De André Spigariol para a Crusóe — Notabilizada por promover palestras e seminários vinculados à ala olavista do governo Bolsonaro, a Fundação Alexandre de Gusmão, Funag, consome cerca de 15 milhões de reais por ano durante a atual gestão de Ernesto Araújo à frente do Itamaraty. No ano passado, o chanceler chegou a participar de uma conferência sobre os perigos do “globalismo” promovida pela Fundação (foto), com participação massiva de bolsonaristas, a exemplo do blogueiro Flavio Morgenstern e da deputada Chris Tonietto.
O órgão assegura que não emprega recursos públicos para remunerar palestrantes de seus eventos presenciais e online, a exemplo dos blogueiros bolsonaristas Bernardo Küster e Allan dos Santos, mas também vê como riscos à sua integridade “ameaças à imparcialidade e à autonomia técnica”.
“A FUNAG, na atual gestão, jamais remunerou qualquer palestrante ou outro tipo de orador convidado para participar de evento patrocinado ou apoiado pela Fundação. Todos os mais de 440 palestrantes, moderadores ou mesmo autoridades que tenham participado de mesas de abertura de eventos promovidos ou apoiados pela FUNAG desde o início de 2019 até hoje participaram desses eventos de maneira totalmente gratuita”, diz a entidade, presidida por Roberto Goidanich (foto), em documento oficial encaminhado a Crusoé.
Em seu plano de integridade — conjunto de medidas com o intuito de prevenir, detectar e punir irregularidades diversas, como fraudes, corrupção e desvios de conduta — entregue à Controladoria Geral da União no ano passado, a Funag relacionou como um risco “ser influenciado a agir de maneira parcial por pressões internas ou externas indevidas, normalmente ocorridas entre pares, por abuso de poder, por tráfico de influência ou constrangimento ilegal”. Isso não impediu a Fundação, no ano passado, de desistir da publicação de uma biografia de seu patrono, o diplomata Alexandre Gusmão, em livro de Synesio Goes Filho, cujo prefácio havia sido escrito pelo ex-embaixador Rubens Ricupero, crítico contumaz de Ernesto Araújo.

A fundação é referência no mercado editorial para obras sobre a política externa, mas reduziu essa atividade. Entre 2016 e 2018, sob o governo Temer, a Funag teve uma média de 41 publicações novas por ano. No ano passado, porém, a Fundação disponibilizou somente 17 novas edições. Neste ano, até agora foram apenas oito publicações, sendo cinco delas referentes à nova coleção do Itamaraty para ensino de língua portuguesa.
Trabalham nos gabinetes da Funag 39 funcionários atualmente, de acordo com o Portal da Transparência, mas a fundação vem sofrendo cortes. Entre 2018 e 2020, a fatia do gasto federal destinado ao órgão caiu de 16,9 milhões de reais para 14,4 milhões. Já no ano passado, a repartição teve 1,2 milhão a menos para gastar em relação ao último ano do governo de Michel Temer. No auge do governo Dilma, em 2011, a Funag chegou a ter 35,8 milhões de orçamento, em valores atualizados.
Em maio, o presidente da Funag chegou a pedir ao Ministério da Economia que seminários online da fundação, com presença de blogueiros bolsonaristas, fossem divulgados para servidores federais através das ferramentas de comunicação interna do governo, mas a solicitação não foi atendida.