Do UOL – Vinícius Lopes Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos na sexta-feira (8), havia sido ouvido na Corregedoria da Polícia Civil no dia 31 de outubro sobre a delação em que citou suposta extorsão de policiais. Oito dias depois, o empresário foi assassinado. A informação foi divulgada pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (11).
O que aconteceu
A suposta relação entre esse depoimento e o atentado está sendo investigada, informou Arthur Dian, chefe da Polícia Civil de São Paulo. “A gente não descarta nenhuma possibilidade, até porque ele delatou os policiais civis na Corregedoria da Polícia Civil”.
A Corregedoria ouviu Gritzbach após o MP-SP compartilhar trechos da delação em que nomes de agentes eram citados. “O primeiro a ser ouvido foi o próprio Vinícius. Achei essa atitude extremamente correta, haja vista que, todos nós sabemos, como ele estava delatando membros de organizações criminosas, acusado inclusive de um duplo homicídio contra membros do PCC, poderia acontecer algo nesse sentido, que foi o que aconteceu”, disse o secretário.
Derrite anunciou nesta segunda a criação de uma força-tarefa para investigar o atentado, que também matou um motorista de aplicativo. A colunista do UOL Raquel Landim adiantou a informação da criação da força-tarefa, que contará com a presença de membros da Polícia Militar e Civil e outros funcionários da SSP-SP. O secretário convidou representantes da Polícia Federal e do Ministério Público para participar de uma reunião de emergência também hoje com a Polícia Civil e a Polícia Militar. Ele cancelou uma viagem para Nova York, nos Estados Unidos, para uma conferência de segurança pública.

O secretário também informou que os PMs que faziam a segurança do empresário estão sendo investigados em um inquérito policial militar. “Terão que explicar o que faziam porque só o simples fato de realizarem serviço extraoficial já configura transgressão disciplinar. Além disso, estavam fazendo isso [escolta] para um indivíduo criminoso”. Essa investigação já havia sido instaurada há um mês. “[Para investigar] não só os que estavam ali, mas, eventualmente, outros PMs envolvidos com qualquer indivíduo do PCC”, acrescentou Derrite.
A escolta feita por PMs foi denunciada por outro policial militar durante uma audiência de instrução em que Gritzbach estava presente. “Chamou a atenção dele a postura da escolta, que parecia de policiais. Ele fotografou e fez uma denúncia na Corregedoria”, disse o secretário.
Os celulares desses policiais militares foram apreendidos. Derrite também afirmou que os agentes encontraram material genético no veículo abandonado pelos criminosos. “O armamento vai passar por perícia também. Serão feitos exames de comparação balística das armas apreendidas”, explicou Derrite.
Entenda o caso
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, foi morto a tiros na sexta-feira (8) enquanto desembarcava no Aeroporto de Guarulhos após voltar de Maceió. Ele era ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e pivô de uma guerra interna na facção criminosa.
Gritzbach desembarcava no aeroporto quando foi alvejado por dez tiros. Ele estava voltando de uma viagem de Maceió com a namorada e teria encontrado dois seguranças. Um deles, estava com o filho do empresário, conforme apurou o colunista do UOL Josmar Jozino. Assim que ele deixou o saguão do aeroporto, o empresário foi assassinado por dois homens encapuzados com fuzis. Os atiradores entraram em um Gol preto e fugiram do local.
Um motorista de aplicativo também foi morto no atentado. Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi levado para a UTI após ser atingido por um tiro nas costas, mas não resistiu.
Outras duas pessoas ficaram feridas. Samara Lima de Oliveira, 28, e o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, também foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos. William sofreu ferimentos na mão direita e ombro e está em observação. Samara foi atingida superficialmente no abdômen e acabou liberada. Nenhum deles, nem o motorista de aplicativo, tinham ligação com o empresário, disse a polícia.
Gritzbach estava ameaçado de morte e havia recompensa por sua execução. Ele era acusado de ser o mandante da morte de um narcotraficante ligado ao PCC e também por delatar ao Ministério Público de São Paulo policiais civis envolvidos em casos de corrupção. Em abril, ele entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) um áudio de uma conversa entre dois interlocutores negociando a morte dele por R$ 3 milhões.
O empresário enfrentava um processo pelos assassinatos de dois criminosos. Seriam eles o narcotraficante e Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, criminoso influente no PCC, além do motorista de Cara Preta, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. As vítimas foram mortas a tiros às 12h10 de 27 de dezembro de 2021 em frente ao número 110 da rua Armindo Guaraná, no Tatuapé, zona leste paulistana. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em 16 de janeiro de 2022, no mesmo bairro. A cabeça dele foi decepada.









