Por *Patrícia Raposo- A demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, não só expõe uma ferida grave no governo Jair Bolsonaro, mas confirma o que muitos já haviam constatado: temos um presidente bem mais preocupado com seus seríssimos problemas domésticos, do que com a gravíssima situação nacional.
Num momento em que precisamos de um líder para conduzir o País em direção à mitigação dos efeitos mortais da Covid-19 e seus danos sobre a economia, o presidente se detém sobre problemas que vão da autoafirmação a uma aparente interferência política sobre a Polícia Federal. As razões ainda precisam ficar claras.
Mas tudo pode piorar. Se os sinais que veem do Ministério da Economia se confirmarem, o incêndio ficará descontrolado, como alguns já estão antevendo.
Nesta semana, o governo a anunciou um plano para a retomada econômica, o Plano Pró-Brasil, sem a presença do ministro Paulo Guedes e da sua equipe. No seu lugar estava o ministro-chefe da Casa Civil, General Braga Neto. Um anúncio desta natureza sem a presença dos gestores da pasta intrigou o mercado.
E não foi só isso. Apelidado de Plano Marshall, ele veio numa hora um tanto inconveniente. Estamos em quarentena há um mês e diariamente os empresários de todo o Brasil reclamam que não estão conseguindo crédito bancário para enfrentar as consequências do lockdown.
Estão sem capital de giro, sem encomendas, sem vendas, adiando impostos, negociando dívidas, dando férias coletivas para não demitir – e muitos já partiram para isso – se virando como podem para fazer seus negócios sobreviverem.
Só o segmento de bares e restaurantes contabiliza 200 mil demissões no Brasil. Inúmeras empresas já perderam mais de 70% de seu faturamento, inclusive na indústria, que não foi obrigada a paralisar suas atividades. Como falar de recuperação sem ao menos saber o que vai sobreviver para ser recuperado?
Lançar um plano de recuperação econômica neste cenário desolador é o mesmo que dar munição para soldados desarmados no campo de batalha. Não à toa, plano o foi muito criticado pela classe empresarial, sendo taxado de “vazio”, “superficial”, “inexequível”, “uma carta de intenção”.
O Brasil precisa urgentemente de um bombeiro que assuma o comando deste incêndio e trace de fato um plano, mas um plano que promova a integração da Nação em torno do propósito único, que é combater os efeitos da pandemia em todas as suas vertentes.
“Lançar um plano de recuperação econômica neste cenário desolador é o mesmo que dar munição para soldados desarmados no campo de batalha”
Mas nossa situação é inversa. Nos encontramos sem perspectivas e enfrentando diversas crises ao mesmo tempo – na saúde, na economia e na política. Um cenário bem parecido com o que vivemos no governo anterior, quando o Jair Messias surgiu como salvador da Pátria.
Mas, levados pela emoção, pela dualidade direita x esquerda e lutando a qualquer preço para se livrar do PT, muitos não se deram ao trabalho de analisar sua biografia e sua personalidade. Não é por ser militar, ou por ser de direita, mas por ser despreparado, inclusive emocionalmente. Invariavelmente se comporta como menino teimoso e mimado. A imaturidade do senhor Bolsonaro tem nos custado caro.
Neste momento, caminhamos para o aprofundamento da crise política, o que pode nos levar a um desgastante processo de impeachment. Se mergulharmos neste cenário, as incertezas irão se multiplicar, os impactos econômicos serão duplamente imensuráveis. Se nas condições atuais Bolsonaro já se perdia nos meandros do governo, imaginem como será estando com a cabeça a prêmio. É tudo que não precisamos. Mas agora, a porteira foi aberta. E foi o próprio Bolsonaro quem decidiu escancará-la.
*Patricia Raposo é jornalista, fundadora do Movimento Econõmco, consultora de Comunicação, com atuação em gestão de crise