Por Ricardo Antunes com informações do Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu ajuda ao seu homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden, para vencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais deste ano. O pedido foi feito durante uma reunião privada que os dois tiveram na última quinta-feira (9), segundo informações da agência de notícias Bloomberg.
O colunista do UOL Jamil Chade confirmou com duas fontes da diplomacia brasileira o pedido feito por Bolsonaro a Biden. O encontro se deu em meio à viagem do presidente brasileiro aos EUA para participar da Cúpula das Américas, em Los Angeles. De acordo com fontes anônimas citadas pela agência, Bolsonaro retratou Lula como um perigo para os interesses dos EUA. Biden, porém, falou sobre a importância de preservar a integridade eleitoral do Brasil e, ao receber o pedido de ajuda de seu par brasileiro, mudou o assunto da conversa, segundo o relato da Bloomberg.
Procurados pela agência de notícias americana, nem o governo brasileiro e nem o americano comentaram a informação.

Leia a tradução da matéria da Bloomberg:
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro pediu ajuda ao presidente dos EUA, Joe Biden, em sua candidatura à reeleição durante uma reunião privada à margem de uma cúpula regional nesta semana, retratando seu oponente de esquerda como um perigo para os interesses dos EUA, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Durante a reunião desta quinta-feira, Biden destacou a importância de preservar a integridade do processo eleitoral democrático no Brasil e, quando Bolsonaro pediu ajuda, Biden mudou de assunto, disse uma das pessoas. Os comentários de Bolsonaro a Biden sobre seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, ecoaram suas advertências públicas sobre o ex-presidente de dois mandatos, segundo as pessoas, que pediram anonimato para discutir uma conversa privada.
A assessoria de imprensa da presidência do Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, enquanto a assessoria de imprensa da Casa Branca se recusou a comentar imediatamente.
A reunião de quase uma hora, a primeira desde a eleição de Biden em 2020, ocorreu principalmente em particular durante a Cúpula das Américas em Los Angeles. Bolsonaro disse a repórteres depois que ele e Biden “falaram superficialmente” sobre a eleição. Em comentários públicos no início de sua reunião, Biden disse que o Brasil tem uma democracia vibrante e inclusiva e instituições eleitorais fortes.
Pesquisas mostram Bolsonaro atrás de Lula antes da eleição do Brasil em outubro. Lula ganharia 47% dos votos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro ficaria com 29%, segundo pesquisa do instituto Quaest nesta quarta-feira.
Os EUA têm uma política permanente de não escolher um lado nas eleições de outras nações, dizendo que o voto deve refletir os desejos do povo do país.
Ainda assim, os presidentes dos EUA muitas vezes se desviaram dessa máxima, como quando Barack Obama expressou sua oposição ao Brexit antes da votação. E a história está repleta de sucessivas administrações dos EUA apoiando líderes estrangeiros que estavam concorrendo às eleições – como Boris Yeltsin na Rússia na década de 1990.
Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, expressou nesta semana dúvidas sobre a legitimidade da vitória eleitoral de Biden. Em declarações a uma emissora de televisão local no Brasil em 7 de junho, Bolsonaro afirmou que houve fraude generalizada na eleição dos EUA que Biden venceu, repetindo as teorias da conspiração que o ex-presidente dos EUA levantou consistentemente desde novembro de 2020.
Os comentários ecoaram as tentativas renovadas de Bolsonaro de desacreditar o sistema de votação eletrônica no Brasil, onde ele busca um segundo mandato.
Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar Biden por sua vitória, e as relações entre as duas maiores economias das Américas esfriaram. No entanto, em sua reunião na quinta-feira, a dupla parecia se dar bem, com o líder brasileiro descrevendo sua reunião como “sensacional” e “muito melhor” do que ele esperava. Em comentários à CNN Brasil, ele se disse “espantado” com seu colega norte-americano.
Após a foto oficial dos líderes regionais na conclusão da cúpula na sexta-feira, Biden permaneceu conversando com Bolsonaro, tocando o líder brasileiro nas costas enquanto Bolsonaro colocava a mão no ombro de Biden.
Lula, que foi presidente de 2003 a 2010, teve um bom relacionamento com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem Biden atuou como vice, durante quase dois anos em que os dois se sobrepuseram como chefes de governo.
Falando de Lula durante uma cúpula do G20 em Londres em 2009, Obama disse: “Este é o meu homem” e “Eu amo esse cara”.