsonaro passou a ser governado por ela.