EXCLUSIVO, por Luiz Roberto Marinho – Foi uma “minuciosa preparação”. É assim que o inquérito policial descreve o assassinato da técnica de enfermagem Maria Clara Adolfo de Souza, de 21 anos, grávida de quase quatro meses. Relata o inquérito que num único dia, o fatídico 24 de julho último, o policial militar João Gabriel Tenório Ferreira, de 25 anos, pegou emprestada de uma colega da PM a arma do crime, praticou tiro num estande, descarregou 11 balas na ex-namorada, devolveu em seguida a arma à colega de farda e depois foi dormir com a noiva.
Diz o inquérito ter a perícia policial constatado, no exame de balística, que o revólver Taurus 9mm modelo G3C, número de série ADJ692769, emprestado ao PM pela soldado Emanuelly Theksandy Silva, foi a arma usada para matar Maria Clara. Comprovou a perícia que uma das balas encontradas no corpo da técnica de enfermagem “percorreu o cano da referida arma”.
Descreve que João Gabriel pediu emprestado o revólver Taurus 9mm em 24 de julho. Praticou tiros num estande na tarde do mesmo dia, descarregou 11 tiros do revólver na ex-namorada à noite e na mesma noite devolveu o Taurus 9mm à colega policial, que fazia ronda na Agência Central dos Correios, na Avenida Guararapes, no centro do Recife. Depois de tudo isso, foi dormir com a noiva na casa dela, no bairro de Campo Grande, na zona norte.
“A conclusão da perícia demonstra que o imputado” (o PM João Gabriel) “preparou toda uma condição de usar a arma de uma colega de farda a pretexto de ir para o estande de tiro quando na verdade foi usada na execução do crime”, escreve no inquérito a delegada adjunta da 2ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), em Jaboatão dos Guararapes, Lenise Valentim da Silva.
As investigações do crime, que chocou o Recife e provocou nota de pesar da governadora Raquel Lyra, detalham que o PM “conseguiu uma arma de fogo que não fosse a sua, a qual logicamente seria apreendida e periciada, sendo ele dessa forma um suspeito natural”. A arma de João Gabriel, entregue à polícia quando ele se apresentou à delegacia, em 1º de agosto, junto com uma advogada, é também um Taurus 9mm, mas de outro modelo, TH9C.
A apuração conduzida pelo delegado Sérgio Ricardo Ferreira Vasconcelos, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), descobriu que em 21 de julho, três dias antes do crime, João Gabriel pediu à colega da PM Priscilla dos Santos, por mensagem de WhatsApp, o Taurus 9mm dela emprestado, para praticar tiros num estande no dia seguinte. Ao contrário da colega Emanuelly, Priscilla negou o empréstimo.
Também pelo WhatsApp o PM solicitou ao colega Pedro Victor Santana Tavares orientação para comprar um “cabrito”, expressão usada para arma ilegal. Diz o inquérito que as duas tentativas, que acabaram frustradas, mostram que João Gabriel “tentou, com mais de uma pessoa, conseguir uma arma de fogo para o crime que não fosse a dele”.
O motivo do brutal assassinato, confirma o inquérito, foi a recusa de Maria Clara em abortar uma bebê resultante do relacionamento “conturbado” com João Gabriel, que se chamaria Aurora. Segundo a polícia, o PM manteve um romance com a técnica de enfermagem mesmo estando noivo e temia o rompimento do noivado e a obrigação de pagar pensão alimentícia.