EXCLUSIVO, por Renata Noiar – Revolta e indignação. Esses foram os sentimentos de Anna Lundgren ao ser barrada na visita ao Casarão Lundgren, a casa centenária que abrigou uma das famílias mais tradicionais do Brasil. Localizada no município de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, o Casarão Lundgren foi residência de Robert Bruce Harley e sua esposa Erenita Helena Groschke Cavalcanti Lundgren, que era herdeira da famosa rede Casas Pernambucanas, criada por seu pai, Arthur Herman Lundgren.
A residência é aberta à visitação do público, recebendo mais de uma centena de pessoas mensalmente – à exceção de alguns parentes. Pelo menos foi essa a sensação de Anna ao tentar visitar a casa em que seus avós e sua mãe cresceram. Bisneta de Arthur Lundgren, neta de Milton Lundgren, sobrinha de Anita Lundgren Harley com direito a receber parte dos lucros obtidos com a visitação, Anna Lundgren teve sua entrada proibida, segundo funcionários do Casarão, por um dos administradores do local, e seu primo em primeiro grau, Anton Lundgren.
“Ele é um escroto, é um louco”, desabafou Anna a um amigo. “Isto é um absurdo. Sou herdeira direta, mais herdeira do que ele, porque o avô dele nasceu depois do meu avô”, protestou Anna, dona de uma corretora de seguros no Rio de Janeiro aberta justamente com o nome ilustre da família – Lundgren. Em visita ao Recife, ela quis conhecer o palacete dos antepassados, mas só lhe foi permitido percorrer a área externa, sem direito a visitar salas e quartos.

Em telefonema à prima, relatado por Anna ao amigo, Anton explicou que as visitas têm de ser obrigatoriamente agendadas. “Se você tivesse avisado um dia, dois dias antes, não haveria problema algum”, justificou-se.
A casa foi projetada por engenheiros alemães e ingleses e possui decoração imponente. Hoje, é mantida como um grande museu aberto à visitação pública. A maioria dos móveis é da época de seus moradores, sendo preservados pela família. A mesa de madeira da sala, o telefone, as poltronas verdes, a banheira, o fogão à lenha “moderno” para a ocasião, tudo continua mantido. A casa atrai visitantes pelo nome ilustre dos proprietários e por ser um pedaço da Europa em terras pernambucanas.
Fundada em 1908, a Casas Pernambucanas, uma rede de lojas de departamento que vende de roupas de cama a vestuário e produtos eletrônicos, tem mais de 500 unidades em 16 estados. Acordo assinado há três meses pôs fim a uma briga familiar sobre a gestão do grupo que se arrastava desde os anos 80.
A Pernambucanas tem seis blocos familiares com 35 acionistas pessoas físicas, resultando numa governança lenta que paralisava a empresa em muitas situações. A maior participação acionária na família, com 48% das ações de uma das holdings do grupo, é de Anita Harley, em coma há cinco anos depois de sofrer um AVC e que tem como curador o filho Arthur Miceli. O grupo está reestruturando uma dívida de R$ 366 milhões e recentemente se desfez de 23 lojas.