EXCLUSIVO, Por André Beltrão – A execução a tiros de grosso calibre, dentro de uma caminhonete de luxo, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no início desta semana, expôs uma série de problemas e ligações ainda não explicadas do ex-soldado da PM Heleno José do Nascimento Júnior, o Júnior Black. Expulso da corporação “a bem da disciplina”, em setembro de 2021, ele ficou exatamente um ano a mais recebendo salário do governo do estado. Também andava armado, embora não tivesse mais autorização para portar pistolas ou revólveres. Além disso, o ex-policial colecionava processos na Justiça, desde questões com bancos e até uma acusação de furto dentro do presídio militar.

Júnior Black foi assassinado por homens encapuzados, na tarde de segunda (17), na frente do Bar do Nô. Uma mulher levou uma bala perdida e também morreu. Na terça, o blog divulgou, com exclusividade, que o ex-PM também estava na cena de um crime brutal, na BR-316, na quinta (13), em Parnamirim, no Sertão.
Dois homens foram executados dentro de um carro. A PM enviou uma nota ao blog e informou que investiga essa ligação de Black com o caso do interior pernambucano. Uma fonte disse que a execução de Boa Viagem seria uma vingança contra a ação que aconteceu em Parnamirim, distante mais de 500 quilômetros.
Um vídeo publicado pelo blog, também com exclusividade, mostra Black de camisa rosa, com uma arma na mão, junto a PMs do Batalhão Especializado do Interior (Bepi), responsáveis por uma operação contra suspeitos de roubos, segundo a polícia, de “alta periculosidade”.
— Ricardo Antunes (@blogricaantunes) July 18, 2023
A caminhonete Hilux, em que Black foi fuzilado, no Recife, está estacionada na área onde os PMs sertanejos disparam tiros de armas longas contra o Celta em que estavam os dois suspeitos.
O fato é que documentos do governo do estado mostram que, durante um ano, Júnior Black ficou recebendo o salário de pouco mais de R$ 5,2 mil, mesmo depois de ter sido expulso da corporação. Os vencimentos foram depositados até setembro de 2022, quando a punição foi concretizada em setembro de 2021.
Essas informações são públicas e estão no Portal da Transparência e na portaria que determinou a expulsão do ex-PM.

Uma fonte do blog afirmou que o prazo de um ano deve ter sido o tempo de tramitação de recursos que Júnior Black moveu para tentar evitar a punição maior. “São seis meses de recurso para a Secretaria de Defesa Social (SDS) e seis meses para avaliação do governador. Os dois pedidos de reconsideração foram negados. Mas ele ficou esse tempo recebendo o salário”, afirmou.
É bom lembrar que o ex-PM foi expulso por participar de um motim quando estava no presídio militar, em Abreu e Lima, no Grande Recife. Ele e outros policiais envolvidos em crimes foram julgados por “grave violação da ordem e da disciplina”. O ex-PM foi preso, segundo a Polícia Civil, por envolvimento com grupos de extermínio.
Júnior Black respondeu a processos judiciais até o dia 20 de junho deste ano. A Justiça Militar encerrou o julgamento do caso em que ele e outros PMs foram acusados de furto e outros crimes dentro do presídio militar, o Creed. A Justiça Militar, ora vejam só, alegou falta de provas e absolveu todos os acusados.

Em 2014, Black foi alvo de busca e apreensão em uma ação de alienação fiduciária, em Jaboatão. Ele fez um financiamento, mas não pagou pelo bem como deveria e acabou sendo processado.
Ele também foi réu em casos em juizados cíveis no Recife e na Vara da Fazenda Pública, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana.
Patrimônio
Com um salário de soldado, de pouco mais de R$ 5,2 mil por mês, Júnior Black montou um patrimônio de mais de R$ 3 milhões.
Morava em um apartamento localizado em uma torre de alto padrão da Moura Dubeux, em Boa Viagem, e tinha a “já famosa” Hilux, avaliada em mais de R$ 300 mil.
Também tinha quatro carretas, transportadora de cargas, depósito de bebidas e outros imóveis.
Entre os veículos, chamava a atenção uma moto italiana Ducati vermelha, considerada a “Ferrari das motos” Um exemplar desses custa entre R$ 160 e R$ 500 mil e chega a 300 quilômetros por hora. Nas redes sociais, Black posou com a motocicleta e escreveu: “Gratidão a Deus por tudo pelo brilho que ele me Presenteou pela minha família pelos irmãos que a moto me trouxe. Deus abençoe o nosso rolê”.
Também nas redes sociais, o ex-PM apresentou uma irmã, no dia do aniversário dela. Black tinha amigos italianos, que apareceram em vídeos no Instagram, e frequentava baladas e restaurantes da classe alta e a Academia Santè, na Zona Sul, uma das mais famosas da cidade.
Colegas e vizinhos disseram ao blog que ele gentil e sempre falava com as pessoas com “muita cortesia”. Horas antes de ser executado, fez ginástica na Academia Santè em Boa Viagem, sem demonstrar qualquer medo, segundo testemunhas.
Vizinhos informaram que pais e parentes de Júnior Black estiveram no condomínio, após a morte dele, para recuperar alguns objetos na cobertura em que ele vivia.
Outro lado
O Blog procurou a Secretaria de Defesa Social (SDS) e fez alguns questionamentos sobre o pagamento de salários para Júnior Black, mesmo após a expulsão da PM, e a respeito do porte de arma sem autorização. Assim que a resposta for enviada, a matéria será atualizada com o Outro Lado.
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