Por Carlos Eduardo Valim, do Estadão – Após a Polícia Federal ter prendido o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, na segunda-feira, 17, a vez de seu ex-sócio Augusto Lima chegou nesta terça, quando também ocorreu a liquidação da instituição financeira pelo Banco Central. Lima é o único dos ex-sócios do Master habilitado pelo BC a administrar um banco próprio. Baiano de Salvador, o economista Lima era sócio do mineiro Vorcaro, controlador do Master, e do carioca Maurício Quadrado.
O Estadão buscou contato com a defesa de Augusto Lima, mas não havia um posicionamento até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para o posicionamento da defesa do banqueiro.
Lima e Quadrado deixaram a sociedade ainda em 2024, antes que os holofotes se voltassem para o Master, quando em março deste ano o Banco de Brasília (BRB) anunciou que desejava comprar a instituição. Segundo pessoas próximas a Lima, ele deixou a sociedade e a posição de executivo do Master em 28 de maio de 2024, ao assinar acordo para sair do banco, um movimento que ainda não havia ficado público. Dessa forma, ele já não seria mais sócio e diretor do banco havia um ano e meio.
Pelos termos de sua saída, ele levaria o negócio de crédito consignado, que trouxe para o Master em 2019, e também o Banco Voiter, que serviria como base para a criação de um novo, chamado Banco Pleno. Os planos de Lima envolviam o lançamento do Pleno para o mercado entre o fim de novembro e começo de dezembro, com ampla campanha de publicidade pela mídia, já em fase de finalização e aprovação.
O começo da trajetória de Lima como banqueiro de destaque remonta ao negócio de crédito consignado Credcesta, adquirido em uma privatização feita na Bahia em 2018, durante o governo de Rui Costa (PT), atual ministro da Casa Civil.
Lima arrematou na época, depois de dois leilões sem interessados, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), que era dona da rede estatal de supermercados Cesta do Povo, que operava com produtos populares e com preços subsidiados. Lima mantém esse negócio de varejo em operação na Bahia.
Menos de um mês depois de Lima vencer o leilão, o governo da Bahia autorizou servidores públicos e pensionistas a fazer compras no Cesta do Povo com recursos do programa de crédito consignado Credcesta, que também ganhou o direito de ampliar os seus negócios financeiros. Logo, o negócio prosperou e, em poucos meses, ele estava atuando em quase todos os Estados.
A interlocutores, Lima, que estudava microcrédito antes da aquisição, costuma dizer que nunca imaginaria que o negócio decolasse tão rapidamente por todo o País.
Vorcaro e Lima foram apresentados por um amigo em comum, e logo surgiu um acordo para o Master representar o Credcesta, em busca de ampliar a sua atuação. Vorcaro procurava fazer o Master chegar também às classes mais populares, com um negócio de varejo com empréstimos garantidos e seguros. Poucos meses depois, ainda em 2019, o Credcesta foi incorporado pelo Master, oficializando a união e a entrada de Lima como sócio.
Relações políticas
Lima também trazia ao Master suas boas relações com o PT da Bahia, nas figuras de Costa e do ex-governador Jacques Wagner, hoje senador. Os três são conhecidos como amigos pessoais. Mas isso não afastava Lima de rivais políticos do PT no Estado, como Antônio Carlos Magalhães Neto (União Brasil) e João Roma (PL), ex-ministro de Cidadania do governo Bolsonaro.
A influência do banqueiro aumentou quando se uniu a Flávia Peres, com quem namorou a partir de 2023 e se casou em janeiro de 2024, o que ampliou as suas conexões fortes com o Centrão.
Deputada federal eleita pelo PL em 2018, com o nome de Flávia Arruda, por ter sido casada por 15 anos com o ex-governador José Roberto Arruda, ela foi a primeira mulher a presidir a Comissão Mista do Orçamento por indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Em 2021, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, apoiou a indicação de Flávia para suceder ao general Luiz Eduardo Ramos na Secretaria de Governo da presidência de Jair Bolsonaro, o que foi visto como o marco da chegada do Centrão ao comando da articulação do Planalto sob o ex-presidente com o Congresso.
No cargo, ela ficou responsável pela liberação de emendas, recursos extras e negociação de cargos. A política permaneceu no posto por um ano, antes de se descompatibilizar do cargo para disputar uma vaga para o Senado pelo Distrito Federal.
Flávia, desde os primeiros dias do namoro, buscava convencer Lima a deixar o Master e a ser dono de um banco próprio. Em 2023, o jornal O Globo chegou a publicar que Lima estava negociando a venda de sua parte no Master por R$ 1 bilhão, com o objetivo de montar a sua própria operação. O Master negou a nota, em conjunto com Lima. Mas o movimento de saída já estava em andamento e só foi adiado por conta de um pedido de Vorcaro de que precisava de um tempo para ajeitar a casa, antes de revelar que um dos sócios estava deixando o negócio.
Esse adiamento se fortaleceu quando Flávia foi convidada por Vorcaro e aceitou o convite para ser executiva-chefe do programa de ESG do Master. Ela foi anunciada em evento de grande pompa, no dia 3 de outubro de 2023, no hotel de alto luxo Rosewood, inaugurado um ano antes.
Na ocasião, Augusto Lima fez discurso em que destacava a atuação da equipe de consignado do Master, para aplauso dos profissionais, presentes na primeira fila da plateia. Depois, quando os problemas do Master começaram a se tornar públicos, incluindo participações acionárias em empresas em dificuldades, excesso de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) pagando juros muito acima do mercado e precatórios de recebimento incerto, a operação de consignado do Master comandada por Lima pareceu como a mais saudável da instituição, e que mantinha de pé todo o negócio.
Cogitado para presidir banco estatal
Na primeira proposta de venda do Master ao BRB, no fim de março deste ano, chegou a ser divulgado que Lima seria designado presidente do banco estatal, para o lugar de Paulo Henrique, e que Vorcaro teria uma posição no conselho de administração. Pessoas próximas a Lima dizem que ele nunca teve a intenção de permanecer no Master ou de comandar o BRB, com a possível aquisição, e que teria pedido a Vorcaro para ficar à parte do negócio e dito ao presidente do BC, Gabriel Galípolo, que não teria mais relações com o Master.
A reação de Costa entre políticos aliados, de parte da imprensa e de alguns congressistas levantou suspeita sobre as condições do estatal BRB em assumir um banco que parecia problemático, numa operação que parecia uma operação de salvamento promovida pelo Centrão. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), defendeu o negócio.
Mas o BC rejeitou o plano de aquisição de parte do Master pelo BRB, no dia 3 de setembro, por temor de contaminação do Banco de Brasília.








