Por Aline Moura* — Enlutados costumam ser terríveis. No domingo passado (7), não foi tão simples como as fotos mostraram. Quando o América de Natal fez um gol, nos sentamos na arquibancada. Parecia um filme que já tínhamos visto, eu principalmente.
Começamos o processo de luto antes de o jogo acabar. Minha cunhada, que um dia foi rubro-negra, deu a primeira palavra: “E agora eu sinto toda essa dor por causa de Rami (meu irmão e marido dela)”. Meu sobrinho Lucas respondeu: “E eu sinto tudo isso por causa de você e de painho”. “E eu já disse a Heitor que ele é livre para torcer para quem quiser, mas ele não quer torcer contra o time do irmão”, continuou a cunhada que mais amo, na depressão do fim do mundo. “E a culpa de tudo isso é de painho”, reclamei no meu luto final, até que uns minutos se passaram.
Um gol, então, saiu de uma rádio que não vimos no telão. Era a Rádio Jornal se antecipando ao gol de Balotelli antes do telão. Eu cruzei os braços, incrédula. Meu sobrinho Lucas falou: “Gol, tiiiia Aline!”, em carioquês. Eu não acreditei. Fiquei de braços cruzados até o bandeirinha se mover. “Tiiia Aline, foi gol, eu avisei”. E eu, emburrada: “Tenho 51 anos e já vi de tudo no Arruda”. Quando o bandeirinha foi para o meio do campo, eu fiquei perplexa. Fui a última a gritar naquele estádio, a cantar todas as músicas.

Eu já joguei dominó no Arruda, joguei futebol no campinho de barro, já fui para baile. Tudo para salvar o Santa, só não vendi ovo. Eu estava lá em todas as derrotas e vitórias… Mas comecei a pular na arquibancada com a certeza de Lucas. Beijei o gramado depois. Enlouquecemos. Choramos. Sorrimos. Gritamos. Ainda assim, queríamos encontrar o culpado desse nosso sofrimento eterno e estávamos dispostos a ir ao núcleo da terra.
“E se foi o pai de vovô Toy que fez isso conosco?”, arrematou Lucas. “Foi não”, respondi. Seu avô tinha síndrome de oposição. Foi ele mesmo quem nos trouxe para essa loucura.
“E eu não paro, não paro não, sou Santa Cruz, sou tricolor de coração.”
A culpa é do Santa existir. Não precisamos mais chegar ao núcleo da terra pra saber de quem é a culpa. O Santa é tudo. A beleza. O morro. A resiliência. A paixão. A empatia com desconhecidos. A vida!
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*Aline Moura é jornalista formada pela UFPE, repórter do Tribuna Online, do portal da TV Tribuna/Band e uma tricolor “arretada”.










