Por Ricardo Antunes
Na segunda parte da entrevista exclusiva concedida pelo ex-governador Geraldo Alckmin a este blog, o tucano falou dos rumos de seu partido, o PSDB. Ele faz mistério sobre 2022, mas diz que quer continuar servindo a população, por enquanto como médico. Confere conosco mais este furo de reportagem do blog.
RICARDO ANTUNES – Falando um pouco do PSDB, o partido passou por algumas transformações nos últimos anos. Como ele deve se inserir dentro dessa crise política que vivemos?
GERALDO ALCKMIN – Primeiro, eu acredito em fidelidade partidária. Quem não tiver fidelidade partidária deveria sair do partido. Essa é uma questão séria. Acontece que todos os partidos estão muito fragilizados, por isso a necessidade da reforma política. E acredito que precisa haver coerência, quem manda é o povo. Quem ganha a eleição trata de governar e governar bem.
Quem perde a eleição, trate de fiscalizar e fiscalizar bem e se preparar para a próxima. Isso não quer dizer que vai votar contra as propostas. Se as propostas forem boas para o país, vota a favor. Não pelo toma-lá-dá-cá, mas por convicção, por aquilo que é de interesse público, mas tem que fiscalizar.
RICARDO ANTUNES – Uma das críticas que se faz ao PSDB é que ele não estaria sendo contundente nas críticas ao governo Bolsonaro. Como o senhor avalia essa questão?
GERALDO ALCKMIN – Ricardo, eu propositalmente não tenho dado entrevista política. Estou abrindo uma exceção aqui para você. Acabei me dedicando à medicina, voltei ao magistério, dou aula na UniNove e na Unimes. Dou palestras, minha disciplina é anestesiologia.
Me formei, fiz residência médica e faço um curso de acupuntura no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Comecei o doutorado e vou fazer uma tese sobre dor lombar. Então, nem tenho participado de reuniões do PSDB, me dediquei mais à medicina. Torço pelo Bruno Araújo, acho ele uma boa pessoa, e no que pudermos ajudar a gente ajuda.

RICARDO ANTUNES – Qual nota o senhor daria ao governador João Dória e ao prefeito Bruno Covas?
GERALDO ALCKMIN – Olhe, acho que quem deve dar nota é o povo, a população. No caso do João Dória, é muito cedo, praticamente o primeiro ano. Está no início. Tomei um café com o Bruno Covas, achei ele muito melhor de saúde. A quimioterapia abate muito, emagrece. Como ele já terminou os oito ciclos de quimioterapia, ele deu uma melhorada, achei ele animado e acho que vai fazer uma boa campanha.
RICARDO ANTUNES – Ele é o nome mais preparado do PSDB?
GERALDO ALCKMIN – É natural que ele seja o candidato, porque ele é o atual prefeito de São Paulo. Na reeleição, a não ser em casos excepcionais, o titular tem prioridade, e o Bruno tem feito um bom trabalho. Não é fácil você governar hoje em dia. O Brasil passou uma crise muito grave de 2013 para cá. Quando o PIB cai 3%, a arrecadação cai 4% ou 5%. Ela maximiza para baixo e para cima. Então você governar com dinheiro é mais fácil, sem dinheiro é mais difícil.

RICARDO ANTUNES – Daqui a dois anos vamos ter eleições para governador e para o parlamento. O senhor é um homem público com muitos serviços prestados. Como o senhor se sente mais confortável, voltando para o Executivo ou para o Legislativo?
GERALDO ALCKMIN – O futuro a Deus pertence. Eu brinco que tem dois ansiosos na vida: os jornalistas e os políticos. Dois anos são dois séculos praticamente. Para mim, política é servir. Eu fiz medicina para servir as pessoas. Entrei com 19 anos na faculdade. Depois fui para a política para servir, até de forma mais abrangente. Hoje não tenho cargo público, abri mão de tudo, não tenho nenhuma aposentadoria, nem de deputado estadual, nem de federal, nem de governador.
Voltei a trabalhar, vivo de salário, dou aula na universidade, voltei para a faculdade. Claro que você serve como médico, como cidadão, e a política bem feita é servir à população. Hoje a gente vê os governos servindo aos governantes, à disposição da ribalta, para o governante aparecer, fazer show, fazer espetáculo. Isso não é a política, isso está errado.
O governante deve ser discreto e trabalhar 24 horas para melhorar a vida da população. Esse exibicionismo hoje da política brasileira é uma coisa atrasada. As melhores democracias do mundo são absolutamente discretas, o protagonismo é menor, não há esse exibicionismo de quem está no poder. O poder não é dos poderosos, o poder é para servir ao povo.
Leia a primeira parte da entrevista:
Geraldo Alckmin quebra o silêncio, dá receita para a crise e diz que sem Reforma Política, o país não vai avançar