Por Danilo Duarte – Após incêndio que destruiu parte do Mercado da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, nossa equipe foi a campo investigar possíveis causas e como funciona o trabalho de prevenção a incêndios e pânicos na capital pernambucana. E a informação é de que não só o Mercado da Encruzilhada, mas a grande maioria dos centros comerciais públicos do Recife funciona sem alvará dos bombeiros.
“Só vão prestar atenção nesse detalhe quando tivermos mortos”, disse uma fonte ao falar sobre o problema.
Divulgada pelo nosso site, logo depois do incêndio que destruiu boxes e provocou desmoronamento de parte da estrutura do Mercado da Encruzilhada, no domingo (3), a informação foi confirmada, hoje, pelo Corpo de Bombeiros.
Diante disso, fica e claro que há um risco de se repetir na cidade a tragédia da Boate Kiss, do Rio Grande do Sul, que deixou quase 300 mortos, há dez anos.
Entramos em contato com o Corpo de Bombeiros, através da sua assessoria de imprensa e questionamos a respeito do Atestado de Regularidade (AR), ou Atestado de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento hábil para a comprovação de que uma edificação se encontra devidamente regularizada junto à instituição.
Veja o modelo de Alvará do Corpo de Bombeiros:

Os bombeiros disseram que, além da falta de alvará, o Mercado da Encruzilhada tinha outros problemas. A corporação informou que foi realizada uma vistoria em janeiro deste ano, e identificadas algumas irregularidades. Segundo informou, faltava água nos hidrantes e foi constatada ausência de projeto de combate a incêndio, além da quantidade de extintores ser menor do que o necessário pelo tamanho da área.
“Até o momento não houve retorno quanto à notificação. E em relação aos hidrantes e extintores, é responsabilidade do proprietário manter os equipamentos em boas condições”, disse em nota.
Responsável pelos hidrantes, a prefeitura do Recife disse que a rede de hidrantes do mercado estava em perfeito estado e que os extintores tinham sido renovados em agosto deste ano.
Informações repassadas ao nosso site dão conta de que, além do Mercado da Encruzilhada, faltam condições ideais de combate a incêndio nos centros de compras da Madalena, Afogados e Boa Vista. Nós tentamos falar com alguns deles, mas até o momento não obtivemos retorno. A Prefeitura também não deu detalhes sobre a situação dos outros Mercados.

Críticas à Imprensa
Uma fonte que não quis se identificar, criticou a postura de alguns profissionais da imprensa diante da realidade exposta após o incêndio do Mercado da Encruzilhada. Sem citar nomes, essa fonte acusou parte da imprensa pernambucana de ser omissa, por se calar e não mencionar que “os mercados públicos do Recife não possuem atestado de regularidade do Corpo de Bombeiros. Se estivesse dentro das normas do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico (COSCIP) certamente o incêndio teria sido evitado ou os danos seriam mínimos”, denunciou.
De acordo com essa fonte, além dos mercados, outros prédios públicos também estão oferecendo riscos à população. “O Fórum do Recife não tem AR e eu duvido muito que o prédio da Prefeitura e o Palácio do Governo tenham. Os bombeiros só ‘pegam no pé’ de shoppings e outros empreendimentos comerciais, pois as taxas que são pagas são elevadas. Até os prédios residenciais – que são igualmente obrigados – raramente têm. Mas a Taxa de Prevenção e Extinção de Incêndios (TPEI) chega todo ano junto com o IPTU”, protestou.
E alertou, “Quando houver uma “Boate Kiss” em Recife, quem vai assumir a culpa?”.
Nesta segunda-feira (4), a prefeitura do Recife informou que já começou estudo para recuperar a estrutura danificada e anunciou medidas para minimizar o impacto do incêndio ocorrido no Mercado da Encruzilhada. Entre as providências, estão o pagamento de um auxílio mensal de R$ 3 mil para os permissionários prejudicados, e suspensão da taxa mensal para todos os permissionários do Mercado.
A Prefeitura anunciou também que estes trabalhadores serão realocados para outras áreas enquanto uma obra emergencial de reconstrução da estrutura será realizada no local, com duração de cerca de 180 dias. O mercado está fechado para avaliação da estrutura pela Defesa Civil.