Por Claudemir Gomes – A primeira notícia encontrada, quando iniciei a rotineira navegação pelas redes sociais, foi sobre a morte de João Caixero de Vasconcelos Neto, um dos maiores amantes do Santa Cruz Futebol Clube.
Cá pensei: os amigos estão equivocados. Joca é imortal! Em silêncio comecei a recordar como nossa amizade foi construída e consolidada. Uma lágrima escorre pelo meu rosto numa advertência de que a emoção precisa ser controlada.
Caixero não costumava ir ao sepultamento dos amigos. Um hábito adquirido de uns anos pra cá. Acredito que, por orientação médica. Também não irei ao seu meu velho! É duro demais lhe dizer adeus. Grandes acontecimentos não são apagados de nossas memórias. No longínquo 1976, o mestre, Adonias de Moura, me chama na redação do Diário de Pernambuco e fala como se estivesse me repassando uma pauta: “Quando fecharmos o caderno vamos fazer uma visita para eu lhe apresentar a alguns amigos”.
A visita foi a sede da Comissão Patrimonial do Santa Cruz, cujo domicílio a época era na Av. Dantas Barreto, no Edifício AIP. Fomos recebidos por João Caixero de Vasconcelos Neto, que na condição de bom mestre de cerimônia me apresentou a Aristófanes de Andrade, Marco Antônio Maciel, Rodolfo Aguiar, Henóque Coutinho, André de Paula, Vanildo Aires, Humberto Ribeiro… Ali estava a elite coral. Eram os pensadores que fizeram o Tricolor do Arruda apresentar os maiores índices de crescimento do futebol brasileiro nos anos 70.
A partir daquele dia Joca passou a ser um amigo, um consultor. Nossa amizade foi se estreitando, e ele me ensinou como separar o profissionalismo do pessoal. O exemplo prático era seu relacionamento com o então presidente da FPF, Rubem Moreira. Pareciam inimigos ferrenhos. Sempre que me alimentava de dados para fazer matérias criticando a política da Federação, fazia questão de ressaltar: “Rubem merece todo o nosso respeito. A briga aqui é FPF x Santa Cruz. Ele defende os interesses da entidade, e eu o do clube. Nada pessoal”.
Mais de uma vez lhe perguntei: Você ama mais a sua família ou o Santa Cruz?
Entre risos ele respondia: “Deixe de ser FDP”.
De uma coisa tenho certeza: Joca daria a vida por Lourdinha, sua mulher; pelas filhas e pelos netos. Assim como deu a vida pelo Santa Cruz Futebol Clube, agremiação a qual se dedicou por mais de meio século. Sempre procurou fazer o bem, dando o melhor de si para o Clube das Multidões. Mas se fosse necessário também faria o mal. Afinal, poucos dirigentes foram tão ardilosos e matreiros quanto ele.
Caixero se revelava através dos gestos. Nunca virou as costas para nenhum presidente do Santinha, embora tenha sido injustiçado e terrivelmente magoado pelos atuais gestores, mágoa que ele leva consigo para o tumulo.
Falar de João Caixero seria escrever uma nova edição do SANTA CRUZ DE CORPO E ALMA, obra literária que ele comandou por mais de 20 anos, e que tive o privilégio de concluir junto com os amigos, Lenivaldo Aragão, Humberto Araújo, José Neves Cabral e Deusdedith Antônio.
Por tudo que fez, e que nenhum outro será capaz de fazer, João Caixero de Vasconcelos Neto – Joca – é imortal nas Repúblicas Independentes do Arruda.
*CLAUDEMIR GOMES é jornalista.