Por Augusto de Franco
Um tribunal não pode ser tão irresponsável
Um tribunal não deve se vergar ao alarido da turbamulta. Do contrário a lei seria violada segundo os interesses de grupos mais mobilizados. Mas se um tribunal afronta um sentimento generalizado de revolta com a impunidade, seus membros não poderão reclamar da consequente rejeição social de que serão vítimas.
A dinâmica da manifestação de hoje – tenha muita ou pouca gente – é uma espécie de termômetro da opinião pública. Se o caráter militante e industriado não prevalecer e sim a indignação das pessoas comuns, isso será um sinal de que a opinião pública não está mais disposta a aceitar os arranjos escusos para manter a situação atual, mesmo que sob o argumento de cumprimento da letra fria da lei. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E quem tem juízo, pense bem no que está disposto a fazer.
O casuísmo para soltar Lula e todos os condenados em segunda instância enterrará, na prática, os esforços dos últimos anos para acabar com a impunidade. Não será apenas o fim da Lava Jato e sim um balde de água fria nas esperanças de milhões de brasileiros. Aumentará a polarização na sociedade e favorecerá os extremos à esquerda e à direita.
Lula impune e com autorização do STF para fazer campanha eleitoral significará, objetivamente, um reforço à campanha de Bolsonaro. Os democratas serão engolidos pela radicalização que virá. Um tribunal que, diga-se o que se quiser dizer, julga sempre politicamente, não pode ser tão irresponsável. Depois não reclamem das consequências.







