Por Ricardo Noblat – É sobre petróleo a viagem do presidente americano Joe Biden a Israel. Ou melhor: era, até que um míssil de origem incerta matou mais de 500 palestinos abrigados no maior hospital de Gaza – uns doentes e feridos, outros em busca de proteção.
Se hospital não é lugar a salvo de bombas durante uma guerra, escola também não é, igrejas e mesquitas tampouco, onde os civis de Gaza, sob intenso fogo de Israel há mais de 10 dias, poderão sentir-se relativamente seguros? Pelo jeito, em lugar algum.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que o míssil foi lançado pelas Forças de Defesa de Israel. O governo de Israel negou: o míssil teria sido lançado pela Jihad Islâmica, grupo radical que apoia o Hamas. A Jihad negou. Por que, diabos, atacaria um aliado?
Para Daniel C. Kurtzer, ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel que agora leciona na Universidade de Princeton, a explosão em Gaza colocou Biden numa posição desconfortável:
“Biden está caminhando para uma situação ainda mais catastrófica do que esperava. Palestinos e árabes não vão acreditar que a tragédia do hospital não é obra de Israel, e a percepção torna-se realidade.”
Kurtzer aposta que a conversa entre Biden e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, agora se tornará mais desafiadora:
“A mensagem de Biden tem que ser muito simples: ‘Na semana passada vocês estavam no foco, agora vocês são o foco negativo’”.

No 7 de outubro, o Hamas invadiu Israel, matou 1.300 israelenses e sequestrou entre 200 e 250, escondendo-os em Gaza. À entrada do 12º dia de guerra, Israel está sendo obrigado a defender-se da acusação de que disparou um míssil contra um hospital.
Mas não só. É acusado de bombardear milhares de palestinos do Norte de Gaza que, em atendimento à sua ordem, deslocaram-se para o Sul do enclave. Israel quer despovoar o Norte para por ali entrar em Gaza. Os deslocados não encontraram paz no Sul.
Israel é acusado de não permitir ajuda humanitária a Gaza, onde o estoque de comida e de remédios está no fim, as usinas que produzem energia já não funcionam, e, por falta de água para beber, as pessoas começam a desidratar, segundo a ONU.

Israel caiu na armadilha do Hamas que esperava uma retaliação monstruosa capaz de chocar o mundo e de virar a opinião pública a favor dos palestinos. É isso o que acontece, e é por isso que a viagem de Biden mudou de natureza antes mesmo do embarque.









