Por Mhatteus Sampaio – Falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), locais inadequados para a retirada dos EPIs que parte dos profissionais compraram com recursos próprios e até insuficiência de água e sabão. Esse é o cenário relatado por profissionais do Hospital Agamenon Magalhães, na Zona Norte do Recife, durante o período da pandemia do novo coronavírus.
Um dos profissionais, que não quis se identificar, relatou o que tem acontecido na unidade de saúde – demonstrado em imagens captadas também anonimamente no local, administrado pelo governo de Pernambuco.
“Muita gente comprou (EPIs). Eu tive que comprar face shield, que é proteção facial, e óculos. Lá não tem disponível, pelo menos os que são adequados. [Os que tem] São uns lá que a gente não consegue limpar direito. Isso não é bom. Mas o grande problema é local para fazer desparamentação, infecção cruzada entre os pacientes, porque não tem espaço adequado. Está realmente muito complicado”, contou.
Segundo o profissional, um dos momentos críticos é o da “desparamentação” – quando os médicos e enfermeiros tiram os equipamentos de proteção. Se não for feita da forma correta, a retirada dos materiais representa um grande risco de contaminação.
“A gente não está conseguindo fazer isso lá adequadamente, simplesmente porque não tem local para que a gente consiga fazer todos os passos sem se contaminar”, disse.
Ainda de acordo com ele, há também obras acontecendo no mesmo ambiente em que pacientes estão internados. “Tem paciente internado e pedreiro dentro da sala quebrando, tentando arrumar as coisas. Está uma coisa horrível”, declarou.
Governo nega
Em entrevista à TV Globo, o secretário estadual de saúde, André Longo, negou que a situação relatada seja real.
“A gente tem uma preocupação especial com esses profissionais. Pernambuco foi o primeiro estado a ter um protocolo de testagem e afastamento para esses profissionais. Há um envolvimento de todos para garantir os EPIs necessários para a atuação. É certo que há pontualmente, por algum momento, algum tipo de dificuldade. Mas não procede a falta de equipamentos de proteção individual no Agamenon Magalhães”, disse.
Segundo ele, as imagens relatam uma “dificuldade extrema” que não corresponde à realidade, como – ainda de acordo com o secretário – aconteceu em outros hospitais do estado.
“A gente tem visto a produção de alguns vídeos fakes em alguns hospitais, colocando uma situação de dificuldade extrema que muitas vezes não é a realidade. Já flagramos isso no Hospital Otávio de Freitas”, declarou.
Apelo
Outra profissional do hospital, que também não quis se identificar, falou sobre o alto nível de estresse a que ela e os colegas têm sido submetido – enquanto há pessoas que minimizam a gravidade da situação e desrespeitam as recomendações das autoridades sanitárias.
“Isso é revoltante, porque, enquanto a gente está se expondo aqui, todos os dias, quando chegamos em casa também tem um longo ritual que fazemos de deixar os sapatos fora de casa, de ir direto tomar banho, e as pessoas ainda estarem com brincadeiras, pensando que não é real. Porque é real”, afirmou.
A profissional contou sobre a dor que a doença causada pelo novo coronavírus traz em todas as etapas.
“Me sinto arrasada, destruída, com [o fato de] as pessoas não poderem ver seus parentes pela última vez. É destruidor, acaba com qualquer um, porque, em velórios comuns, a gente pode ver, abraçar, beijar. Com essa doença, não pode fazer isso”, declarou.
Outro ponto difícil, diz, é manter a saúde mental durante período de tal dificuldade. Mas ela adotou estratégias para permanecer firme no propósito de ajudar a salvar vidas. “Tenho feito terapias online, tenho preparado meu psicológico antes de sair de casa, de que tudo vai dar certo, de que vai ser um dia diferente do anterior e tenho pensado coisas positivas”.
Coronavírus em Pernambuco
Pernambuco contabilizou mais 200 novas confirmações de pacientes com a Covid-19 no estado, nesta quarta-feira (15). Com isso, o número subiu para 1.484 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O estado confirmou, também, 28 mortes de pessoas que tinham a doença, subindo para 143 mortes pela Covid-19.
Nesta quarta (15), o aumento diário no número de casos foi o maior registrado desde o início da divulgação dos números do novo coronavírus. O número diário de mortes também é o maior desde que o estado passou a emitir boletins.







