Por Ricardo Antunes — O presidente Jair Bolsonaro “foi vencido por ele próprio e por seus apoiadores mais fanáticos”, diz o colunista Mário Sabino, do Metrópoles. É verdade, o resultado apertado das eleições demonstra que se ele tivesse agido de maneira eficiente, racional e com empatia durante a pandemia, poderia ter uma rejeição muito menor, e se reeleger com facilidade.
Segundo o jornalista, ao votar em Jair Bolsonaro no segundo turno, praticamente metade dos brasileiros demonstrou não achar que a democracia estivesse em perigo com ele na Presidência. Fato é, contudo, que o atual presidente sonhou com um autogolpe e, para tanto, militarizou a máquina pública e deu generosos aumentos salariais aos integrantes das Forças Armadas. Também as poupou na reforma da Previdência. Mas nunca existiram condições objetivas para qualquer golpe”.
É um caso singular de presidente que permaneceu durante quase todo o tempo de mandato sem partido político onde abrigar-se (fracassou ao tentar criar um para chamar de seu). Ao contrário do que Lula afirmou em seu discurso de vitória, existem, sim, “dois brasis”, praticamente do mesmo tamanho. Se o atual presidente aceitar o resultado eleitoral, poderá aproveitar esse ativo e se tornar o líder da oposição.
Na história brasileira, todos os golpes contaram com a seguinte conjunção favorável: apoio da maioria da classe média, apoio da maioria do Congresso, apoio de banqueiros e empresários, apoio de potências estrangeiras e, por último, mas não menos importante, apoio das Forças Armadas. Bolsonaro jamais teve isso, apesar de todas as cenas teatrais de conteúdo golpista que protagonizou, juntamente com os seus seguidores mais fanáticos. É um caso singular de presidente que permaneceu durante quase todo o tempo de mandato sem partido político onde abrigar-se (fracassou ao tentar criar um para chamar de seu).
Lula fez um lacrimoso discurso de vitória, apresentando-se como o grande conciliador de uma nação dividida e o salvador da democracia. Disse que não existem dois Brasis. Existem, sim, como mostrou o resultado eleitoral, e são praticamente do mesmo tamanho.

1º BRASIL
O Brasil de Jair Bolsonaro é o do agronegócio, a força propulsora da economia brasileira, que relativiza a pauta ambiental. O Brasil de Jair Bolsonaro é conservador nos costumes. O Brasil de Jair Bolsonaro acha que ele agiu certo ao sabotar as medidas restritivas contra a Covid e não se importa com a sua falta de empatia para com os doentes e as suas famílias. O Brasil de Jair Bolsonaro quer menos Estado na sua vida — uma das promessas de campanha que o atual presidente cumpriu apenas em parte insignificante, seja por falta de crença verdadeira, seja por falta de condições políticas. O Brasil de Jair Bolsonaro acha que ele fez certo ao enfrentar a cúpula do Judiciário. O Brasil de Jair Bolsonaro não perdoa a corrupção gigantesca ocorrida nos governos do PT e considera a corrução bolsonarista um mal menor — e, quanto a esse ponto, muitos antipetistas votaram pela reeleição do inquilino do Planalto com o nariz tapado.
SILÊNCIO
O antipetismo tem a mesma dimensão do antibolsonarismo, dizem os números da apuração. Jair Bolsonaro deve continuar a ser a principal face do Brasil de direita e antipetista, que é muito maior do que se imaginava. O bolsonarismo, no entanto, precisará adquirir consistência partidária. Ao silenciar depois da divulgação do resultado e não reconhecer a vitória do adversário, Jair Bolsonaro se apequena como homem, mas talvez seja isto que os seus eleitores esperam dele: mais teatro antissistema. Vamos ver por quanto tempo dura a cena. Não, não haverá golpe.
FRUSTRAÇÃO
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva desencadeou uma série de conversas telefônicas e em grupos de WhatsApp entre oficiais militares de patentes abaixo do generalato desde o anúncio do resultado – todas em tom de frustração e temor com o destino das Forças Armadas sob o novo governo.

SEM COGITAÇÃO
Entre generais de alta patente, porém, não há nenhuma ameaça ou sequer cogitação de resistência ou intervenção militar.
RELAÇÃO INTERNACIONAL
Presidente eleito neste domingo, afirmou que o Brasil precisa voltar a ter protagonismo no cenário internacional e disse que quer ter relação com todas as nações.
DURANTE A APURAÇÃO
As falas foram feitas no encontro do petista com delegações estrangeiras que vieram ao Brasil acompanhar a apuração da eleição. Entre eles estava o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, que acompanhou o pronunciamento feito em um hotel antes do comício na Avenida Paulista.
ECONOMIA
Nos últimos meses que restam para concluir o mandato, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prepara um pacote de medidas na Economia.

PROPOSTAS
Nos próximos dias, duas dessas propostas devem ser assinadas pelo mandatário. Uma delas é a criação do Fundo Garantidor por medida provisória destinado a financiamentos habitacionais para baixa renda ou trabalhadores informais.
PAPEL
O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já sabe qual posição o presidente do PSD, Gilberto Kassab, terá no seu futuro governo.
DECISIVO
“Ele foi decisivo na eleição, mas acho que ele mesmo prefere ficar no bastidores, apoiar. Foi um grande articulador. Acho que o grande compromisso dele é com um governo que dê certo”, disse Tarcísio.
PASSARALHO
Um dia após as eleições, a Jovem Pan anunciou a demissão de quatro de seus colaboradores: Caio Copolla, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes e Guga Noblat.

MUDANÇA
Segundo o jornalista Fefito, a emissora, prepara uma guinada editorial para ajustar o tom crítico ao novo governo. A ideia é moderar o discurso nos próximos meses.
MEDIAÇÃO
Governadora eleita com votos da esquerda até a extrema direita, Raquel Lyra foi questionada sobre como vai compor o secretariado com pessoas com planos, opções e pensamentos diferentes.
UNIÃO
Raquel Lyra disse que conseguiu unir Pernambuco durante a campanha e que quer fazer um governo para todos. Ela também prometeu construir uma ponte com o governo federal e trabalhar nos próximos anos para trazer ações e obras estruturadoras para gerar oportunidade e renda no estado.
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