Por Marcos Lima – Em Pernambuco, quando chega o Carnaval, não importa qual seja a Região. Seja a Região Metropolitana, no Agreste (Central, Meridional ou Setentrional), nas Matas (Norte e Sul) ou no Sertão (Central, de Itaparica, do Araripe, do Moxotó, do Pajeú ou do São Francisco), o que o povo quer mesmo é se jogar nos braços de Momo, de preferência ao som do Frevo tradicional.
Mas também pode ser ao som do maracatu, caboclinho, coco, rabeca, forró, axé, entre tantos outros. O que importa é que tenha música.
E cada Região do Estado tem a sua cidade com maior oferta de atrações para esta época. Ontem, domingo, a cidade da vez foi Bezerros, no Agreste Central, um dos destinos de folia mais procurados em Pernambuco, devido ao magnetismo dos donos da cidade, nessa época: os Papangus.
Em 2024, a folia dos Papangus em Bezerros atraiu mais de meio milhão de pessoas, durante os 5 dias de festejo, segundo a prefeitura.
As máscaras e as vestimentas brilhantes fazem dos papangus algo inédito no Brasil, onde quem tem a cara exibida é chamado de “a mulher do padre”.
Com o título de Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco, os papangus são caracterizados pelas máscaras, que originalmente eram feitas com papelão e papel de embrulhar charque, e hoje geralmente são feitas em papel machê e material reciclado.
Mesmo com um calor de sensação térmica acima da casa dos 40ºC, as ruas do centro da cidade ficam tomadas de gente, agraciada com muito brilho e, é claro, gente mascarada e fantasiada que surge de todos os lados. Este ano, a previsão é de que, até o fim do Carnaval (5/3), cerca de 600 mil pessoas devem acompanhar os cortejos dos papangus.
O nome papangus, a propósito, vem de “papa-angu”. Foi assim que esses mascarados passaram a ser chamadas ainda no século 19, quando, trajados de fantasias rudimentares, saíam pelas ruas brincando. Batiam de porta em porta pedindo angu de milho, ou seja, de fubá, aos bezerrenses. As crianças trataram logo de colocar um apelido nessa turma: “Lá vem os papa-angu”. Daí para papangus foi só um pulinho… de Carnaval.
“Na época da escravatura, no século 19, os negros se fantasiavam, cobriam partes do corpo, sobretudo o rosto, como uma crítica aos banquetes da elite. Disfarçavam-se para não serem identificados e não sofrerem nenhum tipo de represália. A partir dos anos 1990, a manifestação passou a ganhar contornos de brincadeira, tornando-se símbolo do Carnaval”, explica Eudes Mateus, 28, secretário de Turismo e Cultura do município.
“Sempre de forma bastante rústica, essas manifestações ocorreram em outros pontos do Nordeste. Aqui em Bezerros, contudo, elas foram se aprimorando, se moldando ao decorrer do tempo, chegando ao que são hoje”, completa Mateus.
A governadora Raquel Lyra que prometeu visitar, se não todos, pelo menos uma grande parte dos 70 municípios contemplados com políticas públicas do governo, participou da folia dos Papangus de Bezerros, seguindo o percurso dos mascarados pelas ruas do Centro do município ao lado da vice-governadora, Priscila Krause, da prefeita de Bezerros, Lucielle Laurentino e sua vice, Socorro Silva, até a Prefeitura de Bezerros, onde fica o polo principal da festa.
“Estamos com uma programação no Estado inteiro, com políticas públicas do governo para incentivar esse grande evento para a economia e para a cultura”, disse a secretária de Cultura, Cacau de Paula.
Também acompanharam o Carnaval dos Papangus, o senador Humberto Costa, os deputados federais Mendonça Filho e Carlos Veras e os deputados estaduais Joãozinho Tenório e João Paulo.
“O ritmo do Carnaval de Pernambuco é a alegria e temos festa do Litoral ao Sertão. Estou muito feliz em poder estar aqui na terra dos Papangus> Agradeço à prefeita Luciele Laurentino, que preparou essa festa linda, recheada de muita cultura popular. Nós vemos pessoas de todas as idades brincando, fantasiadas e ocupando as ruas para brincar com muita paz e segurança. O Governo do Estado investiu mais de R$ 50 milhões neste grande movimento multicultural que é o carnaval de Pernambuco. É lindo de ver a rede hoteleira lotada e os artistas da terra serem valorizados em mais de 80% da nossa grade, contemplando a cultura pernambucana”, destacou Raquel Lyra.
O Carnaval de Bezerros deste ano tem como tema “Ritmos que unem gerações e tradição”, descentralizado em seis polos de animação, contando com o apoio Governo do Estado por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Fotos: Janaína Pepeu/Secom