Do Globo – O empresário do ramo de óticas Marcelo Rubim Benchimol, de 67 anos, deixou a 13ª DP (Ipanema) às 14h após prestar depoimento. Ele é o homem de camisa branca e bermuda azul que foi golpeado com chute, empurrões e um soco no rosto, que fez com que desabasse, desacordado, sobre a calçada da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais do bairro. Com olho roxo e o nariz ralado, ele disse que, sem o celular, levado pelos assaltantes, a solução para andar nas ruas será levar apenas R$ 2 no bolso, para terem o que roubar.
— Olha, a gente sempre fica com muita raiva, muita revolta, mas tem uns amigos que são mais espiritualizados do que eu, e me recomendaram esquecer isso. Faz melhor para a vida, para alma, dar uma esquecida nisso — disse Marcelo, que se dirigiu ao Instituto Médico-Legal.
Segundo ele, no início da noite do último sábado, saiu de casa para a academia. Enquanto caminhava pela calçada, avistou uma mulher sendo abordada por um grupo de criminosos, e decidiu ajudá-la.

“Vi a uns 10 metros uma moça sendo atacada. Eu pensei: “ou eu fujo ou eu ajudo ela”. Optei por ajudar. E aí começou a pancadaria, até me desvencilhei, mas depois, por último, veio um rapaz e me deu um soco por trás. Eu estava de óculos, e os óculos enterraram no meu olho, e desmaiei. Só fui acordar na UPA, graças a dois bons policiais que me ajudaram”, relatou Marcelo, que lembra de ter “sustentado” o soco no peito, mas que “foi muito difícil” resistir à dor dos óculos se quebrando contra seus olhos. — Se era adolescente, estava muito graudo, muito forte. Eu acho que tinha a minha complexão física. Ou até um pouco menor, mas eu não teria reconhecido.
No bolso, Benchimol trazia apenas um “celular velho”, que o ajudava a se guiar nos exercícios, conforme explica a arquiteta Selma Benchimol, de 65 anos, sua esposa, que precisa conter as lágrimas quando se recorda do que aconteceu no último sábado. O interfone tocou por volta das 20h: eram policiais militares, que traziam Marcelo de volta da UPA, ainda confuso, com tonturas, e sem enxergar direito, devido ao soco que levou.
Telefone não para de tocar
O telefone de Selma não para, depois que imagens de câmeras de segurança viralizaram, mostrando Marcelo caindo no chão, desacordado, depois de ser alvo de um grupo de assaltantes. Antes de ser nocauteado, ainda levou empurrões e um chute. A arquiteta conta que a ação foi tão rápida, que o marido achou que o golpe que tinha levado tivesse sido no peito, região do corpo que ainda sente dor. Visualmente, o que podia ser percebido era olho direito ficou vermelho por dentro, enquanto a região subocular estava roxa.
“Ele está bem machucado, com o rosto ferido, mas está bem. Quando chegou, estava totalmente confuso e tonto, trazido pelo policial militar. Ele caiu no chão inconsciente, pois levou um soco de pugilista” — Selma Benchimol, esposa de Marcelo
Um homem ficou desacordado ao ser agredido com um soco em Copacabana, Zona Sul do Rio, na noite do último sábado (02). Uma câmera de segurança registrou a agressão, logo após a vítima tentar ajudar uma mulher que estava sendo assaltada. pic.twitter.com/8yQJcoyRfX
— Ricardo Antunes (@blogricaantunes) December 4, 2023
Depois de assistir ao vídeo, Selma entende que “dois anjos da guarda” protegeram Marcelo, para que não fosse abordado por outro grupo de criminosos — referindo-se aos dois homens que saíram de um prédio e foram acudir seu marido. Ele estava caído no chão, em frente ao número 777 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as ruas Dias da Rocha e Raimundo Corrêa.
Neta de imigrantes, assim como Marcelo, Selma conta que as famílias se ergueram no Brasil com muito trabalho, o que faz com que não se conforme com as cenas de terror vividas pelo marido.
— Muita covardia. Não estavam com fome, ou sede. Não eram coitadinhos. Não eram pessoas em situação de miséria, para saírem com aquela força, aquela disposição. É a agressão pela agressão, ele (criminoso) ganhou o quê? Um celular velho? Estavam fazendo arruaça, batendo nas pessoas, até em idoso.
“Muita covardia. Não estavam com fome, ou sede. Não eram coitadinhos. Não eram pessoas em situação de miséria, para saírem com aquela força, aquela disposição.” — Selma Benchimol, esposa de Marcelo.
Selma diz que já não vai à praia por medo e se lembra de outros casos de violência pelo bairro em que vive. Um dos mais recentes é o de Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, de 25 anos, morto nas areias de Copacabana no último dia 19. Do Mato Grosso do Sul, o jovem estava no Rio para acompanhar o show da cantora Taylor Swift.
— Eu tenho pena das pessoas que não tiveram a mesma sorte que o meu marido. Porque chega a ser sorte uma pessoa não morrer. Dependendo da queda, a pessoa nem se recupera mais. Mataram o garoto na praia! Olha o cérebro que mataram, (o Gabriel Mongenot) engenheiro aeroespacial. Eles são presos, nossa legislação é ruim, a gente sabe da impunidade e a polícia é obrigada a soltar.
‘Não sei se isso tem final’
Nascido e criado em Copacabana, Marcelo conta que não pretende sair do bairro por conta da ocorrência. Surpreso com a repercussão do caso, ele diz que espera que seu depoimento ajude a polícia a localizar seu agressor, apesar de não ter esperança que a situação da violência mude:
— Eu fico chateado porque não sei se isso tem final. Se prenderem esse grupo, outro vem e assim por diante.
A solução, segundo ele, está em mais investimentos em educação, que deveria ser seguido de uma preocupação com a natalidade. Para Marcelo, o Rio “não tem economia para esse tamanho de população”, no que chamou de “problema mundial”, com a população grande e menos oportunidades de trabalho.
Suas lesões são no entorno dos olhos e, após passar por tomografia de órbita e do crânio, não foram constatadas sequelas.