*Por Fernando Castilho — O presidente Jair Bolsonaro quer deixar a definição das medidas mais impopulares de financiamento do Renda Cidadã para depois das eleições municipais.
Segundo especulam os analistas, a ordem é ficar “quietinho” porque a negociação agora de medidas duras pode atrapalhar a estratégia traçada pelo presidente e seus aliados de “varrer o PT” do Nordeste.
O “chega pra lá” na equipe faz sentido. O presidente não sabia até fevereiro que havia uma possibilidade de melhorar sua imagem na Região até que suas pesquisas de análise de performance começaram a subir nos estados onde perdeu a eleição.

Nunca passou pela cabeça de Bolsonaro apostar no Nordeste como reduto eleitoral. Parte pelo preconceito com a Região. Por várias vezes ele se referiu a algum assessor como “os paraíba” expressão que Lula também usava para se referir a companheiros que atuavam na Região de onde ele saiu.
Mais aí ao custo de R$ 250 bilhões o milagre aconteceu e ele viu que havia uma avenida aberta para seu governo mostrar que tinham atuação na Região mais pobre do país. E mais: nem precisava falar de Auxílio Emergencial. Bastava inaugurar uma estrada aqui, um conjunto residencial ali e que falar de água dava muita imagem boa.
Quem lhe mostrou isso foi Rogério Marinho que convenceu Bolsonaro a sair de Brasil e deixar de visitar apenas quartel. Bolsonaro viu que o Auxílio Emergencial abrira uma porta que achava fechada para sempre.
O problema é que depois de pagar R$ 600, assegurar R$ 300 até dezembro o presidente viu que apesar de todo o barulho não precisava dizer agora em outubro como vai ficar o Bolsa Família em 2021. Se não acontecer nada, ele volta a pagar o Bolsa Família que agora tem mais de 6 milhões de famílias assistidas que tinha em janeiro passado.

O presidente já viu que essa imagem o pode ajudar a reduzir a influência dos partidos de esquerda na Região. Já sabe que o Centrão tem muito mais candidato com chance de ganhar nos 1.794 reforçando sua imagem.
Faz todo sentido deixar a campanha passar para retomar o debate dos R$ 300. Seria estupidez, por exemplo, dizer agora que não vai ser R$ 300. Dai a ordem de esfriar o assunto e aguardar as urnas.
Até lá, os prefeitos que apoiam Bolsonaro vão poder dizer ele colocou mais dinheiro no bolso dos nordestinos que Lula e Dilma em mais de 12 anos de governo. Não vai “varrer” o PT como alguns auxiliares dizem para bajulá-lo, mas o encolhimento do partido é visível já na partida. Nos apoios e nas chances reais disputa.
Os resultados mostraram um claro avanço da direita e um recuo da esquerda, principalmente do Partido dos Trabalhadores: o PT perdeu mais de 60% das prefeituras que dirigia desde 2012, e 94% das suas cidades de mais de 200 mil habitantes. Tinha 639 ficou com 255. O PT lançou 999 candidatos.
O problema é que o partido tinha feito uma transferência das bases históricas do Sudeste para o Nordeste.
Bolsonaro só precisa controlar a ansiedade da equipe econômica e dos deputados da oposição no Congresso que desejam exatamente saber o valor exato para dizer que o presidente está reduzindo o dinheiro que ajudou a salvar milhões de famílias da fome.
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*Fernando Castilho é colunista do JC Online







