Extra – O brasileiro Wendell de Oliveira chegou há um mês em Kochi, no Sul da Índia, com os pais, irmão e a esposa, que está grávida. A intenção dele e da família era retornar ao Brasil, mas eles foram pegos de surpresa com o agravamento da crise do novo coronavírus. Em meio às medidas de contenção da disseminação da Covid-19 adotadas pela maioria dos líderes mundiais, os brasileiros e se viram “presos” à Índia, que decretou nesta semana o confinamento e proibição total do deslocamento dos 1,3 bilhão de habitantes.
Wendell é apenas um dos brasileiros que não consegue retornar ao Brasil por falta de voos ou por causa das políticas de isolamento adotadas pelos países nos quatro cantos do mundo. Grupos criados por pessoas na mesma situação dão conta de que ao menos 150 brasileiros na Índia e no Nepal não conseguem voltar. Ele conta que a restrição é “total”, não se pode sair de casa nem para comprar alimentos.
– Na nossa primeira semana aqui estávamos levando uma vida normal, inclusive indo ao hospital para fazer os exames de pré-natal. A polícia veio onde estávamos e nos proibiu de sair de casa, numa quarentena de 14 dias, que logo foi estendida por 28 dias. Nosso isolamento é total e não podemos sair nem para comprar comida. Até ontem dependíamos de serviços de entrega, mas com o lockdown muitos estabelecimentos fecharam totalmente. Já chegamos ao ponto de racionar comida, o que não é nem um pouco agradável.
O brasileiro afirma ainda que está preocupado com a esposa grávida e que não há previsão de uma resposta das autoridades indianas e brasileiras.
– A polícia ligou pra gente via videoconferência e nos fizeram gravar um vídeo “agradecendo pelo apoio” e que depois nos dariam um certificado de conclusão de quarentena para podermos sair. Mas ninguém fez nada e seguimos nessa situação alarmante.
Além da falta de informação e do dinheiro escasso – alguns já não conseguem se manter com itens básicos de alimentação e hospedagem -, estrangeiros que não conseguem retornar aos seus países estão sofrendo atos de xenofobia por parte, segundo eles, de moradores e autoridades indianas.
No Nepal, Nathan Chesini, de 28 anos, também não consegue voltar ao Brasil devido às restrições impostas pelo governo local. Ele e amigos apelam às autoridades brasileiras para serem repatriados ao país e poderem voltar ao Rio Grande do Sul, onde moram. Brasileiros não conseguem deixar Índia e Nepal por causa do coronavírus
Chesini está em uma vila chamada Lukla, na região do monte Everest. Segundo ele, todos as companhias aéreas internas estão “paradas” e sem perspectiva de voltar a operar.
– Estamos presos aqui nessa região que tem escassez de energia, água e recursos médicos. Nós precisamos voltar para a capital Kathmandu pra depois tentar voltar pra casa. A gente está fazendo um apelo para que as autoridades responsáveis nos ajudem nessa situação que é complicada.
Mariana Lemos está em Noida, cidade próxima a Nova Delhi, capital da Índia. Ela conta que a “situação está a cada dia pior”. Segundo Mariana, policiais passam nas ruas fechando todos os estabelecimentos e que, às vezes, quem está na rua é agredido com pedaços de madeira para retornaram para casa.
– O trabalho parou, o que dificulta tudo por falta de dinheiro. Todos os mercados estão fechados, comprar comidas e coisas de necessidades básicas está quase impossível. Estou no ponto de racionar comida por aqui. Estão mandando pessoas pra casa, às vezes batendo nelas com pedaços de pau. É extremo. Sem contar a reação negativa com os estrangeiros, que na visão deles, estamos todos contaminados. Já é motivo pra comentar de forma ofensiva e grosseira. Só queremos ir pra casa.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi decretou a quarentena total na terça-feira. Em um pronunciamento na TV, Modi diz que as medidas são para “salvar a Índia e cada indiano”.
“O país inteiro estará em completo confinamento. Para salvar a Índia e cada indiano, haverá uma proibição total de se aventurarem fora de suas casas. Cada estado, cada território da União, cada distrito, cada vilarejo e cada localidade estão sendo colocados sob confinamento. Sem dúvida, isso trará um custo econômico para a nação, mas salvar a vida de cada e de todos os indianos é prioridade para mim. O confinamento valerá por 21 dias”.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty ainda não se pronunciou.
Petição em busca da repatriação
Os brasileiros presos na Índia e no Nepal criaram uma petição virtual, em que pedem “ações que visem preservar a vida dos brasileiros hoje encontrados em situação de risco nestes dois países e promover a sua urgente e imedianta repatriação” ao Brasil.
Eles afirmam que estão sendo expulsos de hotéis, sofrendo ameaças de policiais e preconceito nos dois países. Os brasileiros dizem que mantêm contato com os consulados, mas ainda não receberam retornos positivos sobre a repatriação.