Por Marcelo Ninio, de O Globo – Dos cinco países do Brics , só a Índia chamou pelo nome a ação perpetrada pelo Hamas em Israel no sábado: terrorismo. Os demais, Brasil, Rússia, China e África do Sul foram numa linha semelhante, pedindo “contenção” das partes e defendendo a solução de dois Estados. Será que a ocorrência teria sido o mesmo caso de atrocidades sofridas por civis israelenses que foram cometidas contra seus cidadãos?
É esperado desinformados por opção, ativistas e fanáticos acometidos de cegueira ideológica que encarem o ataque do Hamas como resposta aceita à ocupação israelense. Mas de um grupo com pretensão de reformar o sistema internacional para torná-lo mais justo, negar o óbvio é injustificável. Mesmo para quem considera legítima uma resposta armada dos palestinos a mais de meio século de ocupação israelense, a matança indiscriminada do Hamas, que atingiu principalmente civis, não deveria deixar brecha a meias palavras ou desvios de conduta.
Em comunicado, o Itamaraty condenou o ataque e manifestou solidariedade ao povo de Israel , acrescentando que “não há justificativa para a violência, sobretudo contra civis”. Até aí tudo certo. Mas em nenhum momento aparece a palavra terrorismo ou sequer o nome do grupo extremista que o cometeu. É como se os mortos e feridos tivessem sido vítimas de um desastre natural. Não foram. A origem da barbárie contra civis israelenses tem nome, endereço e patrocinadores, entre eles o Irã, que acaba de ter a entrada no Brics aprovado com apoio do Brasil. O realismo político tem limite.
A omissão do Brasil poderia ser explicada pela dificuldade em se chegar ao consenso em torno da definição do que é terrorismo, debate que há anos é travado pela politização do tema na esfera diplomática. Tanto que a proposta para a Convenção Abrangente sobre Terrorismo Internacional (CATI) circula há quase três décadas na ONU sem ser concluída. Mas alguns atos são inequívocos, e o que ocorreu em Israel é um deles.