Da Redação do Blog – Ex-trabalhadores do Hospital Português, o maior complexo hospitalar do Nordeste, lançaram manifesto criticando a Justiça do Trabalho por decisões favoráveis ao hospital que “deram continuidade à impunidade e favoreceram a instituição de maneira flagrante”.
Mencionam, entre outros, os casos de Maria Elisa Pinheiro da Costa, Daniele da Silva Andrade, Andréa Amâncio da Silva, William Sousa Soares da Silva e Priscila Maciel, que perderam ações na Justiça do Trabalho por insalubridade e assédio moral.
O manifesto acusa o Hospital Português de manter “condições de trabalho precárias”, de “falta de cuidado” da administração e de não se importar “com a segurança e o bem-estar dos colaboradores”. Diz que uma das advogadas trabalhistas da instituição, Hughenne Bertha Cabral, é parente de um juiz do trabalho do Recife.
O Real Hospital Português do Recife registra uma receita bruta anual de R$ 1,3 bilhão, possui mais de 10 mil profissionais, entre colaboradores e médicos, e é um dos maiores centros de transplante da América do Sul, chegando a realizar quase mais de 460 procedimentos por ano. Vai investir recursos elevados na construção de uma unidade em Boa Viagem, na Zona Sul.

Confira a íntegra do manifesto dos ex-funcionários:
“Nós, ex-colaboradores do Hospital Português de Recife, viemos a público manifestar nossa indignação e repúdio às decisões tomadas pela Justiça do Trabalho em favor da instituição hospitalar, em detrimento dos direitos dos trabalhadores. Ao longo de diversos processos movidos por nós, fomos surpreendidos com decisões que, ao invés de reconhecerem a vulnerabilidade de quem estava na linha de frente, deram continuidade à impunidade e favoreceram a instituição de maneira flagrante.
Vários de nós, que confiamos no Hospital Português enquanto trabalhadores dedicados, tivemos nossa saúde prejudicada em virtude de condições de trabalho precárias e falta de cuidado da administração. A exemplo disso, destacamos os casos da colaboradora Andrea, que perdeu o movimento do braço, da Daniele, que sofreu uma crise de ansiedade perseguição, e do Luciano, que precisou de cirurgia devido a lesões no braço.
O caso de Wiliam, que denunciou ao Ministério do Trabalho e foi demitido por justa causa, revela a verdadeira face de uma instituição que não se importa com a segurança e o bem-estar dos seus colaboradores. Outros como Maria Elisa também sofreram injustiças com a recusa da rescisão indireta, enquanto a instituição persistia em sua postura de desamparo e perseguições.
Outro ponto crucial é a questão da insalubridade. Os trabalhadores que atuavam diretamente no atendimento ao público, especialmente as recepcionistas, expostas constantemente a pacientes e ao risco de várias doenças, inclusive durante o período crítico da pandemia de COVID-19, não receberam o devido reconhecimento. Mesmo sendo claros os riscos a que estavam expostos, os direitos relativos ao adicional de insalubridade foram negados, colocando em risco a saúde e a segurança desses profissionais.
O Hospital Português diz ser filantrópico, mas os atendimentos e internamentos são valores altos por ser um hospital da elite pernambucana, com um internamento custando R$ 60.000 ao dia.
O fato de as decisões judiciais terem sido favoráveis ao hospital, mesmo em casos tão evidentes de violação dos direitos trabalhistas, evidencia uma grave falha do sistema judiciário. A aparente influência que o hospital exerce sobre o processo judicial em Recife se traduz em um ambiente de impunidade que mina a confiança dos trabalhadores na justiça.
Advogada do hospital Hughenne Bertha Cabral é da família de juiz do trabalho. A sensação é de que, mesmo diante da evidência de maus-tratos, a pressão de grandes instituições impede que as vítimas da exploração e negligência sejam devidamente compensadas e tratadas com a justiça que merecem. Nós, ex-colaboradores, nos sentimos desprotegidos, com nossa saúde e nossos direitos ignorados.
A falha da Justiça do Trabalho em garantir uma decisão justa tem gerado sofrimento e indignação, não só pelos danos físicos e emocionais que sofremos, mas também pelo medo constante de que outras pessoas continuem sendo vítimas dessa instituição. Exigimos que a justiça seja feita! “
O OUTRO LADO
Fizemos contato com a assessoria do Hospital Português, que até agora não enviou o retorno prometido. O espaço está aberto a manifestações e a reportagem poderá ser atualizada a qualquer momento.









