Do G1 — Os problemas no abastecimento de água se multiplicam no Grande Recife. Em Olinda, moradores pagam a taxa mínima da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), no valor mensal de R$ 50, mas estão sem acesso ao fornecimento regular desde 2020. Com a quantia desembolsada, seria possível tomar dois banhos diários durante 250 dias, segundo o professor de matemática Marcello Menezes, do Projeto Educação, da TV Globo.
Nesta semana, os transtornos causados pelos problemas de abastecimento de água em Pernambuco são tema da série especial da TV Globo chamada “Água”. Entre a terça-feira (9) e a quinta-feira (11), reportagens sobre o assunto são veiculadas no Bom Dia Pernambuco, NE1 e NE2.
Moradora do bairro de Sítio Novo, em Olinda, a aposentada Marileide Maria Nery contou que não recebe água encanada desde 21 de dezembro de 2020. O problema acontece há mais de dez meses, período em que ela continuou pagando, mensalmente, a taxa mínima da Compesa.
“Não tenho um pingo de água, um monte de roupa para lavar. São duas caixas d’água vazias”, disse a aposentada.
Marileide afirmou também que o seu “sonho” atual é conseguir tomar um banho de chuveiro. Na casa da família, os banhos têm sido feitos com balde e caneca. A torneira da entrada da casa é constantemente checada, mas não há nenhum sinal de abastecimento de água no imóvel.

Marileide e a vizinha dela, a dona de casa Verônica Correia, precisam contar com a disponibilidade de outro vizinho, que fornece água de um poço próprio. Quando ele não pode, elas precisam recorrer à compra de galões de água mineral.
“Eu compro água mineral para cozinhar porque não cozinho com água do poço. Eu compro por R$ 5 [cada garrafão] e são seis por semana”, declarou a aposentada.
A taxa mínima da Compesa é paga pelos moradores mesmo que eles não tenham consumido nada. De acordo com a empresa, esse valor leva em consideração parâmetros de instalação e manutenção da rede de abastecimento.
Marcelo Menezes foi até a residência de Verônica, em Sítio Novo, em Olinda, e fez os cálculos do que cada morador deixa de receber em termos de abastecimento de água. Segundo o professor de matemática, devido ao valor gasto pelas moradoras, cada uma deveria ter acesso a dez metros cúbicos de água por mês, o que equivale a dez mil litros.

Ele também mostrou que, além dos dois banhos diários de 20 litros cada, as moradoras também poderiam lavar os pratos com a torneira aberta por 15 minutos direto, com gasto de 120 litros, durante 80 vezes.
“Eu fiquei horrorizada com o desperdício que nós estamos tendo, pagando sem possuir nenhuma gota de água. Se a água não chegasse e a conta também não, era uma maravilha. Mas a conta chega e nós estamos reivindicando algo que é o nosso direito”, disse Verônica.
Outra vizinha, a dona de casa Gilma França, contou que ficou consternada ao saber do quanto os moradores foram lesados ao longo dos últimos meses.
“Fiquei estarrecida porque a gente está pagando por um serviço que não temos. Estamos sendo lesados no nosso direito de consumidor. Pagando as contas em dia e a Compesa não dá uma atenção”, disse.
Ainda segundo o professor de matemática, em outra comparação, as moradoras também poderiam comprar, no período de dez meses em que não receberam abastecimento de água, cerca de 60 quilos de feijão.
“Se a gente transformar isso em alimentação, por exemplo… Um quilo de feijão é, em média, R$ 8. Se a taxa mínima é de R$ 50, a gente tem de seis a sete quilos de feijão que elas podem comprar por mês. Em dez meses, que é o que está no calendário, nós vamos ter de 60 a 70 quilos de feijão que poderiam ter sido comprados por essas famílias”, contou Marcello.