Por Folha de Pernambuco – A situação da Igreja de Santo Antônio, localizada na rua do Imperador, Centro do Recife, é desoladora, principalmente para fiéis que já encontraram no templo do padroeiro da cidade a paz e a segurança com a sua religião.
Interditada desde 26 de fevereiro por problemas estruturais, ela precisa cada vez mais de uma intervenção para que possa, mais uma vez, fortalecer a fé e a crença de um futuro melhor.
O principal problema da estrutura é o telhado, que está com o madeiramento em deterioração. Após vistoria da Defesa Civil do Recife, em fevereiro, foi confirmado o risco de desabamento. A interdição das celebrações religiosas na igreja foi por precaução, pois se temia que algum acidente pudessem acontecer durante as missas.
Situação crítica
Tombada desde 1938 como Patrimônio Histórico Nacional, o Convento e Igreja de Santo Antônio é responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que deve participar de toda obra ou serviço de recuperação estrutural a ser realizado.
Em 2018, foi feito um estudo, junto ao instituto e à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), para avaliação do telhado. Passados sete anos, a diferença é gigantesca. “O estrago se alastrou, então decidimos chamar novamente o Iphan, a Defesa Civil do Recife e a Fundarpe para uma visita técnica, no último dia 11 de fevereiro. Nessa visita, eles viram o registro, receberam nossas informações e deram um parecer para que não mais tivéssemos celebrações na Igreja, e que deveríamos esperar sair o laudo da Defesa Civil para sabermos se poderíamos reabrir o espaço”, contou o frei Edilson dos Santos, guardião do Convento e Igreja de Santo Antônio.
Quando o laudo saiu, o resultado não foi bom, muito pelo contrário. Por meio de nota, a Defesa Civil do Recife afirmou à reportagem que “os técnicos recomendaram a interdição do trecho afetado até que os responsáveis pelo imóvel executem os serviços necessários de recuperação, com profissionais habilitados”.
O trecho interditado mencionado pela Defesa Civil corresponde à chamada nave da igreja, estrutura que fica justamente sob os bancos ocupados pelos fiéis nas celebrações. O altar do templo segue liberado, mas também está infestado por cupins.
Além disso, os frades procuram por recuperação das colunas, que estão em processo de desintegração, e uma pintura geral para o convento.
Missas seguem acontecendo
Apesar da interdição da igreja, as missas continuam sendo celebradas, agora dentro da capela interna localizada no claustro do Convento. Os momentos acontecem nas terças, sábados e domingos.
O objetivo é garantir que as cerca de 300 pessoas que passam por dia pelo local possam manter suas atividades religiosas de forma segura. A medida segue até que a Igreja de Santo Antônio seja regularizada e o espaço possa ser novamente utilizado de maneira adequada. “Tivemos que nos adaptar. Dissemos à comunidade que não iríamos parar nossas celebrações, confissões e atendimentos aos pobres. O projeto social acontece todas as terças-feiras. Assim vamos caminhando para que, o mais breve possível, essa igreja possa reabrir novamente”, completou o frei Edilson dos Santos.
Relevância cultural
O Convento e Igreja de Santo Antônio, aberto em 1606, é a mais antiga construção do Recife e segue de pé até hoje. “É um patrimônio que não só é religioso, como também artístico, que contribuiu para o Recife, Pernambuco e o Brasil como um todo”, começou o frei Vitor Batista, que também é arqueólogo.
“A importância desta Casa do Padroeiro do Recife é muito grande para os pobres que residem aqui na Rua do Imperador e, com fé, recorrem ao Pai dos Pobres. O Convento carrega um acervo imenso de arte, então a preservação desse patrimônio nos leva a pensar na posteridade para que todas as próximas gerações possam também usufruir desse espaço”, completou.
“Aqui é a nossa história. Há mais de 400 anos, temos uma história enraizada e nascida na cultura pernambucana. Esse espaço já recebeu grandes eventos do Estado, e aqui guardamos a religiosidade do pernambucano. Uma devoção antoniana que se espalha por todo o Estado”, explicou o frei Edilson.
Próximos passos
Os frades do convento seguem em contato com o Iphan para saber os próximos passos dos serviços de restauro da estrutura.
Em nota enviada à reportagem, o Iphan disse que, na vistoria, “foram constatadas manifestações patológicas por ausência de conservação nas alvenarias externas e internas, nos forros e pisos da edificação, tais como: fissuras, perda de material, sujidade e biofilme, manchas de umidade e presença de vegetação”.
E também esclareceu que “o proprietário possui responsabilidades na conservação do patrimônio histórico”. Leia o comunicado na íntegra: “O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informa que em 11 de fevereiro de 2025, a pedido da Província Franciscana e em conjunto com a Defesa Civil, realizou vistoria técnica no conjunto do Convento e Igreja de Santo Antônio do Recife, bem tombado em nível federal por esta autarquia.
Foram constatadas manifestações patológicas por ausência de conservação nas alvenarias externas e internas, nos forros e pisos da edificação, tais como: fissuras, perda de material, sujidade e biofilme, manchas de umidade e presença de vegetação.
Cabe informar que no dia 17 de fevereiro de 2025 a Defesa Civil do Município de Recife também realizou vistoria técnica no imóvel recomendando, em caráter de urgência, a “Recuperação e/ou reforço dos elementos estruturais da coberta da nave principal” e “Interdição da nave principal até que sejam realizados todos os serviços de recuperação da coberta e forro recomendados”.
A reportagem entrou em contato com a Fundarpe, para saber se alguma medida do Estado pode ajudar na questão. Ainda não houve retorno.