Por G1 Pernambuco – Jonas Correia, homem que perdeu parte da visão ao ser atingido por bala de borracha durante a ação violenta da Polícia Militar (PM) em protesto pacífico contra Jair Bolsonaro (sem partido), em 29 de maio, no Recife, assinou um acordo com o governo. O extrato de transação extrajudicial foi publicado nesta quarta-feira (11) em uma edição extra do Diário Oficial do Estado.
Em entrevista ao G1, o arrumador de contêineres, de 29 anos, afirmou que “ficou satisfeito” com o acordo celebrado com o governo, mas não quis falar sobre o valor definido. A vítima da truculência da PM disse, ainda, que agora, vai pensar no futuro.
“Quero dar o melhor para a minha família. Meu futuro é ficar e cuidar bem da minha família”, afirmou Jonas Correia.
Jonas não fazia parte da manifestação e estava saindo do trabalho. Enquanto conversava com a esposa, foi atingido por um tiro, disparado a poucos metros de distância.
Sobre o tratamento, Jonas afirmou que vai voltar ao médico em novembro deste ano para retomar os cuidados. “Tenho o laudo definitivo que aponta perda total da visão e deformação nos olhos”, observou.

A outra vítima foi o adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, que até agora não entrou em acordo com o governo. Ele também não participava do ato e foi atingido no olho esquerdo quando estava indo buscar material de trabalho. Ele perdeu o globo ocular após o disparo.
De acordo com o advogado Marcellus Ugiette, que defende os direitos de Daniel, o governo ofereceu, em uma reunião realizada na quinta-feira (5), R$ 150 mil e o pagamento de pensão mensal vitalícia, no valor de um salário mínimo, mas a proposta não foi aceita.
“Estamos fazendo os exames dele para saber o grau de perda em termos laborais, de trabalho, e até quarta-feira a gente dá uma resposta com uma contra proposta ao governo. Não achamos justo o valor oferecido. Daniel não deu causa a isso e o estado, com sua ação precipitada e ilegal, deu causa a essa situação que deve perdurar pela vida toda. O estado tolheu os sonhos de Daniel”, disse.
De acordo com o advogado, o adesivador pretendia aumentar o negócio e trabalhar mais para dar uma vida melhor para os familiares. “Ele tem um filho deficiente e os sonhos foram tolhidos por uma ação do estado. O direito dele é muito maior do que o estado está propondo”.

Governo
Por meio de nota, a Procuradoria-Geral do estado (PGE) afirmou que “em respeito à preservação das informações pessoais, não irá comentar detalhes nem divulgar valores do acordo realizado com o Sr. Jonas Correia de França”.
Ainda segundo a PGE, “a publicação do extrato no Diário Oficial do Estado é um procedimento padrão em cumprimento à exigência legal para efetivação da transação”.
Ação Truculenta da PM
A ação truculenta da PM diante do protesto pacífico provocou reações e a conduta da tropa foi questionada por especialistas. No ato, além dos dois homens atingidos por balas de borracha nos olhos, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto.
O cantor Afroito foi preso na manifestação e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais. Uma mulher sofreu ferimento em uma das pernas decorrente de disparo de bala de borracha.

Investigação
No dia 6 de julho, Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) informou que concluiu as investigações preliminares sobre a conduta dos PMs. Sete processos administrativos disciplinares foram abertos pela Corregedoria-Geral contra os envolvidos.
Ainda de acordo com a SDS, os policiais continuam afastados de suas funções. Um deles cumpre afastamento cautelar, com recolhimento de armamento e carteira funcional.
A secretaria não informou os nomes dos PMs que tiveram as investigações preliminares transformadas em processos administrativos. Dos 16 investigados preliminarmente, há 13 praças e três oficiais.
Em junho, a TV Globo teve acesso a documentos com nomes e patentes de todos os agentes de segurança que foram retirados das ruas para serem investigados pela Corregedoria-Geral.
São eles: Caetano Marcelino da Silva (segundo sargento); Daniel José dos Santos (terceiro sargento); Ivson Pereira da Silva (terceiro sargento); Everlane Laine Tavares Silva (terceiro sargento); Reinaldo (Belmiro Lins (terceiro sargento); Rodrigo Félix de Lima (terceiro sargento); Jairton Galdino da Silva (terceiro sargento), Wellington José da Silva (Cabo) e Severino Everton Lira de Lima (cabo);
Estão ainda, entre os punidos Ronaldo Santos de Lima (sargento) e os soldados Paulo Henrique Ferreira Dias, Aberlryton José Mendes de Aguiar e Lucas França da Silva.
Também foram afastados os seguintes oficias: Tiago Carvalho da Silva (tenente), Élton Máximo de Macedo (capitão) e Giilson Monteiro da Silva (major).
O estado ainda não divulgou oficialmente de quem partiu a ordem para dispersar os manifestantes no ato pacífico. Um documento interno da PM mostrou que a determinação foi do comando-geral da PM.







