Do Fantástico — Imagens inéditas obtidas pelo Fantástico mostram o que aconteceu no prédio no Recife de onde Miguel Otávio, de 5 anos, caiu do 9º andar, nos minutos seguintes à queda da criança (veja vídeo acima). O relógio marcava 13h13 do dia 2 de junho. Após um passeio rápido com a cachorra dos patrões, Mirtes Renata Santana de Souza, mãe do menino, pegou o elevador para subir de volta ao 5º andar, quando o zelador do edifício entrou avisando que alguém tinha acabado de cair do prédio.
O circuito de câmeras de segurança do prédio mostram que, logo que saíram do elevador, Mirtes e o zelador foram ao local da queda. “Chega deu aquela dor no peito. Ainda apertou no botão errado de tão nervoso que a gente ficou. Saí correndo puxando a cadela. Era meu filho que estava lá estirado no chão”, disse Mirtes.

O menino tinha caído dois minutos antes de uma altura de 35 metros. “Pedi tanto a Jesus e Nossa Senhora que tirasse minha vida e desse a ele. Nisso, veio o encarregado, segurou a mão de Miguel, ficou fazendo oração pedindo para Miguel respirar”, contou a mãe da criança.

O encarregado a que Mirtes se refere é o gerente de operações do condomínio, Thomaz Silva, que prestou depoimento à Polícia Civil na sexta-feira (12).
“Quem fez os primeiros socorros na criança fui eu. Foi uma cena muito triste, muito chocante. Infelizmente, eu senti o garoto indo embora. Ele apertou minha mão e eu dizendo a ele, aperta minha mão, aperta a mão do tio, a gente ainda vai jogar bola, reage, reage”, afirmou o funcionário após ser ouvido pelo delegado Ramon Teixeira, que investiga o caso.

Na entrevista exibida no Fantástico em 7 de junho, Mirtes relembrou tudo o que viveu naquele dia. Não pensou que podia ser o seu filho. Mas, ao chegar no local da queda, encontrou Miguel, único filho de Mirtes e único neto de Marta Maria Santana Alves.

Mãe e avó do menino moram juntas, agora sem o menino, mas a casa ainda está cheia de recordações que ele deixou por toda parte. “As paredes estão um pouco descascadas porque ele pegava as ferramentazinhas e queria brincar de pedreiro”, contou Mirtes.
Miguel brincava muito em todos os cantos da casa e na frente dela. Andava de patinete, de bicicleta, jogava bola. Só não gostava de ficar preso em casa. Quando Mirtes precisava sair e por algum motivo não podia levar o filho, ele aprontava.
“Subia na grade, ficava gritando mamãe, me leva, me leva. Escalava a grade, ficava balançando a grade direto. Era cheio de energia”, declarou a mãe.

No dia 2 de junho, a mãe precisou levá-lo com ela para o trabalho. “Eu disse: ‘Sari, vou descer com Mel porque já passou um pouquinho do horário dela descer. Miguel ficou chorando um pouquinho. Eu disse: ‘Não, filho, fica aí que, daqui a pouco, mamãe volta’. Eu disse a ele ‘mamãe já volta’ três vezes”, disse.
Mirtes contou que Miguel ainda estava com pulsação. Ela deitou ao lado dele. Um minuto depois da queda, a patroa de Mirtes chegou ao local. Sari Corte Real é casada com Sérgio Hacker (PSB), prefeito do município de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco. A patroa olhou pra cima, conversou com o funcionário, falou com Mirtes e levou as mãos ao rosto.

“Um morador lá do prédio, ele é médico, foi lá, olhou meu filho e disse ‘ele tá vivo ainda, ele precisa ser socorrido logo’. A minha ex-patroa disse ‘a gente leva, a gente leva’”, afirmou Mirtes.
Sari subiu para pegar a chave do carro. Três minutos depois, ela desceu. O elevador parou no térreo e ela demorou a sair. Em seguida, foi até Mirtes, a quem consolou com um abraço. “Aí pegaram Miguel com todo cuidado do mundo”, disse a mãe do menino.
E desceram até a garagem para colocá-lo no carro. O menino chegou vivo ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, no Centro do Recife, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade de saúde.

Um vídeo divulgado no dia seguinte revelou como Miguel chegou até o 9º andar do edifício. O menino entrou no elevador de serviço, e a patroa da mãe aperta o botão que leva à cobertura. Sozinho, ele apertou vários botões. Parou primeiro no sétimo andar, mas não desceu. Subiu mais dois andares, saiu e abriu uma porta. Apenas um minuto depois, ele caiu no térreo.
“Ela [a patroa] disse, no hospital, que ele tinha fugido do apartamento e estava driblando ela. Que entrou no elevador e não deu tempo dela segurar a porta”, disse Mirtes, emocionada.
Sari foi autuada em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e pagou fiança de R$ 20 mil para responder ao processo em liberdade. Em nota, o advogado afirmou que a ex-patroa de Mirtes aguarda a intimação para depor e que ela está profundamente abalada e que é solidária ao sentimento da família.
As câmeras de segurança registraram que, antes de subir sozinho, Miguel entrou outras quatro vezes nos elevadores e foi convencido por Sari a sair.

“A assistente social veio falar para fazer a ficha de Miguel e eu fui. Fiz a ficha, ela pegou minha identidade, perguntou como tinha sido. Quando foi depois, a enfermeira pediu para sentar. Aquela dor no meu peito foi apertando, apertando mais ainda. Ela disse que meu filho não resistiu. Que meu filho não tinha resistido. Agora só me resta é a dor. Não vou ter mais meu filho junto de mim. Os planos que fazia pro meu filho foram interrompidos por uma falta de paciência”, contou Mirtes.
A manicure que estava atendendo Sari em casa no momento da queda de Miguel também prestou depoimento à polícia na sexta-feira (12), mas não quis dar entrevista. Na segunda-feira (8), os peritos voltaram ao prédio e foram categóricos: “Foi acidental”, disse o perito criminal André Amaral, do Instituto de Criminalística de Pernambuco.

A porta que ele abriu dá em um corredor com uma janela. É o único acesso à área de onde ele caiu. Segundo a perícia, o menino escalou a janela e usou a condensadora de ar-condicionado como escada para descer do outro lado. Depois, subiu na grade. Uma das hastes se soltou. Ele se desequilibrou e caiu.
O condomínio de luxo, no Centro do Recife, é um dos metros quadrados mais caros da capital pernambucana. Tem 126 metros de altura. São 38 andares. Cada um com dois apartamentos de quase 250 metros quadrados.

A área que o Miguel acessou é chamada de laje técnica, que é uma varanda pequena, do lado de fora de cada apartamento, onde ficam as condensadoras — aquela parte externa do ar-condicionado. Além de evitar a poluição visual da fachada, esse espaço é mais seguro para os técnicos que fazem a manutenção do equipamento.
O menino caiu da laje técnica do 9º andar. No 7º andar, onde o elevador abriu primeiro, mas ele não saiu, a área tem uma tela de proteção.
Em nota, a polícia afirmou que só vai se pronunciar quando o inquérito for concluído. O prazo é de até 60 dias.