Do O GLOBO – O dólar opera na casa dos R$ 5,66, após já ter batido os R$5,68, enquanto a Bolsa cai mais de 3% nesta quinta-feira, um dia depois de o ministro Paulo Guedes confirmar que parte do Auxílio Brasil, programa que vai beneficiar o Bolsa Família, será paga fora do teto de gastos. Declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o pagamento de uma “ajuda” aos caminhoneiros como compensação pelos reajustes recentes no preço do diesel e as negociações para a revisão do teto só intensificaram o clima pesado nos mercados.
Por volta de 16h05, a moeda americana tinha alta de 1,88%, negociada a R$ 5,6629, após atingir a máxima de R$ 5,6899.
O dólar não tem uma cotação de fechamento acima dos R$ 5,60 desde o dia 15 de abril quando atingiu a casa dos R$ 5,6241.
No mesmo horário, o Ibovespa cedia 3,15%, aos 107.294 pontos. Em seus piores momento no dia, a Bolsa chegou a cair mais de 4%.
O principal índice da B3 não fecha abaixo dos 110 mil pontos desde o dia 20 de setembro, quando encerrou no patamar de 108.844 pontos.
As taxas de juros futuros tiveram forte alta no pregão. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 7,66% no ajuste anterior para 7,91% e a do DI para janeiro de 2023 passou de 9,91% para 10,56%.
O juro do DI para janeiro de 2025 disparou de 10,90% para 11,51% e o do DI para janeiro de 2027 avançou para 11,82% ante os 11,27% da leitura anterior.
Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro insistiu que o programa será feito dentro do teto, apesar de não explicar como.
Na véspera, Bolsonaro já havia dito que “ninguém vai furar teto” nem fazer “nenhuma estripulia no Orçamento”. No entanto, horas depois, Guedes afirmou que o governo deve pedir o que chamou de “waiver” (suspensão da regra) para gastar mais de maneira temporária.
Sinalização negativa
Como destaca o gestor de fundos da Arena Investimentos, Maurício Pedrosa, o que mais incomoda o mercado é o fato do principal representante da equipe econômica, que seria a responsável por preservar as contas públicas, ter dado uma sinalização no sentido contrário.
— Eu diria que é um sentimento de orfandade do mercado. Ver aquele que devia estar defendendo os postulados da boa gestão fiscal, da organização das contas públicas e que deveria dar uma boa sinalização para os investidores tanto daqui como lá fora, pedindo waiver (perdão) é muito embaraçoso e obviamente faz preço.
O gestor destaca que não são apenas os R$ 30 bilhões fora do teto que incomodam, mas a sinalização que é passada aos investidores.
BC: Banco já injetou US$ 4 bi no mercado em duas semanas para tentar conter avanço rápido do dólar. Mas não adiantou
— Há o temor que esse espaço seja estendido. O problema não são apenas os R$ 30 bilhões, mas a porta aberta que traria um problemaço mais à frente.
Para ele, mesmo que o governo volte atrás, como fez na terça-feira ao cancelar o anúncio oficial do novo programa, o estrago já está feito.
Para o gestor de renda variável da Infinity Asset, Fernando Siqueira, as negociações sobre uma possível revisão do teto também são vistas como negativas para o mercado. De qualquer forma, quebra-se a regra fiscal vigente sem que os investidores saibam ao certo o que entrará no lugar.
— O que eles estão fazendo agora é dizer que isso (o teto) acabou, porque você fica criando mecanismos para não cumprir e não se sabe o que vai ficar no lugar. A regra é essa. Mudar nesse momento é a tentativa de gastar mais em um momento perto das eleições. A ideia é que o Ministério da Economia perdeu a batalha e parece que não está fazendo mais esforço para manter a regra do teto. Essa foi a pior sensação.
Para ele, a fala de Bolsonaro sobre o pagamento de uma “ajuda” aos caminhoneiros apenas reforça a sinalização de descompromisso com as contas públicas.
— Então, no fundo você está tentando empurrar o problema com a barriga. Dado que todo esse desequilíbrio também gera pressão para aumento de preço de combustíveis. Você não está resolvendo a raiz do problema, mas fazendo remendo.
Fora do teto: ‘Questão social é uma responsabilidade do governo, e não do mercado’, diz Mourão sobre Auxílio Brasil
Além dos já conhecidos problemas domésticos, os ativos enfrentam um pregão com a percepção de risco mais forte no exterior.
A situação da gigante do setor imobiliário chinês Evergrande voltou a pesar nos mercados nesta quinta-feira, prejudicando negócios na Ásia e na Europa. A imobiliária cancelou a venda de sua subsidiária e está perto de um calote oficial, que deve ocorrrer no fim de semana.
A incorporadora ainda acrescentou que as vendas de imóveis despencaram cerca de 97% durante a temporada de pico de compra de casas, piorando sua crise de liquidez às vésperas do vencimento do prazo final para o pagamento de títulos em dólar, o que pode levar a empresa a um calote oficial.