Folha de São Paulo – Os usuários com perfil de direita no Twitter vinham firmes em defesa do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Até que o presidente Jair Bolsonaro cobrou, publicamente, humildade do subordinado na crise contra o coronavírus, em entrevista nesta quinta (2). Agora, Mandetta passou a ser atacado por esse campo ideológico.
Alguns tuítes já ligam o titular da Saúde e seu partido, o DEM, a um suposto golpe em curso, para tirar o presidente do poder. Outros dizem que tudo bem haver divergência no governo.
A Folha analisou os tuítes mais populares na direita em dois momentos na rede social. O primeiro período foi do dia 24 de março (quando São Paulo iniciou o isolamento da população) ao começo da noite de quinta; o segundo momento considerou as 12 horas após a entrevista de Bolsonaro criticando o ministro.
São dois cenários opostos. Antes do ataque público de Bolsonaro, os tuítes mais populares falavam que o ministro era sério. Também havia tuítes dizendo que era a imprensa que estava criando uma divisão no governo.
O terceiro tuíte mais popular desse período, por exemplo, foi “e o Governo Jair Bolsonaro é o primeiro do mundo a anunciar oficialmente o tratamento para covid-19. Mandetta ainda confirmou a desinformação da imprensa: ele nunca pediu quarentena. Dia ruim para as hienas”.
A mensagem, de Felipe Pedri (assessor da Casa Civil), citava a discordância de avaliação de como conduzir a crise, o que afastou Bolsonaro de Mandetta.
O ministro tem defendido o isolamento de toda a população, para evitar que o covid-19 se espalhe rapidamente. Já Bolsonaro tem ressaltado o prejuízo econômico que as pessoas estão sofrendo com comércio, empresas e escolas fechadas. E defende o isolamento apenas das populações mais vulneráveis.
Publicamente, até então, Bolsonaro e Mandetta trocavam elogios, ainda que nos bastidores já se sabia que a relação entre os dois estava ruim. Na quinta, o presidente escancarou as divergências em entrevista à rádio Jovem Pan.
Os tuítes mais populares na direita, então, mudaram de tom. O terceiro mais popular após a crítica de Bolsonaro foi do agrônomo Xico Graziano, que diz estar tudo bem com a divergência, desde que haja lealdade.
O presidente @jairbolsonaro é tão sincero que não esconde sua treta com @lhmandetta. Não precisava. Era fácil tergiversar. Por outro lado, foi honesto. Nós não estamos acostumados à essa sinceridade. Se, entre eles, a situação for aberta, clara, menos mal. Deslealdade jamais.
— Xico Graziano (@xicograziano) April 2, 2020
Outros partiram para o ataque. O quarto e quinto tuítes mais populares afirmam estar em curso um golpe para tirar Bolsonaro do poder, capitaneado pelo DEM, partido de Mandetta.
Senta que lá vem a história (curta, prometo):
Mandetta virou quarentenista, não fala do remédio como ferramenta chave nem do isolamento vertical q os especialistas defendem.
Lembrem-se: ele é do DEM (DEM=golpe).
Essa virada do Caiado não foi à toa (Mandetta é da turma dele).— 🇧🇷Nanda Ananias🇧🇷®️ (@dranandaananias) April 3, 2020
O tuíte mais popular na direita falava da expectativa da chegada de cinco milhões de testes para identificar pessoas infectadas, e o segundo, atacava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.