Por André Gustavo Stumpf
O momento político não favorece o governo Bolsonaro. O presidente chegou ao poder sem qualquer experiência prévia em administração estadual ou federação. Fez sua carreira numa posição de oposição a tudo isto que está aí. Reclamou de salários nas forças Armadas, proclamou aos ventos que era contra a preocupação com o meio ambiente e declarou amor a personagens acusados de serem torturadores no período dos governos militares. A escalada em direção aos votos de direita e daqueles que desejavam se livrar do PT deu certo.
No governo, contudo, essa postura não funciona. Sua desavença com o presidente da França vai produzir estragos. A diplomacia francesa inventou agora um encontro para discutir a preservação das florestas tropicais (não se fala em Amazônia). A mais extensa fronteira da França é com o Brasil, entre Amapá e Guiana Francesa. Macron se julga um amazônida. O parlamento da Áustria votou moção contra a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia por causa das posições do governo brasileiro em relação ao meio ambiente.
No plano externo, o mal já está feito. O discurso do presidente na abertura da Assembleia da ONU, em Nova Iorque, poderá alargar ou reduzir as dificuldades do presidente brasileiro. Na véspera, haverá em Nova Iorque um encontro internacional em defesa do meio ambiente. Dezenas de governantes vão discursar. O Brasil não deverá aparecer. Será o grande ausente. Será difícil reverter em curto prazo o estrago feito pelas iniciativas do presidente Bolsonaro nessa seara.
A decisão de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Telavive para Jerusalém nunca foi solicitada pelo governo do país judeu. Mas um líder religioso brasileiro influenciou a primeira dama, que é evangélica, e ela convenceu o presidente. Os diplomatas conseguiram conter o ímpeto presidencial. Ficou pior: Netanyahu, que esteve presente na posse de Bolsonaro, foi contrariado. Ele não recebeu o que os brasileiros ofereceram de graça. Boa confusão com o mundo árabe e amadorismo diplomático em nível constrangedor.
No plano interno, a situação não é nada favorável. A família Bolsonaro funciona como um clã fechado. Poucos têm acesso ao centro das decisões. E a regra é desconfiar de todos e confiar em poucos. Preferencialmente nos amigos antigos. Os amigos das primeiras horas na campanha eleitoral ficaram ao longo do caminho. Restou o ministro Onyx Lorenzoni que não tem mais funções definidas. Outros foram dispensados ou se calaram. A relação com o Congresso é tumultuada. O presidente não faz a menor questão de organizar sua base.
Ele abandonou seus parlamentares. Não há coordenação. O plenário do Senado rejeitou duas indicações para membros do Conselho Nacional do Ministério Público. Essa decisão coloca o procurador Deltan Dallagnol numa posição precária. Agora há número para impor algum tipo de punição ao responsável por várias ações da lava-jato.
Outro aspecto é a tentativa de criar a CPI chamada de lava-toga, cujo objetivo é investigar ministros dos tribunais superiores do país. Justifica a CPI a decisão do Ministro Dias Toffoli de suspender ações judiciais originadas por informações do COAF sem anterior decisão judicial. Isso auxilia o senador Flavio Bolsonaro que responde a acusações ocorridas em seu gabinete na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro. Acontece que o senador, que está na China, solicitou a seus colegas retirar assinatura da lista de apoiadores da CPI. E o fez, em alguns casos, de maneira agressiva. O PSL caminha para ficar no Senado com apenas um senador.
No caso do Rio de Janeiro, o senador, que é presidente do partido no estado, mandou que todos seus integrantes que possuem cargos no governo estadual deixem suas posições, ou, caso contrário, serão expulsos do PSL. Tudo de maneira autocrática e impositiva. O presidente vetou mais de trinta itens da lei de abuso de autoridade. Vai haver uma chuva de derrubada de vetos, segundo um experiente observador da cena política. Deve acontecer o mesmo fenômeno quando os vetos da lei eleitoral retornarem ao plenário. Segundo quem entende do assunto, o Congresso está chegando perto de um estado de rebeldia.
A maioria não está organizada e não há lideranças organizadas. Nem líder no Senado. Tudo isso concorre para que o governo fique cada vez mais embaraçado em suas próprias dificuldades. Não há a menor chance deste governo dar certo, diz um senador dono de vasta experiência política.







