Do G1 – O diretor-geral da Polícia Federal reagiu, nesta segunda-feira (6), às suspeitas de interferência política na corporação para beneficiar parentes e aliados do presidente Jair Bolsonaro. Desde que Paulo Maiurino assumiu o cargo, 20 delegados foram afastados de postos-chave da PF. A mais recente mudança, que gerou preocupação entre equipes da Polícia Federal, foi o afastamento da delegada Dominique de Castro Oliveira. Ela atuava na Interpol, uma organização internacional com polícias do mundo inteiro e cuidou diretamente dos trâmites para a extradição do blogueiro Allan dos Santos, investigado no inquérito das fake news e das milícias digitais. Allan dos Santos é um dos principais aliados do presidente Bolsonaro e dos filhos do presidente e está foragido.
Em mensagem postada em um grupo de servidores da Interpol, Dominique escreveu: “Além da incredulidade, há forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada”.
A troca de Dominique faz parte de 20 mudanças em postos de comando da corporação que ocorreram desde abril, mês em que assumiu o atual diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino. Ele foi escalado pelo presidente Bolsonaro em meio a investigações no Supremo Tribunal Federal que apuram suposta interferência política do presidente na Polícia Federal. O inquérito está em andamento há 16 meses. O caso começou em maio de 2020, após a divulgação de um vídeo de uma reunião ministerial, em Brasília. O estopim foram frases como estas: “Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse Bolsonaro, em 22 de abril de 2020.
Este ano, houve uma série de trocas em superintendências que cuidam de casos sensíveis e de interesse do governo e de parentes do presidente. Fontes ouvidas pelo Jornal Nacional demonstram preocupação com os rumos da instituição e alertam que os critérios de seleção usados nessas mudanças fogem do usual. Policiais que, até outro dia, eram encarregados de serviços rotineiros, sem experiência em diretorias, agora, comandam superintendências.
O novo comandante da PF em São Paulo, Rodrigo Bartolamei, assumiu em maio. Até 2019, ocupava o posto de plantonista da PF no Rio de Janeiro, onde já se envolveu em situações atípicas. Mobilizou uma operação sigilosa em uma favela do Rio para recuperar o telefone celular do então advogado-geral da União, André Mendonça, que vai assumir uma cadeira no STF. O aparelho foi recuperado em ação conjunta com a PM. Rodrigo Bartolamei foi investigado internamente por ter organizado um esquema de proteção particular, extraoficial, para um represente do Catar na Copa do Mundo no Brasil. O caso foi arquivado, mas um incidente desse tipo, normalmente, seria um empecilho numa disputa interna por cargos.
O pai de Rodrigo é um general próximo de Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, onde o delegado também já trabalhou. No Distrito Federal, assumiu outro ex-delegado plantonista do Rio: Victor Cesar Carvalho dos Santos. A boa relação dele com advogados de Flávio Bolsonaro teria facilitado essa nomeação. Victor Cesar substituiu, em outubro, Hugo de Barros Correia. O Jornal Nacional apurou que Hugo foi tirado do cargo após não ter cedido a pedidos de superiores interessados em informações sigilosas de investigações.

Passaram pela mão dele inquéritos que envolvem o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e Jair Renan, filho do presidente. Em Pernambuco, a saída da então superintendente, Carla Patrícia, é atribuída, nos bastidores da PF, a um pedido do senador Fernando Bezerra, líder do governo no Senado. Ele foi alvo de busca em inquérito da Polícia Federal que investiga desvio de R$ 5,5 milhões em propina em obras no Nordeste.
No Pará, outro policial vindo do Rio, o delegado Fábio Andrade, assumiu a superintendência na semana passada. Fontes ouvidas afirmam que ele é próximo do pastor Everaldo, que batizou Jair Bolsonaro no rio Jordão, em Israel. Em mensagem enviada para a categoria em 16 de novembro, Paulo Maiurino disse que “as negociações da proposta contaram com o apoio e aprovação prévia do senhor presidente da República”.
Nesta segunda-feira, o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, reagiu às acusações de interferência política no órgão. À TV Globo, ele diz que nunca recebeu nenhum pedido para manter ou substituir nomes em cargos de chefia e diz que essas acusações têm objetivo de desgastar o governo e a PF.
A investigação que apura se houve interferência na PF tem como relator, no STF, o ministro Alexandre de Moraes. Ao fim do inquérito, caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se há elementos para apresentar uma denúncia formal.