Do G1 — O caso da troca de cadáveres de dois homens que morreram no mesmo dia, em julho deste ano, em um hospital da rede pública de Pernambuco, no Recife, começou a ser solucionado. Nesta sexta (5), a família de Amilton Gomes da Hora, de 67 anos, informou que recebeu o corpo “correto”. O aposentado tinha sido enterrado no interior do estado e teve que ser exumado, após ordem da Justiça.
A troca dos corpos foi descoberta pela família de Amilton, quando o corpo chegou para os funerais. O aposentado morreu de infecção generalizada no dia 23 de julho, no Hospital Getúlio Vargas (HGV), na Zona Oeste da capital pernambucana.
No mesmo dia, outro homem morreu na mesma unidade. Foi justamente esse corpo que a família de Amilton Gomes da Hora recebeu. Assim, o cadáver do aposentado seguiu para Sanharó, no Agreste, e acabou sendo sepultado pelos parentes dele.
Diante da confirmação da entrega do corpo verdadeiro, o advogado Rosano Apolinário da Silva, contratado pelos parentes de Amilton, disse que vai entrar com uma ação por danos morais contra o governo de Pernambuco. “Foi muito sofrimento para todos. Não abriremos mão disso”, declarou.
O caso foi parar na Polícia Civil, que está fazendo a investigação. Em julho, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), responsável pelo HGV, disse que também iria apurar a troca de corpos.
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Exumação
O caso da troca de corpos começou a ser solucionado a partir de uma ação judicial movida pela família de Amilton, que exigiu a exumação do corpo que estava em Sanharó.
Segundo a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), no dia 2 de agosto, foi apresentado o pedido de autorização judicial para permitir a exumação.
A meta era “permitir a sua identificação por meio dos órgãos da Administração Pública Estadual e a entrega aos respectivos familiares, para que pudessem velá-lo e enterrá-lo”.
Ainda segundo a PGE, O pedido foi atendido pela Vara Única da Comarca de Sanharó e o corpo foi exumado na quinta (5) com a presença de um procurador do estado.
No documento da PGE, consta que o corpo do homem enterrado como se fosse Amilton Gomes da Hora era, na verdade, Severino Pereira de Albuquerque.
IML
O corpo de Amilton, segundo a família, chegou ao Instituto de Medicina Legal (IML), na área central do Recife, no início da tarde desta sexta. A enteada do aposentado Roberta Alves disse que fez o reconhecimento por meio de uma foto.
Em seguida, o advogado Rosano Apolinário da Silva informou que a viúva de Amilton, Sebastiana, fez o reconhecimento formal, de forma presencial, no IML, por volta das 17h.
Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) confirmou a chegada do cadáver dele ao instituto.
“Após identificação, o IML procedeu à liberação do corpo para os familiares, que optaram por só retirá-lo no sábado (6)”, informou o comunicado.
Medidas
Em entrevista, o advogado Rosano Apolinário da Silva disse que a família estava avaliando quando e onde seriam realizados o velório e o enterro.
A enteada Roberta Alves disse que a família estava buscando apoio. “Soubemos que poderemos pedir o Auxílio-Funeral ao governo e vamos fazer isso”, disse.
Rosando Apolinário também disse que a família buscava apoio financeiro para os funerais. “Poderemos fazer no sábado ou no domingo (7)”, afirmou.
O defensor afirmou que a família de Amilton está muito abalada com tudo o que aconteceu. “Eles não tiveram o direito a velar e enterrar o parente, com o deveriam. A outra família também sofreu. Vai ter que passar por tudo pela segunda vez”, declarou.
Sobre as investigações, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que a Delegacia do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife, “tomou as devidas providências”.
Informou, ainda, que foi solicitada uma perícia papiloscópica, realizada pelo Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB).
A respeito da possível ação anunciada perla família de Amilton, a PGE disse que “irá se manifestar nos autos do eventual processo”.
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Entenda o caso:
A denúncia da troca de corpos foi feita no dia 27 de julho. Roberta Alves, enteada do aposentado, contou, na época, que a mãe dela, que viveu com Amilton durante nove anos, não teve permissão para liberar o corpo. Ela não tinha certidão de casamento nem documento formal que atestasse a união.
Foi a partir dessa dificuldade que teve início a confusão, segundo Roberta. A enteada lembrou que que ele morreu às 16h44 do sábado. A família só soube de noite, por volta das 20h. “No domingo (24), eu e a minha mãe, Sebastiana, fomos ao Serviço Social, por volta das 7h”, afirmou.
Depois, Roberta e a mãe foram até a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde Amilton tinha ficado internado. Confirmaram o óbito e souberam que era necessário ir ao necrotério do hospital.
Nesse momento, a família soube que só um parente de primeiro grau poderia fazer a liberação. Um funcionário, no entanto, disse que Roberta poderia tirar uma foto da Declaração de Óbito para poder registrar o Boletim de Ocorrência na polícia.
“Quando vi, tinha escrito no documento que o corpo era de uma pessoa branca. Seu Amilton não era branco. Achei estranho. Foram checar a identidade e só autorizaram a retirada do corpo na segunda (25), com um irmão dele”, afirmou Roberta.
Também em julho, o advogado Rosano Apolinário da Silva afirmou que, além de tudo isso, o corpo que foi entregue aos parentes de Amilton tinha características bem diferentes das que ele apresentava.
“O corpo que entregaram tinha as duas pernas e seu Amilton tinha sofrido uma amputação de um membro inferior”, observou.
Secretaria
No dia da denúncia, a Secretaria Estadual de Saúde informou que as tarjetas de identificação dos pacientes foram colocadas corretamente e que todos os demais trâmites de identificação “foram seguidos adequadamente pela equipe do hospital”.
No comunicado, a SES-PE disse que um dos corpos foi “reconhecido oficialmente por um familiar”, que realizou a liberação no mesmo dia.
O segundo cadáver foi reconhecido na terça-feira. Essa informação foi contestada pela família de Amilton, que disse ter liberado o corpo um dia antes.
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