Da Redação do Blog – O superintendente da Santa Casa de Misericórdia do Recife, padre Claudionor Alves de Lima, está sendo acusado de usar para gastos pessoais cartão corporativo com o nome do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, presidente da Santa Casa, de desviar recursos e funcionários da instituição para construção de uma casa de praia em Itamaracá e de promover assédio sexual de outros padres contra servidores.
A denúncia, de um ex-assessor dele, Alan Eric de Sousa, contida em um dossiê de 68 páginas obtido pelo Blog, com documentos, fotografias e prints de conversas por WhatsApp, motivou a instauração de uma investigação prévia pela Arquidiocese.
Em nota ao Blog (confira em OUTRO LADO), a Santa Casa enfatiza que as acusações são “levianas”, “totalmente infundadas e não condizem com a verdade dos fatos”.
O dossiê relata que o padre Claudionor Alves de Lima, que é também pároco da Igreja de São Judas Tadeu, no bairro do Cajueiro, na Zona Norte, usou o cartão corporativo, com limite de R$ 60 mil, para compra de bens de uso doméstico e pagamento de passagens aéreas e hospedagem de outras pessoas, “sem relação com atividades institucionais ou pastorais”.
“O nome de Dom Paulo conferia aparência de legitimidade hierárquica, enquanto ocultava o operador real das transações e dificultava auditoria externa”, descreve o dossiê.

O documento afirma que o superintendente contratou a arquiteta Camila Paiva para reforma de uma casa de praia em Itamaracá com recursos da Santa Casa e utilização de pedreiros, eletricistas e jardineiros do Hospital Santo Amaro, a principal unidade da instituição .
Diz que o “companheiro afetivo” do padre Claudionor Alves de Lima, Maxuell Fernandes, que manda e desmanda na administração da Santa Casa, segundo o documento, tem o cargo de “assessor estratégico para controladoria”, inexistente no quadro funcional da instituição.
Alan Eric de Sousa conta, no dossiê, que foi instado pelo superintendente a “estreitar laços” com um dos ecônomos da Diocese, padre Marcelo Marques Junior, que auxilia o superintendente na administração contábil da paróquia da Igreja São Judas Tadeu.
De acordo com o autor do dossiê, depois de um “jantar institucional”, foi com o padre Marcelo Marques Junior, em 14 de agosto de 2024, ao Fórum Motel, em Boa Viagem, na Zona Sul, mas se recusou a manter relações sexuais. “O ecônomo ejaculou sozinho e, a partir daí, passou a demonstrar hostilidade aberta, repercutindo em minha posterior marginalização”, escreveu ele.
“Fui oferecido a outros clérigos da Arquidiocese pelo superintendente. Que ficou extremamente irritado quando afirmei que estava me relacionando com outro colaborador, que hoje é meu companheiro. O que o fez esbravejar que eu estava perdendo meus privilégios ‘para ficar com uma bichete’ ”, descreve Alan Eric de Sousa. Informa que da assessoria da superintendência foi transferido para o Arquivo Histórico da Santa Casa.
O autor do dossiê diz ter sido ele quem redigiu todos os trabalhos e fez as provas on line de duas pós-graduações do padre Claudionor Alves de Lima – uma em controladoria de finanças pela Faculdade Unina, do Paraná, a outra em economia pela Fundação Getúlio Vargas. Diz também que sempre auxiliou o filho adotivo do padre nos trabalhos escolares, afirmando que nos dois casos houve desvio de função.
De acordo ainda com o dossiê, o diretor médico da Santa Casa, José Iran Costa, ex-secretário de Saúde do governo de Pernambuco na gestão Paulo Câmara, foi contratado como pessoa jurídica por indicação do ex-assessor do Ministério da Saúde Mozart Sales, com salário mensal de R$ 27 mil, mas tem motorista e gasolina pagos pela instituição.
O Diario de Pernambuco publicou nota da Arquidiocese de Olinda e Recife confirmando a instauração de uma Investigação Prévia – instrumento canônico que prevê a análise dos documentos, a escuta das partes envolvidas e o depoimento de eventuais testemunhas. O objetivo da medida é avaliar se as denúncias são plausíveis, noticiou o jornal.
“A Investigação Prévia tem como único propósito esclarecer de forma objetiva e transparente todas as circunstâncias que envolvem as acusações. Ao final, caso se constate indícios suficientes de veracidade, poderá ser instaurado o Processo Canônico para apuração aprofundada. Não havendo elementos mínimos de verossimilhança, o procedimento será arquivado de imediato”, diz a Arquidiocese, no comunicado divulgado pelo Diario de Pernambuco.
Com 166 anos, a Santa Casa de Misericórdia do Recife é uma organização civil, sem fins lucrativos, que mantém quatro instituições: Hospital Santo Amaro (HSA), Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz (IAPQ), Centro Geriátrico Padre Venâncio e Educandário São Joaquim. O HSA, no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, atende pelo SUS 450 mil pacientes anualmente.

O Outro Lado:
Eis na íntegra a nota oficial da Santa Casa de Misericórdia do Recife:
“A Santa Casa de Misericórdia de Recife reafirma sua confiança na verdade e na retidão de sua conduta institucional. As acusações mencionadas são totalmente infundadas e não condizem com a realidade dos fatos.
Todas as comprovações e documentos necessários já foram devidamente apresentados à Arquidiocese de Olinda e Recife, responsável pela condução da investigação prévia, conforme determina o direito canônico. Confiamos plenamente na lisura do processo instaurado e estamos colaborando de forma transparente, convictos com a verdade.
A Santa Casa reforça seu compromisso histórico com a ética, a transparência e a missão de servir à sociedade pernambucana com seriedade e dedicação, lamentando profundamente que acusações levianas venham tentar macular um trabalho reconhecido ao longo de 166 anos”.