Por André Beltrão – A disputa envolvendo a milionária mansão na ilha de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, do jogador de futebol da seleção brasileira Richarlison de Andrade, responsável por marcar dois gols na estreia do time na Copa do Mundo no Catar, expôs a relação fraternal e societária entre o advogado do PT Eugênio Aragão e o advogado da família Bolsonaro, Willer Tomaz.
Enquanto manifestantes bolsonaristas saíam às ruas contra a vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu um terceiro mandato presidencial em janeiro, um dos principais advogados do partido do novo mandatário atua para tentar tomar a posse do imóvel do jogador brasileiro em favor do sócio, o também defensor, Willer Tomaz.
O local é desejo de consumo do senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que já esteve hospedado na residência com vários amigos.

Dados obtidos no portal da OAB Nacional mostram que ambos são sócios em um escritório de advocacia. Eles, contudo, se uniram para tentar adquirir, de forma questionável, a residência na ilha paradisíaca.
O caso começou após o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e sócio de Willer Tomaz, frequentar o local e elogiar a mansão que, anos antes, chegou a passar por uma reforma milionária, ganhando até um heliponto.
A posse do imóvel de 1.435,50 m² de área construída em um terreno de 4.409,00 m², porém, está em nome da empresa Sport 70 Intermediação de Negócios Ltda, na qual Richarlison possui 75% da participação societária.

O processo
Representando a empresa M. Locadora de Veículos e Transportes Turísticos Ltda por meio de uma procuração que teve sua destinação questionada por uma das então donas do negócio privado, o advogado Eugênio Aragão iniciou a investida contra os atuais donos do imóvel na Justiça do Rio de Janeiro.
O também advogado do PT alegou que, “por mais de 35 anos” o direito de ocupação tinha sido exercido pela empresa M Locadora, mas desconsiderou o fato de que o imóvel fora vendido aos novos proprietários pela mesma empresa.
Contra a argumentação do petista, o escritório Ricardo Horácio & Advogados Associados, que defende o jogador, argumentou em 18 de maio de 2022 que, após a compra em fevereiro de 2011, o imóvel chegou a ser reformado e transformado em um local de luxo após reformas movidas pelos novos proprietários e que a tentativa de se usurpar a residência “beira a má-fé”.
“Não se pode ignorar o princípio da realidade, a Ré possui posse justa, mansa e pacífica há mais de 10 anos. Onde estava a agravada durante todo esse período? Qual a urgência em se deferir a reversão da posse em favor de quem já não exercia há mais de 10 anos?”, argumentou os advogados da Sport 70.
Antes do recurso apresentado pelo advogado Eugênio Aragão para tentar adquirir a posse do imóvel, a mansão foi reconhecida ao jogador pela 2ª Vara Cível de Angra dos Reis (processo nº0000223-07.2021.8.19.0003) e pelos desembargadores do estado por meio de um Agravo de Instrumento (nº 0007317-15.2021.8.19.0000).
O processo movimentado pela petista em favor de uma atuação de Willer Tomaz para adquirir a residência, contudo, foi questionada por Maria Alice, ex-sócia que chegou a deter 66% da participação da M Locadora e que teve sua procuração usada, segundo ela, de forma abusiva.
A ex-proprietária do local também chegou a registrar um Boletim de Ocorrência, obtido pela reportagem, contra os próprios advogados alegando ser vítima da trama orquestrada por Aragão e Tomaz.
Com o registro na delegacia Idoso Santos, em São Paulo, no dia 9 de junho, Maria Alice renunciou os serviços prestados pelo advogado do PT, passando a contratar um novo escritório para mover uma representação criminal contra Donato Galvez, seu antigo sócio na propriedade, por estelionato. Maria Alice diz ter sido vítima de uma falsificação em sua assinatura.
A ideia de Eugênio Aragão, porém, era de conseguir novamente o direito de posse à empresa M Locadora para que o local pudesse ser vendido desta vez à empresa WT Administração de Imóveis e Bens S/A, na qual o nome faz referência às iniciais de Willer Tomaz.

O próprio escritório de Willer Tomaz chegou a acionar o Poder Judiciário do Rio argumentando que já havia adquirido o imóvel da M Locadora, mesmo sabendo que a certidão do imóvel estava bloqueada no cartório sob ordem do juiz da causa.
O curioso é que antes de tentar adquirir a mansão da M Locadora, Willer Tomaz, em uma conversa na rede social WhatsApp, também obtida pela reportagem, procurou representantes da empresa Sport 70, atual detentora do imóvel, para tentar negociar um valor pelo local.
Dessa forma, alega a defesa do jogador, mesmo sem que o negócio tenha sido fechado, o advogado da família Bolsonaro teria reconhecido a legítima posse de Richarlison.







