Do Estadão – O investimento feito pelo banqueiro Daniel Vorcaro para deter parte da SAF do Atlético-MG, entre 2023 e 2024, tem origem em fundos de investimento investigados pelo Ministério Público de São Paulo, sob suspeita de servirem para lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio do PCC.
Documentos disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que o Galo Forte FIP, veículo usado por Vorcaro para adquirir 26,9% da Galo Holding SA, pertencia a uma fileira de fundos — em que cada um pertence a outro, em modelo “fundo sobre fundo” idêntico ao investigado na Operação Carbono Oculto.
Procurado pelo Sport Insider, o Atlético-MG informou que o Galo Forte FIP é um veículo constituído e regular perante a CVM, administrado pela Trustee Distribuidora de Títulos Mobiliários Ltda. “Contexto no qual o Atlético não tem conhecimento de quaisquer irregularidades”, disse em nota.
O Atlético-MG se posicionou por meio de nota:
“O Galo Forte Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia é um veículo de investimento devidamente constituído e regular perante a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”), sob administração da Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários LTDA. A Trustee é uma empresa igualmente registrada perante a CVM. Referido fundo figura como acionista da Galo Holding S.A., contexto no qual o Atlético não tem conhecimento de quaisquer irregularidades.”

A Reag afirmou em nota que, como prestadora dos serviços de administração, ela é apenas administradora dos fundos citados.
“No Brasil, a administradora de um fundo de investimento é a instituição legalmente responsável pela constituição, funcionamento e representação do fundo perante terceiros e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Ela não é ‘dona’. Adicionalmente, informamos que o negócio de prestação de serviços de administração está em negociações adiantadas para sua venda a outra empresa.”
O Banco Master, comandado por Vorcaro alegou não ter relação com os fundos.
“O Banco Master não tem qualquer relação com os fundos Hans 95 e Olaf 95. Essas estruturas não integram o grupo e não possuem vínculo societário com o Banco ou com quaisquer de seus executivos. O fundo Galo Forte FIP é de propriedade de Daniel Vorcaro, pessoa física — informação pública e amplamente divulgada na mídia, inclusive após análise do CADE. A Reag Investimentos é prestadora de serviços, assim como ocorre com centenas de outros clientes”, disse o Master, em nota.
O fluxo do dinheiro
No topo da cadeia, estão os fundos Olaf 95 e Hans 95. Ambos são geridos pela Reag Investimentos e se tornaram alvos da investigação. Em agosto, a operação realizou busca e apreensão na sede de ambos, em um escritório na Faria Lima, em São Paulo.
Não é possível descobrir quem são os cotistas de um fundo no sistema da CVM; apenas quais investimentos compõem a sua carteira. Não se pode determinar os proprietários formais do Galo Forte FIP, por exemplo. Sabe-se que Vorcaro é responsável pelo veículo porque ele foi tratado publicamente como tal.
O Sport Insider mapeou a cadeia ao analisar os documentos no sentido contrário. Primeiro, com a carteira de investimentos do Olaf, que fez aportes no fundo Hans, que por sua vez investiu no Alepo, que investiu no Maia, que investiu no Astralo, que por fim chega ao Galo Forte.
Os valores que constam na documentação da CVM batem com números divulgados pelo Atlético-MG. Daniel Vorcaro aportou R$ 100 milhões para se tornar sócio da SAF em novembro de 2023. Depois, em julho de 2024, ele investiu mais R$ 200 milhões. O registro do Galo Forte no órgão mostra patrimônio de R$ 300 milhões.
Por meio do Galo Forte, o banqueiro adquiriu participação de 26,9% sobre a Galo Holding SA, empresa criada para comprar o controle da SAF atleticana. A Galo Holding ainda tem 55,7% detidos por Rubens e Rafael Menin, 8,4% por Ricardo Guimarães e 9% pelo FIGA (Fundo de Investimento do Galo), que reúne aportes de vários torcedores e tem a participação de Renato Salvador. Nenhum desses banqueiros e investidores faz parte do escopo da investigação.
De acordo com o MP-SP, em referência a Hans e Olaf, “os fundos de investimento são apontados como um pilar central na estrutura do crime organizado sob apuração, sendo instrumentalizados para diversos propósitos criminosos, principalmente a ocultação e a lavagem de capitais.”
Os fundos tinham características comuns, como cotistas únicos e o objetivo de “criar camadas sobrepostas para dificultar ou impedir a identificação do beneficiário final”.
Documentos enviados à CVM mostram que, em novembro de 2024, o fundo Olaf tinha patrimônio líquido de R$ 19 bilhões e investia exclusivamente no Hans. É o registro mais recente disponível no sistema. Já o fundo Hans tinha em março de 2025 um patrimônio maior, de R$ 35 bilhões, e carteira mais variada, dividida entre três outros fundos: Alepo, Anna e Sven.
Olaf, Hans, Anna e Sven são personagens do filme Frozen.
Praticamente todo o patrimônio do fundo Alepo, em março, estava investido em cotas do Maia, enquanto o Maia concentrava 93% de seu investimento no fundo Astralo. Em comum a todos esses fundos de investimento, está a gestão da Reag.
Só no Astralo é que a carteira de R$ 15 bilhões oriunda do Olaf se diversifica, com aportes em 35 outros fundos — entre eles o Galo Forte, que tem o Astralo como único cotista. Desde que foi estruturado, em 2023, o Galo Forte apenas investe na Galo Holding SA. A empresa, por fim, detém 75% da SAF do Atlético-MG.









